terça-feira, 8 de setembro de 2015

Natividade da Virgem Maria

A vinda do Filho de Deus à terra, foi preparada, pouco a pouco, ao longo dos séculos, através de pessoas e acontecimentos. Entre as pessoas escolhidas por Deus para colaborarem no Seu projeto de salvação, houve uma, à qual foi confiada uma missão única:

Maria, chamada a ser a Mãe do Salvador e cumulada, por isso, de todas as graças necessárias ao cumprimento dessa missão.
O nascimento de Maria foi, portanto, motivo de esperança para o mundo inteiro: anunciava já o de Jesus. Era a autora da salvação a despontar; «Ela vem ao mundo e com Ela o mundo é renovado. Ela nasce e a Igreja reveste-se da sua beleza». (Liturgia bizantina).

Não existe em parte alguma na Bíblia a preocupação em saber o dia em que Maria nasceu. Mas não se trata disto, evidentemente.  A festa de sua “natividade” segue outra lógica. Faz parte da constelação de celebrações, colocadas no ciclo de um ano, harmonicamente distribuídas, de tal modo que se relacionam entre si coerentemente.

Assim faz a liturgia. Se ela coloca o nascimento de Jesus, por exemplo, no dia 25 de dezembro, põe o nascimento de João Batista no dia 24 de junho, seis meses antes, de acordo com o Evangelho. Portanto, as datas se escoram no Evangelho como seu fundamento, mas se repartem no calendário de acordo com a providência da fé, que as recorda e as insere no cotidiano da vida.

Desta maneira, se colocamos a festa da “Imaculada Conceição” no dia oito de dezembro, é coerente que o nascimento de Maria seja celebrado no dia oito de setembro, isto é, nove meses depois do dia oito de dezembro. Assim, fica registrado o fato normal, do nascimento, como para qualquer pessoa humana. Mas ele fica ressaltado pelo testemunho do Evangelho, o qual garante que Maria foi “cheia de graça”, fundamentando a convicção de sua concepção imaculada.

Estas celebrações, cada qual com seu valor e sua intenção específica, acabam mostrando o mais importante: o mistério de Cristo ilumina agora toda a realidade e toda a história, que é simbolizada pelo ciclo de cada ano. Nossa vida agora é iluminada por Cristo, “o sol nascente”, que ilumina toda a humanidade.  E como a lua se encarrega de refletir a luz do sol, e torná-la mais humana e amena, assim Maria reflete em si mesma, e projeta para nós, a mesma luz de Cristo, na qual podemos reconhecer nossa própria vida.

Podemos gritar de alegria hoje:

“Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se os gregos destacavam com todo o tipo de honras – com os dons que cada um podia oferecer – o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito, uma ouviu a sentença divina: «Darás à luz no meio de penas»; a outra ouviu, por seu turno: «Alegra-te, oh Cheia de Graça». À primeira disse-se: «Inclinar-te-ás para o teu marido», mas à segunda: «O Senhor está contigo». Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens.”

São João Damasceno, discurso para o nascimento de Nossa Senhora Santíssima, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria.


 

 

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