quarta-feira, 30 de setembro de 2015

São Jerônimo

Jerônimo foi eleito por Deus para nos explicar e fazer entender melhor a Bíblia Sagrada, por isso foi declarado Patrono de todos os que no mundo se dedicam a fazer entender e amar mais a Palavra de Deus gravadas nas Escrituras Sagradas.

Ler a Sagrada Escritura não Trazia prazer para Jerônimo: o texto bíblico era simples demais e não tinha ornato... Ele  tinha sido formado na leitura dos clássicos latinos e gregos e se acostumara com a "eloquência" e "elegância" da literatura de estilo pagão. Ele sentia muita aridez na leitura da Bíblia. Apesar de ser um sábio para o mundo, um conhecedor com ampla visão das ciências de então, continuava cego para as coisas mais elevadas, as coisas divinas.

Para que ele mudasse de vida, foi necessário que o próprio Deus chamasse sua atenção. Jerônimo, anos mais tarde, contou em carta a uma de suas discípulas, Santa Eustóquia, o que foi que se passou com ele:

Era o ano 374, ele estava na Antiópia e fazia austeras penitencias. Estando em oração, Jerônimo teve uma visão. Ele tinha sido arrebatado aos céus, e se via diante do Juízo de Deus. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo presidia o Tribunal e perguntava sobre seu estado de alma e sua Fé.
- Sou cristão. Responde Jerônimo.  Ao que o Juiz lhe replicou com severidade:
- Mentira!... Você não é cristão, mas ciceroniano...
Isso seria o mesmo que dizer: "Não sois de Cristo, sois de Cícero."

O Juiz mandou que ele fosse açoitado. Os assistentes pediram clemência argumentando que ele ainda era jovem e poderia corrigir-se, arrepender-se e salvar-se. Diante do que lhe acontecia, Jerônimo reconheceu o estado de alma em que se encontrava e nessa situação tomou a única atitude que lhe seria conveniente: reconheceu seu erro, pediu perdão.

É certo que ele percebeu que tinha sido perdoado, então, naquele instante, ele fez o firme propósito de emendar-se, saindo do arrebatamento cheio de compunção e muito arrependido e pleno do amor de Deus.

"Desde aquela hora eu me entreguei com tanta diligência e atenção a ler as coisas divinas, como jamais havia tido nas humanas", conclui o Santo em sua carta a Santa Eustóquia.

Foi então que o Papa São Dâmaso o encarregou de traduzir o texto das Escrituras Sagradas para o latim.
No trabalho deixado por São Jerônimo, ele mostra seu agudo senso crítico, um amor extraordinário à Palavra de Deus e uma grande riqueza de informações sobre tempos, usos e lugares relativos à Bíblia Sagrada. O Papa Clemente VIII afirmou que São Jerônimo, nesse trabalho de suma importância, foi assistido e inspirado pelo Espírito Santo.

A dedicação extraordinária que São Jerônimo teve na tradução das Escrituras Sagradas só pode ter, de fato, um motivo de origem sobrenatural. E é o que se confirma ao ver as explicações que ele mesmo deu ao justificar seu empenho nesse importantíssimo trabalho: "Cumpro o meu dever, obedecendo aos preceitos de Cristo que diz: ‘Examinai as Escrituras e procurai e encontrareis' para que não tenhais de ouvir o que foi dito aos judeus: ‘Estais enganados, porque não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus'. Se, de fato, como diz o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, aquele que não conhece as Escrituras não conhece o poder de Deus nem a sua sabedoria. Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo".
 
O Papa Bento XVI nos fala de São Jerônimo clique aqui

 

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

São Firmino

O pai e a mãe de São Firmino, que eram os mais ricos e consideráveis da cidade de Pamplona, Espanha, no fim do Século III, converteram-se à fé cristã pela pregação de Santo Honesto, padre de Toulouse e discípulo de São Saturnino, que marchara à península após ser milagrosamente liberado da sua prisão em Carcassonne.
Convencidos de que o bom desenvolvimento depende da educação recebida na infância, eles confiaram o filho a este santo eclesiástico, que o instruiu e fez com que ele o acompanhasse em suas missões apostólicas.
Sacerdote aos vinte e quatro anos, Firmino conheceu tanto sucesso através de suas pregações que Santo Honório, sucessor de São Saturnino em Toulouse, ordenou-o bispo para evangelizar os pagãos.
O bispo missionário percorreu a Gália, evangelizou as regiões de Agen, Clermont, Angers, Beauvais, sofrendo diversas vezes a perseguição, levando surras de vara, preso a correntes, atirado aos calabouços.
Amiens foi a última e mais gloriosa etapa do seu apostolado, onde Firmino fixou sua Sé. Desde os primeiros dias, o senador Faustiniano foi convertido juntamente com toda a sua família, bem como outras milhares de conversões. Os casos mais incríveis foram de Arcádio e Rômulo, implacáveis perseguidores de Firmino, os quais, diante da santidade e firmeza na fé do bispo, por suas palavras e intercessões prodigiosas, acabaram tocados pela graça de Deus e converteram-se a Jesus Cristo.
Firmino unia ao charme de sua eloquência o testemunho invencível de uma multidão de milagres.
Um dia era um homem com problemas de visão que ficava curado; no dia seguinte, dois leprosos; depois, eram cegos, coxos, surdos, mudos, paralíticos, pessoas possuídas pelo demônio.
Pouco tempo depois de sua chegada, os templos de Júpiter e de Mercúrio tornaram-se completamente desertos. Era uma época em que a perseguição contra os cristãos apresentava uma fúria implacável e violência impiedosa. Por isso Firmino despertou a ira de seus opositores pagãos, como o governador romano Valério, que, desejando que o povo voltasse a cultuar os deuses pagãos, mas temendo uma revolta, pois tinham verdadeira veneração pelo bispo, mandou prendê-lo e decapitá-lo sem julgamento oficial.

O bispo Firmino morreu no ano 303, aos 31 anos de idade. A ele foram concedidas as honras de "Apóstolo das Gálias", por seu trabalho como evangelizador. Seu zelo e sua dedicação pela evangelização na atual França fizeram-no merecedor do título que a Igreja lhe consagrou.
 
