sábado, 18 de maio de 2019

Christus vivit: Percursos de Juventude: A vontade de viver e experimentar – nºs 144 a 149


Nºs 144 a 149

A projeção para o futuro, que se sonha, não significa que os jovens estejam totalmente lançados para diante, pois simultaneamente há neles um forte desejo de viver o presente, aproveitar ao máximo as possibilidades que esta vida lhes oferece. Este mundo está repleto de beleza! Como se pode desprezar os dons de Deus?

Ao contrário do que muitos pensam, o Senhor não quer atenuar esta vontade de viver. Faz-nos bem lembrar o que ensinava um sábio do Antigo Testamento: “Meu filho, se tens com quê, trata-te bem. (…) Não te prives da felicidade presente” (Eclo 4, 11.14).
O verdadeiro Deus, Aquele que te ama, quer-te feliz. Por isso, na Bíblia, encontramos também este conselho dirigido aos jovens: Jovem, regozija-te na tua mocidade e alegra o teu coração na flor dos teus anos. (...) Lança fora do teu coração a tristeza” (Ecle 11, 9.10). Porque é ”Deus que nos dá tudo com abundância para nosso usufruto” (ITm 6, 17).

Como poderá dizer-se agradecido a Deus quem não é capaz de usufruir dos seus pequenos presentes de cada dia, quem não sabe parar diante das coisas simples e agradáveis que encontra a cada passo? Com efeito, “não há pior do que aquele que é avaro para si mesmo” (Eclo 14, 6). Não se trata de ser insaciáveis, sempre obcecados por prazeres sem fim; antes pelo contrário, pois isso impedir-te-á de viver o presente. Trata-se de saber abrir os olhos e parar a fim de viver plenamente e com gratidão cada um dos pequenos presentes da vida.

A Palavra de Deus convida-te claramente a viver o presente, e não só a preparar o amanhã: Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema. Isto, porém, não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa vazios e sempre insatisfeitos, mas convida-nos a viver plenamente o presente, usando as nossas energias para fazer coisas boas, cultivando a fraternidade, seguindo Jesus e apreciando cada pequena alegria da vida como um presente do amor de Deus.

A propósito, quero lembrar que o cardeal Francisco Xavier Nguyên van Thuân, quando foi preso num campo de concentração, não quis que os seus dias consistissem apenas em aguardar, esperar um futuro. Escolheu viver o momento presente, cumulando-o de amor; e a maneira como o realizava era esta: Aproveito as oportunidades que me surgem cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária.
Enquanto lutas para realizar os teus sonhos, vive plenamente o dia de hoje, numa entrega total e cheia de amor em cada momento. A verdade é que este dia da tua juventude pode ser o último, e por isso vale a pena vivê-lo com toda a garra e profundidade possíveis.

Isto é válido também para os momentos difíceis, que devem ser vividos profundamente para conseguir aprender a sua mensagem. Como ensinam os bispos suíços, Ele está lá no lugar onde pensávamos que nos tinha abandonado e que já não havia possibilidade alguma de salvação. É um paradoxo, mas o sofrimento, as trevas tornaram-se, para muitos cristãos, (...) lugares de encontro com Deus.
Além disso, o desejo de viver e fazer novas experiências tem a ver especialmente com muitos jovens em condições de deficiência física, psíquica e sensorial. Embora nem sempre possam fazer as mesmas experiências dos coetâneos, possuem recursos surpreendentes, inimagináveis que às vezes superam os recursos comuns. O Senhor Jesus cumula-os doutros dons, que a comunidade é chamada a valorizar, para que possam descobrir o seu projeto de amor para cada um deles.

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