Tomás More viveu uma
carreira política extraordinária no seu País. Tendo nascido em Londres no ano
1478 de uma respeitável família, foi colocado, desde jovem, ao serviço do
Arcebispo de Cantuária, João Morton, Chanceler do Reino. Continuou depois, em
Oxford e Londres, os seus estudos de Direito, mas interessando-se também pelos
vastos horizontes da cultura, da teologia e da literatura clássica. Criou
relações de intercâmbio e amizade com notáveis protagonistas da cultura do
Renascimento, como Erasmo de Roterdan.
A sua sensibilidade
religiosa levou-o a procurar a virtude através duma assídua prática ascética:
cultivou relações de amizade com os franciscanos e demorou-se algum tempo na
cartuxa de Londres. Sentindo a vocação para o matrimônio, a vida familiar e o
empenho laical, casou-se em 1505 com Joana Colt, da qual teve quatro filhos.
Tendo esta falecido em 1511, Tomás desposou em segundas núpcias Alice
Middleton, já viúva com uma filha. Ao longo de toda a sua vida, foi um marido e
pai afetuoso e fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e
intelectual dos filhos. A sua casa acolhia genros, noras e netos, e permanecia
aberta a muitos jovens amigos que andavam a procura da verdade ou da própria
vocação. Além disso, na vida de família dava-se largo espaço à oração comum e à
lectio divina, e também a sadias formas de recreação doméstica. Diariamente,
Tomás participava na Missa na igreja paroquial, mas as austeras penitências que
abraçava eram conhecidas apenas dos seus familiares mais íntimos.
Em 1504, no reinado de
Henrique VIII, foi eleito pela primeira vez para o Parlamento. O rei
renovou-lhe o mandato em 1510 e constituiu-o ainda como representante da Coroa
na Capital, abrindo-lhe uma carreira brilhante na Administração Pública. No
decênio sucessivo, Henrique VIII várias vezes o enviou em missões diplomáticas
e comerciais. Constituído membro do Conselho da Coroa, juiz presidente dum
tribunal importante, vice-tesoureiro e cavaleiro, tornou-se em 1523 porta-voz,
ou seja presidente, da Câmara dos Comuns.
Estimado por todos pela sua
integridade moral, argúcia de pensamento, caráter aberto e divertido, erudição
extraordinária, foi nomeado pelo rei em 1529, num momento de crise política e
econômica do País, Chanceler do Reino.
Tomás More, o primeiro leigo
a ocupar este cargo, enfrentou um período extremamente difícil, procurando
servir o rei e o País. Fiel aos seus princípios, empenhou-se por promover a
justiça e conter a danosa influência de quem buscava os próprios interesses à
custa dos mais débeis. Em 1532, não querendo dar o próprio apoio ao plano de
Henrique VIII que desejava assumir o controle da Igreja na Inglaterra, pediu a
própria demissão. Retirou-se da vida pública, resignando-se a sofrer, com a sua
família, a pobreza e o abandono de muitos que, na prova, se revelaram falsos
amigos.
Constatando a firmeza
irremovível com que ele recusava qualquer compromisso contra a própria
consciência, o rei mandou prendê-lo, em 1534, na Torre de Londres, onde foi
sujeito a várias formas de pressão psicológica. Mas Tomás More não se deixou
vencer, recusando prestar o juramento que lhe fora pedido, porque comportaria a
aceitação dum sistema político e eclesiástico que preparava o terreno para um
despotismo incontrolável. Ao longo do processo que lhe moveram, pronunciou uma
ardente apologia das suas convicções sobre a indissolubilidade do matrimônio, o
respeito pelo patrimônio jurídico inspirado aos valores cristãos, a liberdade
da Igreja face ao Estado. Condenado pelo Tribunal, foi decapitado.
A sua cabeça foi
exposta na ponte de Londres durante um mês, foi posteriormente recolhida por
sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julhode 1535 "antes das nove
horas", ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e
injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência
de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei.
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