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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Beata Colomba Gabriel

Joana Matilde Gabriel nasceu no dia 3 de maio de 1858, em Stanislawow (Polônia), no seio de uma família de nobre linhagem. Teve uma formação cultural sólida primeiro na família, depois nas escolas de sua cidade natal e em Lviv. Tendo se formado professora, ensinou nas escolas públicas e depois nas escolas das Irmãs Beneditinas de Lviv, onde, em 20 de agosto de 1882, fez sua profissão religiosa solene. Tomou o nome de Colomba e mais tarde chegou a ser abadessa.

Mas a Providência dispôs de outra forma. Como resultado de conflitos internos, foi injustamente caluniada e teve que deixar o cargo e, em 24 de janeiro de 1900, também o mosteiro. Foi para Roma, ingressou no mosteiro beneditino de Subiaco onde permaneceu até 1902. Voltou depois para Roma onde se dedicou ao cuidado das crianças da paróquia de Testaccio e Prati.
Continuou o trabalho social com os necessitados e com a ajuda de um grupo de damas romanas presidido pela Princesa Barberini organizou uma “casa da família”, a fim de proteger as jovens trabalhadoras pobres.

Aconselhada por seus superiores, reuniu em torno a si mulheres jovens que desejavam colaborar com a obra, unindo-se na vida religiosa. Assim nasceu, em 1908, o Instituto chamado das “Beneditinas da Caridade”, com o objetivo de dedicar-se às jovens abandonadas, que mais tarde se estenderia todos os jovens e à paróquia.

Madre Colomba Gabriel recebeu a ajuda da co-fundadora, Plácida Oldoini, que a sucedeu depois de sua morte, ocorrida no subúrbio romano de Centocelle, em 24 de setembro de 1926. Sua sucessora expandiu a fundação, que em 1970 já possuía 118 casas na Itália.

A beatificação de Madre Colomba Gabriel foi celebrada pelo Papa João Paulo II em 16 de maio de 1993:
 “Quando uma pessoa está totalmente disposta a render-se ao sopro do amor de Deus, ela está envolvido em uma "aventura" espiritual, que desafia toda a expectativa humana. Abre sua alma como uma vela ao vento do Espírito, e Deus pode empurrá-lo de acordo com os misteriosos desígnios da sua misericórdia providencial.

Foi assim para a Madre Colomba Gabriel, que desde o início da adolescência pronunciou o seu "sim" plena e sinceramente a Cristo, determinada a "nada antepor seu amor", de acordo com o ensinamento do grande Pai São Bento. O Espírito Santo, através do caminho do sofrimento, a fez romper com a sua pátria, e a levou a deixar tudo e começar de novo. Na sua vida, na verdade, o Senhor colocou um carisma especial, o dom da caridade ativa, a ser enxertado no tronco da regra beneditina contemplativa.

Como está presente, Madre Colomba, a missão que ela viveu e transmitiu para as suas filhas! Hoje mais do que nunca, as novas gerações precisam de guias que são testemunhas fiéis de Deus: elas estão à procura de pessoas que chamam à vida com a voz do Cristo vivo. Os Jovens procuram - talvez implicitamente – por verdadeiros educadores, animados por um profundo sentido da paternidade espiritual e da maternidade, nem possessiva nem relaxada, mas com o poder libertador da verdade e do amor, com aquela força suave e doce que só Deus pode dar.”
Homilia de Beatificação          

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domingo, 20 de setembro de 2015

Beata Maria Teresa de São José

Ana Maria Tauscher, que se tornaria Madre Maria Teresa de São José, nasceu em Sandow, uma pequena cidade cerca de 100 km sudeste de Berlim (atualmente Polônia). Seu pai, um pastor protestante de alto cargo, exercia a profissão que era a mesma de seus antepassados desde a época de Martinho Lutero.

No entanto, desde a idade de 15 anos, Ana Maria aspirava a uma verdade ainda mais profunda que aquela que lhe tinha sido transmitida através da sua educação luterana. Aos 22 anos, ela começou a ler quotidianamente a Sagrada Escritura e a Imitação de Cristo. Um dia, frente a alguns colegas de seu pai, ela defendeu mesmo a doutrina da infalibilidade pontifícia. Ela também acreditava na virgindade de Maria, sem nunca ter estado em contato com católicos, nem ter lido obras católicas.
Teve a intuição de que Deus a chamaria para seu serviço quando tivesse 30 anos. Porém, não sabia nem onde, nem como isso ia acontecer. Ela tudo entregava nas mãos da Divina Providência.

Em fevereiro de 1886, estando ela em Berlim na casa de amigos, Ana Maria leu num jornal de Colônia um anúncio propondo um trabalho de enfermeira chefe num  hospital psiquiátrico. Seria este o sacrifício, o tal serviço que ela esteve esperando durante oito anos? Assim, Ana Maria deixou Berlim para começar a trabalhar na clínica de Lindenburg.  
Ela não tinha nenhuma experiência de enfermeira, mas sua entrega e seu amor quase maternal logo transformaram o asilo num autêntico Lar. À exceção do diretor, todas as pessoas da clínica de Lindenburg eram católicas. Um dos sacerdotes que vinha visitar os doentes ofereceu-lhe um catecismo da Igreja Católica. Nele, ela encontrou o que até então ela chamava de “sua religião pessoal”. E assim começou rapidamente a preparar, em segredo, a sua conversão.

O diretor acabou por descobrir as intenções de Ana Maria. Mandou-a de volta para casa, mas voltou a chamá-la algumas semanas mais tarde. Aí, quando Ana Maria se preparava para subir no trem com destino a Colônia, seu pai a exortou de não se converter ao catolicismo. Ela lhe prometeu unicamente “Que tal não aconteceria hoje ou amanhã”.  Quando Ana Maria fez a sua profissão de fé na Igreja Católica, em 30 de Outubro de 1888, deixou para trás todo o seu passado.
Desaprovada pelo seu pai, despedida de Lindenburg, Ana Maria colocou toda a sua confiança em Deus. Apesar de se ter proposto para vários empregos, ela não conseguia um outro trabalho, porque seu diretor tinha feito uma carta de recomendação pouco favorável. A partir de então, ela se viu sem trabalho e sem casa. Graças à ajuda de amigos católicos, Ana Maria foi recebida num convento, onde também se cuidava de pessoas de idade.

