Sabemos pouco sobre a vida de São Vicente de
Lerins. Foi um Padre da Igreja do século V. Era de origem francesa, ainda que
se ignore seu local de nascimento e onde passou sua vida, sabe-se que era um
soldado do exército romano, que decidiu abandonar uma vida de heresias e
desregrada para "espantar a banalidade e a soberba de sua vida, e
dedicar-se somente a Deus na humildade cristã". Alguns registros
encontrados em Lérins, escritos por ele mesmo, induzem a crer que seu irmão
seria o bispo de Troyes.
Após estes fatos São Vicente de Lérins entrou
para a vida monástica, sendo aceito no mosteiro da cidade de Lérins onde viveu
em constante oração.
Após alguns anos foi ordenado sacerdote e
abade, devido a sua retidão São Vicente de Lérins transformou o mosteiro em um
centro de cultura e espiritualidade, um local que formou inúmeros bispos e
santos para a Igreja.
Mas o que deixaria São Vicente de Lérins mais
conhecido foi sua obra o
Comonitório - "Manual de advertência aos
hereges", livro que estabelece os critérios básicos para uma vida no
evangelho. A palavra Comonitório (Commonitorium), bastante frequente com o título
de obras naquela época, significa
notas ou apontamentos postos por escrito para ajudar à memória, sem pretensões
de compor um tratado exaustivo.
Enaltecido pelos católicos e protestantes,
porque traz toda a doutrina dos Padres analisadas nas fontes da fé cristã e
todos os critérios da doutrina ortodoxa, Vicente era um grande polemista,
respeitado até mesmo por são Jerônimo, futuro doutor da Igreja, seu
contemporâneo. Os dois travaram grandes debates através de uma rica
corresponderia, trazendo luz sobre muitas divergências doutrinais.
Vicente de Lérins teve seu reconhecimento exaltado pelo próprio antagonista, que fez questão de incluí-lo num capítulo da sua famosa obra "Homens ilustres". Morreu no mosteiro no ano 450.
Vicente de Lérins teve seu reconhecimento exaltado pelo próprio antagonista, que fez questão de incluí-lo num capítulo da sua famosa obra "Homens ilustres". Morreu no mosteiro no ano 450.
O Comonitório foi escrito três
anos depois do Concílio de Éfeso, ou seja, em 434.
Trecho do Comonitório:
A Igreja, guardiã fiel do depósito da Fé:
“Ó Timóteo, guarda o bem que te foi
confiado! Evita as conversas frívolas e mundanas, assim como as contradições de
pretensa ciência”. (1Tm 6,20)
Este grito é o grito de alguém que sabe
e ama. Previa os erros que surgiriam e se doía por ele enormemente. Quem é hoje
Timóteo senão a Igreja universal em geral, e de modo particular o corpo de
bispos, os quais, principalmente, devem possuir um conhecimento puro da
religião cristã, e ademais transmiti-lo aos demais? E o que quer dizer “guarda
o bem que te foi confiado”? Esteja atento, lhe diz, aos ladrões e aos
inimigos; não suceda que enquanto todos dormem, venham em oculto a lançar a
cizânia no meio da boa semente que o Filho do homem semeou em seu campo.
Mas, o que é um depósito? O depósito é o
que te foi confiado, não encontrado por ti; tu o recebestes, não o excogitastes
com tuas próprias forças. Não é o fruto de teu engenho pessoal, mas da
doutrina; não está reservado para um uso privado, mas que pertence a uma
tradição pública. Não saiu de ti, mas que a ti veio: a seu respeito tu não
podes comportar-se como se fosse seu autor, mas como seu simples guardião. Não
és tu quem o iniciou, mas és seu discípulo; não te cabe dirigi-lo, mas é teu
dever segui-lo.
Guarda o bem que te foi confiado, diz;
quer dizer, conserva inviolado e sem mancha o talento da fé católica. O que te
foi confiado é o que deve guardar junto a ti e transmitir.
Recebeste ouro; devolve, pois, ouro. Não
posso admitir que substituas uma coisa por outra. Não, tu não podes
desavergonhadamente substituir o ouro por chumbo, ou tratar de enganar dando
bronze em lugar de metal precioso. Quero ouro puro, e não algo que só tenha sua
aparência.
Ó Timóteo! Ó sacerdote! Intérprete das Escrituras,
doutor, se a graça divina te deu o talento por engenho, experiência, doutrina,
deves ser o Beseleel do Tabernáculo espiritual. Trabalha as pedras preciosas do
dogma divino, reúne-as fielmente, adorna-as com sabedoria, acrescenta-lhes
esplendor, graça, beleza:
Que tuas explicações façam que se
compreenda com mais claridade o que se ainda se crê de maneira bem obscura.
Que as gerações futuras se congratulem
de terem compreendido por tua meditação o que seus pais veneravam sem
compreender. Mas hás de estar atento a ensinar somente o que aprendeste: não
suceda que por buscar maneiras novas de dizer a doutrina de sempre, acabes
também por dizer também coisas novas.
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