"Os
povos e as nações de nossa Grande Pátria latino-americana hoje comemoram com
gratidão e alegria a festividade de sua “padroeira”, Nossa Senhora de
Guadalupe, cuja devoção se estende do Alasca até a Patagônia. E com o Arcanjo
Gabriel e Santa Isabel, até nós, eleva-se a nossa prece filial: “Ave Maria,
cheia de Graça, o Senhor é contigo…” (Lc 1,28).
Nesta festividade de Nossa Senhora de Guadalupe, faremos grata memória de sua
visita e materna companhia; cantaremos com Ela o seu “magnificat”; e lhe
confiaremos a vida de nossos povos e a missão continental da Igreja.
Quando apareceu a
San Juan Diego em Tepeyac, apresentou-se como a “perfeita
sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus”; e deu lugar a uma nova
visita. Correu pressurosa para abraçar também os novos povos americanos, numa
dramática gestação. Foi como “ um grande sinal no céu: uma mulher
revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze
estrelas” (Ap
12,1), que assumiu para si a simbologia cultural e religiosa dos indígenas,
anuncia e doa seu Filho aos novos povos de sofrida mestiçagem.
Muitos pularam de
alegria e esperança diante de sua visita e diante do dom de seu Filho e a mais
perfeita discípula do Senhor se tornou “a grande missionária que levou o
Evangelho à nossa América”. O Filho de Maria Santíssima, Imaculada grávida, se
revela assim desde as origens da história dos novos povos como “o verdadeiro
Deus, graças ao qual se vive”, boa nova da dignidade filial de todos os seus
habitantes. Já ninguém mais é servo, mas todos somos filhos de um mesmo Pai e
irmãos entre nós.
A Santa Mãe de Deus
não apenas visitou estes povos, mas quis permanecer com eles. Deixou impressa
misteriosamente a sua imagem sagrada no “manto” de seu mensageiro para que nos
recordássemos sempre, tornando-se assim símbolo da aliança de Maria com estes
povos, a quem se confere alma e ternura.
Por sua
intercessão, a fé cristã começou a ser o mais rico tesouro da alma dos povos
americanos, cuja pérola preciosa é Jesus Cristo: um patrimônio que se transmite
e se manifesta até hoje no batismo de uma multidão de pessoas na fé,
na esperança e na caridade de muitos, na preciosidade da piedade popular e
também no ‘ethos’ dos povos, visível na consciência da dignidade da pessoa
humana, na paixão pela justiça, na solidariedade com os mais pobres e
sofredores, na esperança, por vezes contra toda esperança.
Por isso nós, hoje,
podemos continuar a louvar Deus pelas maravilhas que atuou na vida dos povos
latino-americanos. “Deus escondeu estas coisas aos sábios
e entendidos e as revelou aos pequenos e simples de coração” (cf.
Mt 11,21). Nas maravilhas que o Senhor realizou em Maria, Ela reconhece o
estilo e o modo de agir de Seu Filho na história da salvação. Superando os
juízos mundanos, destruindo os ídolos do poder, da riqueza, do sucesso a todo
custo, denunciando a autossuficiência, a soberba e os messianismos
secularizados que afastam de Deus, o cântico mariano confessa que Deus se
compraz em subverter as ideologias e as hierarquias mundanas.
Enaltece os
humildes, auxilia os pobres e os pequeninos, sacia com bens, bênçãos e
esperanças os que confiam em sua misericórdia de geração em geração, enquanto
abate os ricos, os poderosos e os dominadores de seus tronos. O “Magnificat”
nos introduz nas Bem-aventuranças, síntese primordial da mensagem evangélica. À
sua luz, nos sentimos impulsionados a pedir que o futuro da América Latina seja
forjado pelos pobres e por aqueles que sofrem, pelos humildes, por aqueles que
têm fome de justiça, pelos piedosos, pelos puros de coração, por aqueles que
trabalham pela paz, pelos perseguidos por causa do nome de Cristo, porque
“deles será o reino dos Céus” (cf. Mt 5,1-11).
(...)Depositemos
estas realidades e desejos no altar como dom agradável a Deus. Implorando o Seu
Perdão e confiando em Sua misericórdia, celebramos o sacrifício e a vitória pascal
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é o único Senhor, o “libertador” de todas as
nossas escravidões e misérias derivadas do pecado. Ele nos chama a viver a
verdadeira vida, uma vida mais humana, uma convivência como Filhos e irmãos, já
abertas as portas “da nova terra e dos novos céus” (Ap 21,1).
Imploremos a
Santíssima Virgem Maria, em sua vocação guadalupana – a
Mãe de Deus, a Rainha, a minha Senhora, a minha jovenzinha, a minha pequena,
como a chamou San Juan Diego, e com todos os apelativos amorosos com os quais
se dirigem a Ela na piedade popular – para que continue a acompanhar, ajudar e
proteger os nossos povos. E para que conduza,
por mão, todos os filhos que peregrinam nessas terras ao encontro de seu Filho,
Jesus Cristo, Nosso Senhor, presente na Igreja, em sua sacralidade, e
especialmente na Eucaristia, presente no tesouro de sua Palavra e
ensinamentos, presente no santo povo fiel de Deus, naqueles que sofrem e nos
humildes de coração. Assim seja. Amém!"
Papa Francisco 12 de
dezembro de 2014
Os mistério da imagem de Nossa Senhora de Guadalupe - clique aqui
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