Todas as tardes e todas as noites, Ana Maria vinha junto ao Senhor, frente ao altar do Santíssimo Sacramento, pedia: “Senhor, segundo a Vossa vontade, mandai-me a trabalhar para a salvação das almas aonde quiserdes. Escutai o ardente desejo da minha alma de poder demonstrar o meu amor e a minha gratidão. (...) meu Deus, se for possível, não me mandeis para Berlim, seja, porém feita a Vossa vontade e não a minha.”
Era deste modo que Ana Maria rezava todos os dias. Desejava entrar numa ordem religiosa, mas tinha constantemente aquilo a que chamava “tentações do orgulho” de fundar a sua própria Congregação. Ela não podia partilhar com ninguém esta sua ideia. Passados 10 meses, ela recebeu então uma carta da Condessa de Savigny, uma católica fervorosa que vivia em Berlim, e que lhe propunha trabalho de dama de companhia. Apesar da sua tristeza à ideia de deixar Colônia, Ana Maria aceitou.

 Ana Maria começou a ler A Vida de Santa Teresa de Jesus. A humildade de Teresa, o seu amor por Deus, o seu desejo ardente de salvar almas e o seu heroísmo correspondiam perfeitamente a Ana Maria. Desde então ela queria uma só coisa: entrar no Carmelo. Mas, uma vez mais o seu confessor a dissuadiu, e ela continuou a resistir à “sua tentação”. Quando o seu confessor partiu para as missões, Ana Maria procurou o conselho de um outro padre. As palavras dele foram libertadoras: “Pare de resistir à graça!”
Em Berlim, colocou-se em contato com o Delegado Episcopal de Berlim, e, obteve autorização para abrir um Lar para crianças. Com 500 marcos, que a Condessa lhe tinha dado, abriu o primeiro Lar São José, a 2 de Agosto de 1891. Começou por instalar três crianças, uma educadora e uma empregada doméstica, em alguns quartos de um prédio antigo, situado em “Pappelallee.” As crianças a chamavam “Mãe” e muito rapidamente passou a ser conhecida como “Mãe da Pappelallee”. Mas ainda faltava algo: a presença eucarística. Ana Maria não se cansava de rezar: “Senhor, se virdes, eu venho também”,  e estava firmemente decidida a só se instalar no Lar São José, quando o Santíssimo Sacramento aí estivesse presente.

 “Deus inflamou o meu coração com tanta veemência de amor, que todo o sofrimento que a graça de Deus mais tarde me mandou ou permitiu que caísse sobre mim, não me parecia mais que uma gota de água que cai em cima de um ferro incandescente”.
Com Jesus e por seu amor, ela estava pronta para tudo suportar, mas a sua ausência era para ela uma verdadeira tortura.

“Coração de Jesus, ninguém pode compreender como anseio por Vós. Ninguém é capaz de contar as lágrimas de desejo que chorei por Vós. Senhor, se virdes, eu venho também!”
Era esta a sua oração constante. Era a fonte que alimentava todas as sua atividades apostólicas.
A 8 de Dezembro de 1891, Cristo veio morar na “Pappelallee”. Para Ana Maria foi “o dia mais feliz da sua vida”.

“As nossa almas ganham vida nova na grande fonte de amor que é o Santíssimo Sacramento e todos os dias se reacendem no fogo do Divino Amor que nunca descansa, mas que espalha ao redor de si as suas centelhas que são as obras de caridade em que Ele se consume.”
Em 1897, mais de quarenta jovens se tinham já associado à obra de Madre Teresa servindo nos Lares São José. Para além dos dois Lares de crianças em Berlim, havia ainda mais dois em Boêmia e um outro em Oldenburg. Em Berlim, ela abriu também um centro para os padres que trabalhavam ou estudavam nesta cidade. No entanto, Madre Maria Teresa não fundava os Lares São José para serem somente instituições sociais. Em 1891, contemplando a beleza de um pôr do sol, ela compreendeu a razão de ser das suas fundações:

“A consagração das Servas do Divino Coração de Jesus a:
I – expiação dos pecados,
II – Santificação pessoal,
III – Salvação das almas”.
A partir de Novembro de 1896, Madre Maria Teresa e a sua comunidade cuidam das crianças e fazem missão nos domicílios, observando ao mesmo tempo a regra Primitiva da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Tal como a sua mãe espiritual, Santa Teresa de Jesus , a maior  alegria da Madre Maria Teresa era a de ser filha da Igreja . A sua humildade era  imensa ao se aperceber que Deus a tinha chamado a si, “uma filha do deserto”, para fundar uma comunidade religiosa, e para guiar outras mulheres já nascidas no seio da Igreja. Como uma verdadeira filha da Igreja, sempre se mostrou fiel e obedeceu aos bispos e aos ensinamentos da Igreja. A “voz do Bispo” representava para ela o “voz de Deus”, mesmo quando se tratava de encerrar um convento ou um Lar.

Em 1897, Madre Maria Teresa esperava obter do Cardeal Kopp, Bispo de Breslau (de que Berlim dependia nessa altura), o reconhecimento da sua fundação como Congregação religiosa. Apesar de financiar o trabalho das Irmãs, o prelado continuou inflexível e recusou a aprovação canônica da Congregação. Seguindo os conselhos de um padre, Madre Maria Teresa decidiu ir procurar ajuda a Roma. Lá, encontrou o Padre  Geral da Ordem do Carmelo, e expôs-lhe o seu desejo de reunir numa mesma espiritualidade os dois aspectos do espírito do Carmelo – oração contemplativa e zelo apostólico  - para responder às necessidades da época. Esta iniciativa entusiasmou de tal maneira o Superior Geral que ele abençoou o seu escapulário e a ajudou a obter uma carta de recomendação do Cardeal Parocchi, protetor da Ordem do Carmelo.
Contudo, devido a situação tensa que se vivia na Igreja da Alemanha, o Cardeal Kopp continuou a recusar considerar como religiosas as irmãs que trabalhavam nos Lares São José. Madre Maria Teresa começou a procura de um bispo que aceitasse receber as suas noviças e criar uma Casa Mãe em sua diocese. Durante seis anos, viajou desde a Baviera até à Holanda, passando pela Inglaterra e pela Itália. Por duas vezes obteve autorização de fundar uma Casa Mãe, mas circunstâncias adversas a obrigaram a deixar essas dioceses, fechando os noviciados antes mesmo que as irmãs pudessem pronunciar os seu votos.

