sexta-feira, 24 de julho de 2015

São Charbel Makhluf


São Charbel Makhluf foi um eremita libanês do século XIX beatificado em 1965 e canonizado no ano de 1977, pelo Papa Paulo VI. O nome Charbel, de origem sírio-libanesa, significa “a história de Deus". Mesmo levando uma vida escondida, este santo monge ficou famoso por seu corpo incorrupto e por seus milagres extraordinários. Pouco depois de sua morte, em 1898, se cumpriria a profecia de seu superior, que, ao assinar a sua breve ata de sepultamento, previu que mais se escreveria a respeito dele depois de morto do que vivo.
De fato, sepultado em uma vala comum, como todos os maronitas, de seu túmulo começaram a sair luzes extraordinárias, que impressionaram quem vivia próximo ao cemitério. Aberta a sua cova, todos ficaram maravilhados com o seu corpo, que não só ficara intacto, como começava a transpirar sangue e água – à semelhança de Nosso Senhor, de cujo lado aberto na Cruz também jorraram sangue e água. Por 70 anos, o túmulo de São Charbel ficou completamente encharcado, exalando um odor muito agradável e confirmando a sua santidade.


Que um cadáver se conserve não é um fenômeno único, porém que os restos mortais se conservem flexíveis, tenros, manejáveis, transpirando incessantemente, é um caso extraordinário e único no gênero. Este foi o caso de nosso Santo, cujo corpo se conservou e transpirou até o dia de sua Beatificação que se realizou no dia 5 de dezembro de 1965, no encerramento do Concilio Ecumênico Vaticano II. Podemos até dizer que seu corpo não conheceu a corrupção: depois de 1965, ele se decompôs simplesmente, e jamais se percebeu o odor que emana normalmente dos cadáveres ao abrir seus túmulos. Era ao contrário um odor agradável. Abriu-se o túmulo no dia 3 de fevereiro de 1976 e seu corpo está já decomposto, sobrando o esqueleto. No entanto os ossos conservam uma certa frescura e uma cor rosada (cor de vinho).
Nascido Youssef Antoun Makhlouf, em 1828, São Charbel era o quinto de seus irmãos. Órfão desde criança – o pai morreu servindo aos soldados otomanos –, o pequeno José foi criado por um tio. Mandado para o campo, para cuidar do rebanho da família, o menino passava o tempo em uma gruta, na qual se recolhia para rezar. O lugar, chamado ironicamente por seus colegas de “a gruta do santo", acabou por cumprir profeticamente o seu destino. Com 23 anos, José enfrenta a resistência da família – de sua mãe, que lhe era muito apegada, e de seu tio, que necessitava de braços para o campo – e sai escondido de casa, decidido e disposto a fazer-se monge.
No mosteiro, em seu primeiro ano de noviciado, o rapaz vê-se em uma situação difícil. À época, o Líbano trabalhava arduamente na exportação de seda e os monges do lugar em que ele estava tinham muito contato com os camponeses da região, pois os ajudavam na produção da fibra. Trabalhando em sua ocupação, o irmão Charbel atrai o olhar de uma moça, que o tenta seduzir, jogando nele alguns bichos-da-seda. Ignorando a jovem, ele se retira dali e, na mesma noite, foge do mosteiro, que estava sendo ocasião de perigo para a sua alma.
Já no mosteiro de São Maron de Annaya, o irmão Charbel começa o seu segundo ano de noviciado, quando sua mãe, Brígida, decide visitá-lo. Em uma atitude que pode parecer dura, Charbel escolhe não ver sua mãe, limitando-se a conversar com ela atrás da porta. Instado para mostrar-lhe o rosto, ele responde, resolutamente: “Nós nos veremos no Céu". Para entender o ato de São Charbel, é preciso lembrar a sua opção radical pela vida monástica reclusa. Ele estava convencido de que um monge que mantinha contato com seus parentes depois da profissão de seus votos deveria recomeçar o noviciado.
De fato, o desapego dos pais e a promessa de recompensa de Charbel à sua mãe - “Nós nos veremos no Céu" - são realidades que ecoam do próprio Evangelho: “Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim"; “Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna".
