A
escola da fé não é uma marcha triunfal, mas um caminho repleto de sofrimentos e
de amor, de provas e de fidelidade a ser renovada todos os dias. Pedro, que já
tinha prometido fidelidade absoluta, conhece a amargura e a humilhação da
renegação: o atrevido aprende à sua custa a humildade. Também Pedro deve
aprender a ser frágil e carente de perdão. Quando finalmente perde a máscara e
compreende a verdade do seu coração frágil de pecador crente, cai num
libertador choro de arrependimento. Depois deste choro ele já está pronto para
a sua missão.
Numa
manhã de Primavera esta missão ser-lhe-á confiada por Jesus ressuscitado. O
encontro será na margem do lago de Tiberíades. O diálogo entre Jesus e Pedro revela-se
um jogo de verbos muito significativo. Em grego o verbo "filéo" expressa
o amor de amizade, terno, mas não totalizante enquanto o verbo "agapáo" significa
o amor sem reservas, total e incondicionado.
Jesus
pergunta a Pedro pela primeira vez: "Simão... tu amas-Me (agapâs-me)" com
este amor total e incondicional? Antes da experiência da traição o Apóstolo
teria certamente respondido: "Amo-Te (agapô-se) incondicionalmente".
Agora,
que conheceu a amarga tristeza da infidelidade, o drama da própria debilidade,
diz apenas: "Senhor... tu sabes que sou deveras teu amigo (filô-se),
isto é, "amo-te com o meu pobre amor humano".
Cristo
insiste: "Simão, tu amas-Me com este amor total que Eu quero?". E
Pedro repete a resposta do seu humilde amor humano: "Kyrie,
filô-se", "Senhor, tu sabes que eu sou deveras teu amigo".
Pela terceira vez Jesus pergunta a Simão: "Fileîs-me?", "tu
amas-Me?".
Simão
compreende que para Jesus é suficiente o seu pobre amor, o único de que é
capaz, e, contudo, sente-se entristecido porque o Senhor teve que lhe falar
daquele modo. Por isso, responde: "Senhor, Tu sabes tudo; Tu bem sabes que
eu sou deveras teu amigo! (filô-se)".
Seria
para dizer que Jesus se adaptou a Pedro, e não Pedro a Jesus! É precisamente
esta adaptação divina que dá esperança ao discípulo, que conheceu o sofrimento
da infidelidade. Surge daqui a confiança que o torna capaz do seguimento até ao
fim: "E disse isto para indicar o gênero de morte com que ele havia de dar
glória a Deus. Depois destas palavras acrescentou:
"Segue-Me"!"
Papa
Bento XVI – 24 de maio de 2006
Hoje celebramos:
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