Finalmente, em 1904, em Rocca di Papa, Itália, surge a Casa Mãe. Aí se manteve durante  18 anos, tendo sido transferida para Sittard depois da primeira Guerra Mundial.
A calúnia e a difamação dos opositores pareciam vir de todo o lado, onde quer que Madre Maria Teresa se instalasse. Mas nunca ela retorquiu dizendo mal deles. Durante todos esses anos, teve que enfrentar a solidão, o afastamento da sua família, a doença e a pobreza.

O sofrimento tinha-se tornado para Madre Maria Teresa uma fonte de alegria profunda, pois era um meio que ela utilizava para unir sua alma a Deus, e para, com o Salvador, participar na redenção do mundo.
Ao fundar as Carmelitas do Divino Coração de Jesus, Madre Maria Teresa entregou-se inteiramente a Deus como vítima do seu amor. Passou a sua vida servindo os pobres e rezando, trabalhando e sofrendo pela salvação das almas e pela liberdade da Igreja . Em 1930, o trabalho e o sacrifício de Madre Maria Teresa foram coroados pela aprovação de sua Congregação pelo Papa Pio XI.

Apesar de muito enfraquecida fisicamente e quase cega, passava largas horas em oração, de joelhos, frente ao Santíssimo Sacramente, e continuou sempre meiga e atenciosa para com as suas Irmãs.
Antes de morrer, a 29 de Setembro de 1938, deixou às suas Irmãs, como sendo sua última vontade e testamento, uma linda declaração:
“Tudo o que Deus faz é bem feito. Seja sempre louvado e exaltado o Senhor”.
Durante toda a noite, só teve uma oração: “Tenho de voltar à casa do pai! Deixem-me ir para a casa!”.

Hoje também celebramos:
Santo André Kim e companheiros

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Beatos Daudi Okelo e Jildo Irwa

Os mártires Daudi Okelo e Jildo Irwa são dois jovens catequistas ugandenses que viveram
no início do século XX. Eles pertenciam à tribo Acholi, subdivisão do grande grupo Lwo, cujos membros ainda vivem no norte de Uganda, com uma presença significativa no Sudão do Sul, Quênia, Tanzânia e Congo. Sua história e seu martírio ocorreram apenas três anos após a fundação pelos missionários combonianos da missão de Kitgum (1915).

Daudi Okelo

Nasceu por volta de 1902, em Ogom-Payira aldeia do nordeste de Uganda, seus pais eram os pagãos, Lodi e Amona. Começou a frequentar os ensinos na missão e recebeu o batismo em torno de 14 anos de idade. Batizado pelo padre Cesare Gambaretto em 01 de junho de 1916, recebeu sua Primeira Comunhão no mesmo dia e foi confirmado em 15 de outubro de 1916. Depois de sua formação, ele concordou em entrar no ministério de catequista.

No início de 1917, tendo morrido o catequista de Paimol,  Daudi apresentou-se ao  padre Gambaretto, superior da missão de Kitgum, e se ofereceu para substituí-lo. No entanto, no final de 1917, foi decidido, na reunião mensal dos catequistas, que o jovem Jildo Irwa seria seu auxiliar na catequese.

Os dois são então apresentados para padre Gambaretto, que os avisou sobre as dificuldades deste compromisso: a distância, cerca de 80 quilômetros de Kitgum e, especialmente, as brigas frequentes entre os habitantes locais, fomentada também por gangues e incursões de comerciantes de escravos e marfim, que esporadicamente apareciam na área. Naquele momento Daudi responderia: "Eu não temo a morte, afinal, Jesus morreu por nós. "
 
Então, em torno de novembro-dezembro de 1917, receberam a bênção do Padre Gambaretto, e foram acompanhados pelo coordenador dos catequista de Paimol de Kitgum, o Bonifacio. Daudi imediatamente começou a exercer as suas funções convocando as crianças ansiosas para aprender a religião.

Ao amanhecer, ele está batendo o tambor para recolher seus catecúmenos para orações da manhã, à qual acrescentou para si mesmo e Jildo, o santo rosário. Ensinavam a memorizar as orações e as perguntas e respostas do catecismo. Para facilitar o aprendizado, as respostas eram frequentemente repetidas durante as aulas com o canto.

Foram então ensinando os primeiros elementos, designados Lok-odiku (as palavras da manhã), ou seja, as partes básicas do catecismo. A essa atividade eles adicionam visitas às pequenas aldeias nas proximidades, onde havia catecúmenos ocupados em guardar o gado ou no trabalho nos campos.

Ao por do sol faziam a Oração Comum e a recitação do Rosário, que sempre encerravam com algumas músicas para a Virgem Maria. No domingo, eles realizavam uma reunião mais substancial de oração, muitas vezes animada pela presença de catecúmenos e catequistas das zonas mais próximas.
 
Daudi era de temperamento quieto e tímido, diligente em seus deveres como catequista e amado por todos. Ele nunca se metia em disputas tribais e políticas, muito frequentes naquele tempo, em que a submissão ao governo britânico foi muitas vezes seguida de impaciência mal disfarçada.

Como resultado de uma medida infeliz, tomada no Paimol pelo Comissário do Distrito, um oficial britânico, foi criada uma tensão muito grave. Os raiders, elementos muçulmanos e feiticeiros aproveitaram-se da situação de violência para tentar erradicar a nova religião.

Durante o fim de semana de 18 a 20 de outubro de 1918, antes do amanhecer, ainda muito cedo, cinco pessoas fizeram o seu caminho para a cabana onde Daudi estava junto com Jildo, com o propósito declarado de matá-los. Um dos anciãos da aldeia enfrentou os recém-chegados dizendo-lhes que eles não poderiam matar os catequistas porque eram seus hóspedes.

