"Fazei, ó Senhor, que eu sinta com o coração aquilo que alcanço com a inteligência"
“Deus, rogo-vos, desejo conhecer-vos, quero amar-vos e poder regozijar-me em Vós. E se nesta vida não sou capaz disto na medida plena, que eu possa pelo menos progredir cada dia, até alcançar a plenitude”
“O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página”.
“Não tento, Senhor, penetrar a vossa profundidade, porque não posso sequer de longe comparar com ela o meu intelecto; mas desejo entender, pelo menos até um certo ponto, a vossa verdade, em que o meu coração crê e ama. Com efeito, não procuro compreender para crer, mas creio para compreender”.
“Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser”.
“O’ Virgem, que privilégio pode ser tido em maior consideração do que esse pelo qual és a mãe daqueles para os quais Cristo se digna de ser pai e irmão?”
Anselmo nasceu na Itália,
filho de nobres. Entregou-se cedo à virtude, tendo muito sucesso nos estudos.
Aos 15 anos já se preocupava com altas questões metafísicas e teológicas, e
quis entrar num mosteiro. Mas os monges negaram-lhe a entrada, por medo de
desagradar seu pai.
Não podendo ingressar na vida religiosa, Anselmo entregou-se
gradualmente aos prazeres mundanos. Com o falecimento de sua mãe, seu pai
tornou-se mal-humorado e violento. Anselmo fugiu de casa. Vagou pela Itália e
pela França, conheceu a fome e a fadiga, e chegou ao mosteiro de Bec, na
França, onde havia a escola mais afamada do século XI, dirigida por seu famoso
conterrâneo, Lanfranco.
Anselmo entregou-se então vorazmente ao estudo, esquecendo-se às vezes até
das refeições e recreação. “Seus progressos eram tão admiráveis quanto sua
amabilidade, e logo foi tido como um prodígio de saber e seus condiscípulos
creram que fazia milagres, por sua piedade e virtude”.
Apesar de todos seus sucessos, Anselmo tinha uma grande
perplexidade: “Estou resolvido a fazer-me monge; mas, onde? Pois bem,
far-me-ei monge onde possa pisotear minhas ambições, onde seja estimado menos
que os demais, onde seja pisoteado por todos”.
Em Bec foi ordenado sacerdote em 1060. Em 1066 foi eleito
Abade. Seu primeiro biógrafo, Eadmer, conta comovente cena ocorrida nessa
ocasião, típica da Idade Média: o eleito abade prosterna-se diante de seus
irmãos, pedindo-lhes com lágrimas que não o onerassem com aquele fardo,
enquanto os irmãos, também prosternados, insistem com ele para que aceite o
ofício.
Em Bec, “escreveu vários de
seus livros, que abrem um novo caminho para o estudo da Teologia e se
distinguem pela profundidade de pensamento, delicadeza de investigação, ousado
vôo metafísico que, não obstante, nunca se separa do terreno da fé
tradicional”.
Anselmo teve que viajar várias vezes para a Inglaterra, por interesses de
seu convento. Lá encontrou novamente Lanfranco, então Arcebispo de Cantuária. O
rei “Guilherme, o Conquistador, ele próprio tão temível e inacessível aos
ingleses, se humanizava com o Abade de Bec e parecia tornar-se todo outro em
sua presença”.
Em 1087, Guilherme II, o Ruivo, sucedeu seu pai no trono da
Inglaterra. Príncipe “que temia a Deus muito pouco, e nada aos homens”,
ele se apoderava das rendas das sés vacantes e não queria nomear novos bispos
para as preencherem.
Ora, Anselmo foi escolhido pelo povo para suceder Lanfranco
na sé de Cantuária. Porém o rei, por prepotência não permitia que ocupasse a sé
dizendo: “o Arcebispo de Cantuária sou eu!”.
A Providência resolveu o caso. Atacado por estranha doença, o rei temeu
por sua alma. Os prelados e barões então pressionaram-no para que não deixasse
mais vacante a Sé de Cantuária; e ele nomeou Anselmo.
Sucedeu então outra cena que só acontecia nos tempos
medievais: “Ele [Anselmo] foi arrastado à força até o lado do leito do Rei, um
báculo foi enfiado em sua mão fechada, e o Te Deum foi cantado”.
Entretanto, o arrependimento do rei foi-se com a doença. Apenas restabelecido,
tentou dobrar o Arcebispo. Começou uma verdadeira batalha entre altar e trono,
e Anselmo preferiu exilar-se no continente a ceder nos princípios.
Em Roma, Anselmo foi recebido por Urbano II, que o convenceu
a voltar para sua diocese. Mas antes participou do Concílio de Bari, em 1098,
do qual foi um dos luminares, desfazendo o sofisma dos gregos, que negavam que
o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.
Regressou à Inglaterra em 1100, a pedido de Henrique, que
sucedera no trono a seu pai, Guilherme, morto durante uma caçada.
Anselmo havia pedido ao Papa que lhe desse alguém a quem ele
pudesse se submeter em todas as ações, como um monge ao seu superior. O Papa
designou o monge Eadmer, que se tornou amigo íntimo, discípulo e biógrafo do
Santo.
Henrique II, querendo assegurar para si o trono em detrimento de seu irmão
mais velho, Roberto, que voltava da Cruzada na Terra Santa, restituiu à Igreja
todos seus antigos direitos. Por uma série de medidas assim também no campo
civil, obteve a simpatia do clero e povo em seu favor.
Quando Roberto chegou à frente de um exército, para
reivindicar seus direitos, o Arcebispo Anselmo obteve que os ingleses
permanecessem na fidelidade a Henrique II. Porém, para mostrar que não era
melhor que seu pai, na primeira oportunidade Henrique atacou Roberto de
surpresa, derrotou-o, e fez prisioneiro até o fim da vida.
A aliança entre Henrique II e Anselmo se rompeu devido à
contínua questão das investiduras.
Para resolver a questão, Santo Anselmo foi mais uma vez a
Roma. Mas ao voltar foi impedido de entrar no país. Permaneceu três anos no
desterro. Sob pena de excomunhão lançada pelo Papa, Henrique II chegou a um
acordo com o Arcebispo, que pôde voltar assim à sua Sé.
Os últimos anos da vida de Anselmo transcorreram em atividades para a
reforma de sua diocese e em trabalhos literários.
Na véspera de sua morte, lamentava que não tivesse tido tempo para escrever um
tratado sobre a origem da alma, tema sobre o qual meditava constantemente.
Faleceu no dia 21 de abril de 1109, sendo canonizado pelo Papa
Alexandre III e em 1720 foi declarado Doutor da Igreja.
Foi uma das mais lúcidas
mentes da filosofia escolástica, é o elo entre Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino.
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