Na vida em comunidade, Charbel tornou-se um notável modelo de submissão e abnegação da própria vontade. Quando o superior pedia a seus confrades uma obediência severa, os seus companheiros retrucavam, jocosamente: “Pensa o senhor, por acaso, que sou o irmão Charbel?"
Por decisão do superior e de seus confrades, foi admitido às sagradas Ordens e, após cumprir os estudos, recebeu a ordenação presbiteral em 1859.
Começa, então, um novo capítulo de sua vida: o agora padre Charbel que se preparava com piedade, devoção e muito zelo para a celebração da Santa Missa. Ele, que era um homem extremamente despojado, tinha peças de vestuário e sapatos que usava especificamente para encontrar com Nosso Senhor no culto eucarístico. “Charbel celebrava o Santo Sacrifício com a máxima dignidade e com uma fé tão viva, que, com frequência, durante a Consagração, as lágrimas corriam-lhe dos olhos escuros e profundos, os quais eram como duas janelas abertas para o Céu. E, na contemplação, ficava de tal modo absorto que não prestava atenção alguma a eventuais ruídos ou rumores".
Certa vez, durante a sagrada liturgia, um acólito viu que o santo chorava durante a consagração e que algumas lágrimas caíam no corporal. À hora da purificação dos objetos sagrados, aquele corporal molhado foi causa de grande inquietação para Charbel, que pensou que havia deixado cair o preciosíssimo sangue de Cristo. Preocupado, o padre apresentou o corporal ao seu superior, pedindo perdão por aquilo que pensara ser um ato de negligência sua.
Durante muitos anos, o padre Charbel permaneceu no seio da comunidade monástica, mas, em seu coração, não havia morrido o desejo de tornar-se eremita, vivendo completamente afastado do mundo e dedicando-se inteiramente a Deus. O seu anseio, no entanto, era sempre negado por seus superiores.
Até que, um dia, tendo voltado tarde de seu trabalho no campo, ele pediu ao irmão dispenseiro - que guarda os mantimentos do mosteiro e os distribui aos confrades - que pusesse óleo em sua lamparina, a fim de rezar o Ofício em sua cela. O monge, reprovando Charbel por não chegar mais cedo, deixou-o, por penitência, sem óleo. O monge, então, retirou-se obedientemente para o seu quarto. São Charbel colocou água em sua lamparina, ao invés de óleo. Milagrosamente, todavia, a lamparina se acendeu e ele pôde rezar o seu Ofício.
Vendo esse milagre, o seu superior se convenceu de que o Senhor realmente o chamava o para a vida eremítica. Permaneceu, então, recolhido no eremitério de São Pedro e São Paulo, até o fim de sua vida. Foi durante este período, nos intervalos em que trabalhava nas aldeias vizinhas, que se espalhou na região a sua fama de taumaturgo.
Impressionante era a sua concentração nos momentos de oração, que pode ser ilustrada com a história seguinte:

“Num dia de tempestade, um raio derrubou parte da ala meridional da ermida, deitou por terra uma parede da vinha e queimou, na capela, as toalhas do altar, enquanto o santo monge ali se encontrava, em oração. Dois ermitães acorreram ao local, e o viram na mais apaziguante tranquilidade.
— Padre Charbel, por que não se moveu para apagar o fogo?
— Caro irmão, como poderia fazê-lo? Pois logo depois de atear-se, o fogo se extinguiu…
De fato, como o incêndio fora rapidíssimo, ele julgara mais importante continuar sua oração, sem se perturbar."
No dia 16 de dezembro enquanto celebrava o Santo Sacrifício, o padre Charbel começou a passar mal. Tendo agonizado por oito dias, este santo monge entregou a sua vida a Deus oito dias depois, exatamente na vigília de Natal.
A São Charbel Makhlouf se aplicam com perfeição as palavras do salmista: “O justo crescerá como a palmeira, como o cedro do Líbano se elevará".

Hoje celebramos também Santa Cristina de Bolsena, virgem e mártir. Leia aqui sua vida

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