Daudi chegou à porta da cabana e pediu ao ancião para não se envolver. Depois de um tempo, ignorando a insistência feita pelos assaltantes para abandonar o ensino do catecismo, ele foi arrastado para fora da cabana, foi jogado ao chão e perfurada com lanças.

Ele tinha entre 16 e 18 anos de idade.

Seu corpo foi, em seguida, deixado insepulto até poucos dias mais tarde, quando algumas pessoas amarraram uma corda em volta do seu pescoço e o arrastou para um ninho de cupins fora nas proximidades. Os restos mortais, tirados de Paimol em fevereiro de 1926, foram posteriormente colocados na igreja da missão de Kitgum ao pé do altar do Sagrado Coração.

Jildo Irwa

Nasceu em 1906, ou algum tempo depois, na aldeia de Bar-Kitoba, ao noroeste de Kitgum, de ambos os pais pagãos: Ato, sua mãe, e Okeny, o pai, que mais tarde se converteram ao cristianismo.

Batizado pelo padre Cesare Gambaretto em 1 de junho de 1916, Jildo recebeu sua Primeira Comunhão no mesmo dia e foi confirmado em 15 de outubro de 1916.
Dele, Padre Gambaretto escreve: "Ele era muito mais jovem do que Daudi. De caráter amigável e gentil, como são as crianças Achioli, era dotado de uma bela e vivaz inteligência. Foi uma grande ajuda para Daudi no cuidado dos meninos, pela sua educação e maneiras gentis e sua grande alegria infantil. Ele sabia entreter a todos com jogos inocentes e com reuniões barulhentas e alegres. Ele havia recebido recentemente o batismo, cuja graça era mantida intacta em seu coração e em seu comportamento fascinante”.

Jildo se ofereceu espontânea e voluntariamente a seguir Daudi para ir e ensinar a Palavra de Deus em Paimol. Todos gostavam muito dele porque era sempre disponível e exemplar na sua função como auxiliar de catequista.

Na manhã de seu martírio, a Daudi que profetizou um possível final sangrento, Jildo disse: "Por que deveríamos ter medo? Estamos neste país só porque o Pai mandou-nos para ensinar a sua Palavra. Não tenha medo”.

O mesmo repetiu aos assassinos que o convidaram a abandonar o lugar e a função de auxiliar de catequista. "Nós não fizemos nada de errado - disse ele chorando – Pelo mesmo motivo que você matou Daudi, você tem que fazer isso comigo, porque juntos nós viemos e ensinamos a palavra de Deus.”

Em seguida, uma mão o agarrou, empurrou-o para fora da cabana e do muro, e à distância de dois passos, o feriu com uma lança que o atravessou de lado a lado. Em seguida, um dos assassinos acabou com ele com uma faca na cabeça.

Ele tinha entre 12 e14 anos de idade.

O testemunho de Daudi e Jildo é extremamente significativo para os eventos que hoje Uganda está passando. Isto é, dois jovens catequistas leigos que evangelizaram juntos e permaneceram fiéis à sua missão de transmitir o Evangelho na Palavra e na Vida. Além disso, por terem corajosamente se mudado para uma área que não pertencia ao seu clã de origem, tornaram-se presente no seu ambiente, um sinal da catolicidade e unidade da Igreja. Finalmente, depois de terem vivido em uma época de guerras tribais, interesses coloniais e da escravatura doméstica florescente, representam a pureza do Evangelho, que sempre protege a dignidade da pessoa e promove a paz entre os povos, etnias e culturas. Por esta razão, ainda hoje, são lembrados em seus distritos como verdadeiros "testemunhas de sangue" de Cristo.
 

Hoje a Igreja celebra também São Jose de Cupertino

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Beato Estanislau de Jesus e Maria

Aos 18 de maio de 1631 nascia João Papczynski (seu nome de batismo) em Podegrodzie, no sul da República Polonesa, seu pai, Tomás, era camponês e um apreciado ferreiro. Sua mãe, era uma mulher piedosa e ativa. Não pouparam esforços em proporcionar uma sólida formação ao filho.


Contrariou o natural desejo de sua família para que se casasse. Anos depois confessaria: “É muito difícil expressar o quanto eu apreciava a minha vocação, que apenas o próprio Deus em mim despertara”. No dia 12 de março de 1661 foi ordenado sacerdote por D. Estanislau Samowski, bispo de Przemysl.
Após sua ordenação, padre Estanislau se envolveu com todo o zelo na atividade pastoral, procurando conciliá-la com outras incumbências de sua comunidade religiosa.


Consciente de haver cumprido a sua missão, falece a 17 de setembro de 1701 no convento de Góra Kalwaria, pronunciando estas palavras: “Em Vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito”, tendo abençoado antes os seus coirmãos.


“Autêntico amigo de Cristo e seu apóstolo incansável foi o Beato Estanislau de Jesus Maria Papczynski. Nascido em Podegrodzie numa pobre família camponesa, viveu num tempo em que a Polônia, atormentada por numerosas guerras e pestes, estava a afundar cada vez mais no caos e na miséria. Formado nos sadios princípios do Evangelho, o jovem Estanislau desejava doar-se a Deus sem limites e desde a adolescência sentiu-se orientado para a Imaculada Virgem Mãe de Deus.”
Com o passar do tempo, o Senhor transformou o pequeno pastor, que gostava pouco de estudar e de frágil constituição física, num pregador que atraía as multidões com a sua sabedoria cheia de erudição e de misticismo profundo; num confessor cujo conselho espiritual era procurado até pelos dignitários da Igreja e do Estado; num professor cuidadosamente instruído e autor de diversas obras publicadas em numerosas edições; no fundador do primeiro Instituto masculino polaco, precisamente a Congregação dos Clérigos Marianos da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria.
Quem o orientou durante toda a existência foi precisamente Maria. No mistério da sua Imaculada Conceição o novo Beato admirava o poder da Redenção realizada por Cristo. Na Imaculada vislumbrava a beleza do homem novo, entregue totalmente a Cristo e à Igreja. Deixava-se fascinar a tal ponto por esta verdade de fé, que estava disposto a dar a vida para a defender. Sabia que Maria, obra-prima da criação divina, é a confirmação da dignidade de cada homem, amado por Deus e destinado à vida eterna no céu. Ele queria que o mistério da Imaculada Conceição distinguisse a Comunidade religiosa que tinha fundado, fosse o seu apoio constante e a verdadeira alegria. Quantas vezes ressoou e continua a ser repetida esta comovedora invocação do Beato Estanislau: "Maria, tu consolas, confortas, amparas, libertas os oprimidos, os que choram, que são tentados, os deprimidos [...]. Ó doce Virgem! Mostra-nos Jesus, fruto bem-aventurado da tua vida!".


