A partir do século XVI,
quando a comunicação entre o Oriente e o Ocidente passara a ser mais freqüente,
a Igreja Católica pretendeu intensificar a evangelização e enviou vários
missionários escolhidos com cuidado, entre os quais o jesuíta Mateus Ricci,
para instaurar relações religiosas e também sociais e científicas.
Em 1591, o excelente trabalho destes pioneiros levou o imperador “filho do céu” K'ang Hsi a assinar o primeiro decreto de liberdade religiosa, que permitia aos súditos aderirem ao Cristianismo. Os missionários podiam pregar por toda parte, alcançando milhares de conversões e chineses batizados.
Mas, a partir da primeira
década do século XVII as coisas mudaram. A penosa questão dos “ritos chineses”
irritou o imperador e a forte influência do vizinho Japão, hostil ao
Cristianismo, deram margem às perseguições que aberta ou veladamente, em
sucessivas ondas até a metade do século XIX, resultaram na morte de muitos
missionários e de inúmeros fieis leigos chineses, e a destruição de várias
igrejas.
São Francisco Fernandez de
Capillas, da Ordem dos Pregadores, martirizado em 1648, é considerado como o
Protomártir da China; foi o primeiro de uma longa lista de mártires
missionários ocidentais, pertencentes a várias Ordens Religiosas, como os
Dominicanos, os Franciscanos, os Agostinianos, e sacerdotes da Missão de Paris,
os Lazaristas, as Franciscanas Missionárias de Maria. Pelo fim do longo período
de perseguições também os Jesuítas, desde o início respeitados, sofreram o
martírio em julho de 1900; os Salesianos de Dom Bosco tiveram dois mártires,
Santos Luis Versiglia e Calisto Caravario, em 1930.
Os fieis leigos, dos quais
muitos apostataram com medo das perseguições, souberam resistir e testemunharam
com seu sangue a fidelidade a Cristo. Entre estes figuram catequistas leigos,
tanto homens como mulheres, que davam aos catecúmenos exemplo de entusiasmo, de
fidelidade a Igreja Católica, aos missionários, sofrendo até o martírio com eles.
Destes numerosíssimos
mártires religiosos e leigos, 120 foram canonizados em 1º de outubro de 2000
por João Paulo II e dentre os milhares de mártires
chineses, destacou-se uma humilde leiga chinesa Lucia Yi Zhenmei, para representar aqueles que como ela souberam
enfrentar os tormentos e a morte infringidos por seus compatriotas,
especialmente os famigerados “boxers”, que por motivos políticos e econômicos,
ou de intolerância e inveja dos bonzos, desencadearam as longas e
sanguinolentas perseguições contra “a religião dos estrangeiros odientos”.
Lucia Yi Zhenmei nasceu no dia 17 de janeiro de 1815 em Mainyang, Sichuan, última de cinco irmãos. O pai era um católico convertido há pouco do budismo.
Com 12 anos adotou o nome de
Lucia e se consagrou ao Senhor, mas os pais, segundo o uso, a haviam prometido em
casamento. Não sabendo como livrar-se da situação, Yi Lucia
se finge se boba, conseguindo assim desfazer acordos matrimoniais futuros.
Retomou os estudos para
tornar-se professora e ao mesmo tempo pode dedicar-se ao progresso de sua vida
espiritual.
Quando adulta, decidiu se
separar da família e passou a viver com as irmãs missionárias. Uma grave
enfermidade a obrigou a retornar para sua casa. Naquela ocasião pessoas
malévolas lançaram dúvidas sobre sua moral, levando até a superiora a acreditar
nelas. Os seus familiares quiseram vingar-se, mas ela se opôs suportando tudo
com paciência.
Posteriormente foi chamada
pelo bispo de Kweichow que lhe deu o cargo de catequista da aldeia do
Vicariato. Superando as dificuldades postas pela família, que temiam novos
perigos para ela, Lucia Yi Zhenmei logo se entrega ao trabalho, coadjuvando a
obra missionária do Padre João Pedro Néel, da Missão de Paris, ele também
mártir e proclamado santo em outubro de 2000.
Durante a perseguição
desencadeada pela seita “Ninfa Branca”, foi presa pelos soldados. Durante o
interrogatório lhe fizeram propostas vantajosas se renunciasse a religião
católica – a proposta era apoiada também pelo ex noivo, que havia conservado
afeto e estima por ela.
Lucia com firmeza recusou e
por isso foi condenada a decapitação. Aceitou com dignidade a condenação,
rebelando-se somente quando quiseram despojá-la das vestes antes da sentença,
conseguindo evitar tal humilhação.
Foi decapitada no dia 19 de
fevereiro de 1861 em Kaiyang, Guizhou, tinha 47 anos. Nos dias 18 e 19 foram
mortos também o Padre Néel, três homens catequistas.
Seu chapéu, banhado de
sangue, foi levado para casa e ao ser colocado sobre o corpo de sua sobrinha
Paula, gravemente enferma, esta se restabeleceu imediatamente.
Foi declarada venerável com
o grupo de mártires de Guizhou em 2 de agosto de 1908 e beatificada em 2 de
maio de 1909 por São Pio X. A sua festa com o grupo de Guizhou é no dia 19 de
fevereiro e, no dia 9 de julho, com todos os 120 mártires canonizados no dia 1º
de outubro de 2000.
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