Animado pelo amor de Deus, o Beato Estanislau ardia de uma forte paixão pela salvação das almas e dirigia-se aos seus ouvintes com tons prementes como este: "Volta portanto para o teu Pai! Porque andas errante pelo longínquo país das paixões, privado dos sentimentos de amor do Sumo Bem? Volta para o Pai! Cristo chama-te, vai para Ele" (Inspectio cordis, 1, 25, 2).
Seguindo o exemplo do Bom Samaritano, detinha-se ao lado de quantos estavam feridos na alma, aliviava os seus sofrimentos, confortava-os infundindo neles esperança e serenidade, conduzia-os à "pousada do perdão", que é o confessionário, ajudando-os assim a recuperar a sua dignidade crista perdida ou recusada.
A caridade divina estimulava o Beato Estanislau a fazer-se evangelizador especialmente dos pobres, do povo simples, socialmente discriminado e descuidado sob o ponto de vista espiritual, de quantos se encontram em perigo de morte.

Consciente de como estava difundida na época a chaga do alcoolismo, com a palavra e com a vida ensinava a sobriedade e a liberdade interior como um antídoto eficaz contra qualquer tipo de dependência. Animado depois por um profundo sentimento de amor pátrio pela República das Nações polaca, lituana e rutena, não hesitava em estigmatizar a busca do próprio interesse em quantos geriam o poder, o abuso da liberdade nobiliária e a promulgação de leis injustas. Ainda hoje o novo Beato lança à Polônia, à Europa, que incansavelmente procura os caminhos da unidade, um convite sempre atual: só lançando bases sólidas em Deus pode haver verdadeira justiça social e paz estável.


O amor do Beato Estanislau pelo homem alargava-se também aos defuntos. Depois de ter vivido a experiência mística do sofrimento de quantos se encontravam no purgatório, rezava com fervor por eles e exortava todos a fazer o mesmo.
Ao lado da difusão do culto da Imaculada Conceição e do anúncio da Palavra de Deus, a oração pelos defuntos torna-se assim uma das finalidades principais da sua Congregação. O pensamento da morte, a perspectiva do paraíso, do purgatório e do inferno ajudam a "empregar" de modo sábio o tempo que transcorremos na terra; encorajam-nos a considerar a morte como etapa necessária do nosso itinerário para Deus; estimulam-nos a acolher e respeitar sempre a vida como dom de Deus, desde a concepção até ao seu fim natural.
Que sinal significativo para o mundo dos nossos dias é o milagre da "inesperada continuação da gravidez entre a 7ª e a 8ª semana de gestação" que se verificou por intercessão do Padre Papczynski. O dono da vida humana é Deus!


O segredo da vida é a caridade: o inefável amor de Deus, que ultrapassa a fragilidade humana, leva o coração do homem a amar a vida, a amar o próximo e até os inimigos. Aos seus filhos espirituais o novo Beato confiou desde o início esta recomendação: "Um homem sem caridade, um religioso sem a caridade, é uma sombra sem o sol, um corpo sem a alma, simplesmente é uma nulidade. Aquilo que a alma é no corpo, na Igreja, nas ordens religiosas e nas casas religiosas, é a caridade".
Homilia de sua beatificação, Cardeal Tarcisio Bertone - 16 de setembro de 2007


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Santa Catarina de Gênova

Catarina nasceu em Genova, em 1447; última de cinco filhos, ficou órfã do pai, ainda em tenra idade. A mãe, Francesca di Negro, dispensou uma válida educação cristã, a tal ponto que a maior das duas filhas se tornou religiosa.

Com 16 anos, Catarina foi concedida como esposa a Giuliano Adorno, um homem que, depois de várias experiências comerciais e militares no Médio Oriente, tinha regressado a Genova para casar. A vida matrimonial não foi fácil, também devido à índole do marido, apaixonado pelo jogo de azar. Inicialmente, a própria Catarina foi induzida a levar um tipo de vida mundana em que, contudo, não conseguia encontrar a serenidade. Depois de dez anos, no seu coração havia um profundo sentido de vazio e de amargura.

A conversão teve início a 20 de Março de 1473, graças a uma experiência singular. Tendo ido à igreja de são Bento e ao mosteiro de Nossa Senhora das Graças para se confessar, ajoelhou-se diante do sacerdote e «recebeu — como ela mesma escreve — uma chaga no coração, de um imenso amor de Deus», com uma visão tão clarividente das suas misérias e dos seus defeitos e, ao mesmo tempo, da bondade de Deus, que quase desmaiou. Foi tocada no coração por este conhecimento de si mesma, da vida vazia que ela levava e da bondade de Deus.
Desta experiência derivou a decisão que orientou toda a sua vida, expressa com estas palavras: «Basta com o mundo e com os pecados».

Então Catarina fugiu, suspendendo a Confissão. Voltou para casa, entrou no quarto mais escondido e chorou prolongadamente. Naquele momento, foi instruída interiormente sobre a oração e adquiriu a consciência do imenso amor de Deus por ela, pecadora, uma experiência espiritual que não conseguia expressar com palavras. Foi nessa ocasião que lhe apareceu Jesus sofredor que carregava a cruz, como é frequentemente representado na iconografia da santa.

Poucos dias depois, foi ter com o sacerdote para finalmente realizar uma boa Confissão. Aqui teve início aquela «vida de purificação» que, durante muito tempo, lhe fez sentir uma dor constante pelos pecados cometidos e que a impeliu a impor-se penitências e sacrifícios para demonstrar o seu amor a Deus.

Neste caminho, Catarina foi-se aproximando cada vez mais do Senhor, até entrar naquela que é denominada «vida unitiva», ou seja, uma relação de profunda união com Deus. Na Vida está escrito que a sua alma era orientada e ensinada interiormente só pelo dócil amor de Deus, que lhe concedia tudo aquilo que ela precisava. Catarina abandonou-se de modo tão total nas mãos do Senhor que chegou a viver, durante cerca de vinte e cinco anos — como ela escreve — «sem o intermédio de qualquer criatura, instruída e governada unicamente por Deus», alimentada sobretudo pela oração constante e pela Sagrada Comunhão recebida todos os dias, o que não era comum na sua época. Só muitos anos mais tarde o Senhor lhe concedeu um sacerdote que cuidasse da sua alma.

Catarina hesitava sempre em confiar e manifestar a sua experiência de comunhão mística com Deus, sobretudo pela profunda humildade que sentia diante das graças do Senhor. Foi só a perspectiva de dar glória a Ele e de poder favorecer o caminho espiritual de outros que a levou a narrar aquilo que se verificava nela, a partir do momento da sua conversão, que é a sua experiência originária e fundamental. O lugar da sua ascensão aos vértices místicos foi o hospital de Pammatone, a maior estrutura hospitalar genovesa, da qual foi diretora e animadora.

Portanto, não obstante esta profundidade da sua vida interior, Catarina vive uma existência totalmente ativa. Em Pammatone foi-se formando ao seu redor um grupo de seguidores, discípulos e colaboradores, fascinados pela sua vida de fé e pela sua caridade.

O próprio marido, Giuliano Adorno, foi conquistado por ela, a ponto de abandonar a sua vida desregrada, de se tornar terciário franciscano e de se transferir para o hospital, para oferecer a sua ajuda à esposa.

O compromisso de Catarina no cuidado dos doentes continuou até ao fim do seu caminho terreno, a 15 de Setembro de 1510.

Desde a conversão até à morte, não houve acontecimentos extraordinários, mas dois elementos caracterizaram toda a sua existência:

por um lado a experiência mística, ou seja, a profunda união com Deus, sentida como uma união esponsal e,

por outro, a assistência aos enfermos, a organização do hospital e o serviço ao próximo, especialmente aos mais necessitados e abandonados.

Estes dois polos — Deus e o próximo — preencheram totalmente a sua vida, transcorrida praticamente entre as paredes do hospital.

Estimados amigos, nunca devemos esquecer que quanto mais amarmos a Deus e formos constantes na oração, tanto mais conseguiremos amar verdadeiramente quantos estão ao nosso redor, quem está perto de nós, porque seremos capazes de ver em cada pessoa o Rosto do Senhor, que ama sem limites nem distinções.

A mística não cria distâncias em relação ao outro, não cria uma vida abstrata, mas sobretudo aproxima do outro, porque se começa a ver e a agir com os olhos, com o Coração de Deus.

O pensamento de Catarina sobre o purgatório, pelo qual ela é particularmente conhecida, está condensado nas últimas duas partes do livro citado no início: o Tratado sobre o purgatório e o Diálogo entre a alma e o corpo. É importante observar que, na sua experiência mística, Catarina jamais tem revelações específicas sobre o purgatório ou sobre as almas que ali estão a purificar-se. Todavia, nos escritos inspirados pela nossa santa, é um elemento central, e o modo de o descrever tem características originais em relação à sua época. O primeiro traço original diz respeito ao «lugar» da purificação das almas. No seu tempo, ele era representado principalmente com o recurso a imagens ligadas ao espaço: pensava-se num certo espaço, onde se encontraria o purgatório. Em Catarina, ao contrário, o purgatório não é apresentado como um elemento da paisagem das vísceras da terra: é um fogo não exterior, mas interior. Este é o purgatório, um fogo interior.

A santa fala do caminho de purificação da alma, rumo à plena comunhão com Deus, a partir da própria experiência de profunda dor pelos pecados cometidos, em relação ao amor infinito de Deus.

Ouvimos sobre o momento da conversão, quando Catarina sente repentinamente a bondade de Deus, a distância infinita da própria vida desta bondade e um fogo ardente no interior de si mesma. E este é o fogo que purifica, é o fogo interior do purgatório. Também aqui há um traço original em relação ao pensamento do tempo. Com efeito, não se começa a partir do além para narrar os tormentos do purgatório — como era habitual naquela época e talvez ainda hoje — e depois indicar o caminho para a purificação ou a conversão, mas a nossa santa começa a partir da própria experiência interior da sua vida a caminho da eternidade.

A alma — diz Catarina — apresenta-se a Deus ainda vinculada aos desejos e à pena que derivam do pecado, e isto torna-lhe impossível regozijar com a visão beatífica de Deus. Catarina afirma que Deus é tão puro e santo que a alma com as manchas do pecado não pode encontrar-se na presença da majestade divina.

E também nós sentimos como estamos distantes, como estamos repletos de tantas coisas, a ponto de não podermos ver Deus. A alma está consciente do imenso amor e da justiça perfeita de Deus e, por conseguinte, sofre por não ter correspondido de modo correto e perfeito a tal amor, e precisamente o amor a Deus torna-se chama, é o próprio amor que a purifica das suas escórias de pecado.

Com a sua vida, santa Catarina ensina-nos que quanto mais amamos a Deus e entramos em intimidade com Ele na oração, tanto mais Ele se faz conhecer e acende o nosso coração com o seu amor.

Escrevendo acerca do purgatório, a santa recorda-nos uma verdade fundamental da fé, que se torna para nós um convite a rezar pelos defuntos, a fim de que eles possam chegar à visão beatífica de Deus na comunhão dos santos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1032).

Além disso, o serviço humilde, fiel e generoso, que a santa prestou durante toda a sua vida no hospital de Pammatone, é um exemplo luminoso de caridade para todos e um encorajamento especialmente para as mulheres que oferecem uma contribuição fundamental para a sociedade e a Igreja com a sua obra preciosa, enriquecida pela sua sensibilidade e pela atenção aos mais pobres e necessitados.

Obrigado!

Papa Bento XVI, 12 de Janeiro de 2011
 
 

Hoje Celebramos a Festa de Nossa Senhora das Dores


 

 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Santa Notburga de Eben

Filha de uma família de lavradores sem fortuna do Tirol, nasceu em 1265 em Rattenberg  e foi educada nos princípios católicos. Aos dezessete anos foi admitida como doméstica e cozinheira no palácio do Conde Henrique de Rottenburg. Henrique e Jutta, sua esposa, grandes esmoleres, designaram Notburga como sua despenseira para com os pobres que chegavam a toda hora em seu palácio. Ela distribuía generosamente aos pobres tudo aquilo que sobejava da mesa dos patrões. Ela também doava aos pobres o seu próprio alimento, especialmente às sextas-feiras.
     
Seis anos viveu com os condes; com a morte deles tudo mudou para Notburga. Otília, a nova condessa, a maltratou de mil modos, e por fim a expulsou de sua casa. Mas, Otília ficou mortalmente enferma e Notburga cuidou dela e a preparou para a morte.
     
Notburga depois passou a trabalhar para os agricultores do vale do Eben. Ali realizou um milagre para que os trabalhos nos campos terminassem após o toque dos sinos das Vésperas do sábado – que segundo o costume medieval indicava o início da festa dominical –, para que os camponeses pudessem se dedicar à oração e aos trabalhos da casa.
     
Depois do falecimento de Otília, seus filhos, que herdaram seus bens e eram católicos piedosíssimos, acolheram a jovem, que voltou a trabalhar como cozinheira no castelo. Novamente despenseira dos pobres, continuou suas atividades caritativas até sua morte.
Notburga faleceu em 14 de setembro de 1313 no Castelo de Rottenburg. Um pouco antes de sua morte ela dissera ao seu senhor para colocar seu corpo em uma carroça puxada por dois bois, e para enterrá-lo onde os bois parassem. Os bois dirigiram a carroça para a Capela de São Roberto, em Eben am Achensee, onde ela foi sepultada.
     
A Santa é invocada como modelo e patrona da juventude rural, e venerada como patrona dos camponeses e das domésticas. O seu culto se difundiu no Tirol, Áustria, Ístria, Baviera e foi confirmado pelo Papa Pio IX com decreto de 27 de março de 1862.
      
A iconografia que a representa é numerosa e a mostra como um dos seus símbolos: a foice. Segundo a legenda, diante da insistência de um camponês em continuar a trabalhar após o toque do sino, Notburga lançou a foice para o alto, e ela ficou suspensa no ar.
     
Notburga foi alvo de um culto notável nos séculos seguintes, eram numerosos os peregrinos que iam venerar seu túmulo e levavam um pouco de terra do cemitério consigo para usá-la contra as doenças que afligiam homens e animais.
     
A igrejinha de Eben onde ela estava sepultada foi ampliada em 1434 e em 1516, e embelezada com o apoio do imperador Maximiliano I de Habsburg. Em 1718 as suas relíquias foram recompostas, segundo o uso da época, revestidas com seda, ouro e prata, e colocadas no altar mor em posição vertical e ali estão ainda hoje.

Hoje a Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz clique aqui

domingo, 13 de setembro de 2015

São João Crisóstomo

"Vês esta vitória admirável? Vês os sucessos da Cruz? Irei eu agora dizer-te alguma coisa de mais admirável? Aprende a forma como esta vitória se realizou e ficarás ainda mais estupefato.
Aquilo que permitiu ao demônio vencer, é aquilo por que Cristo o dominou. Combateu o demônio com as armas que ele usara.
Escuta como: uma virgem, a madeira, a morte, eis os símbolos da derrota. A virgem era Eva, pois não se unira ao homem; a madeira era a árvore; e a morte a pena em que Adão incorreu.
Mas eis que, em contrapartida, a virgem, a madeira e a morte, estes símbolos de derrota, se tornaram nos símbolos da vitória. Em lugar de Eva, Maria; em lugar da árvore do conhecimento do bem e do mal, o madeiro da Cruz; em lugar da morte de Adão, a morte de Cristo.
Vês que o demônio foi vencido por aquilo que lhe dera a vitória? Com a árvore, ele vencera Adão; com a cruz, Cristo triunfou do demônio. A árvore conduziu ao inferno, a cruz faz regressar os que a ele tinham descido. Além disso, a árvore serviu para esconder o homem envergonhado da sua nudez, enquanto que a cruz elevou aos olhos de todos um homem nu, mas vencedor.
Eis o prodígio que a Cruz realizou em nosso favor. A Cruz é o troféu elevado contra os demônios, a espada puxada contra o pecado, a espada com que Cristo trespassou a serpente. A Cruz é a vontade do pai, a glória do Filho único, a alegria do Espírito Santo, o esplendor dos anjos, o orgulho de São Paulo, a muralha dos eleitos, a luz do mundo inteiro."
Sermão sobre a Cruz


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

São Nicolau de Tolentino

"Para os tristes era alegria, consolo para os aflitos, paz para os que se encontravam divididos, repouso para os cansados, ajuda para os pobres, remédio singular para os prisioneiros e enfermos. Sentia tanta compaixão pelos pecadores, que rezava, jejuava, celebrava missas e chorava diante de Deus pelos muitos que se confessavam com ele para que fossem libertados das trevas dos pecados". Jordão da Saxônia

Há séculos é invocado em todo o mundo como taumaturgo por sua eficaz intercessão ante Deus, como protetor das almas do purgatório:

São Nicolau teve uma visão de um imenso vale onde multidões de almas se retorciam de dor num braseiro imenso e gemiam de cortar o coração. Ao perceberem o Santo, bradavam suplicantes, estendendo os braços e pedindo misericórdia e socorro.  "Padre Nicolau, tem piedade de nós!" 

"Se celebrares a Santa Missa por nós, quase todas seremos libertadas de nossos dolorosos tormentos."
São Nicolau celebrou sete missas em sufrágio dessas almas. Durante a última Missa apareceu uma multidão de almas resplandecentes de glória que subiam ao céu.

Em sua terna devoção à Mãe de Deus têm origem os "pãezinhos de São Nicolau", abençoados no dia de sua festa:
Uma vez muito doente ele teve uma visão da Virgem  Maria, Santo Agostinho e Santa Mônica. Eles disseram a ele para comer certo tipo de pãozinho mergulhado em água benta. Curado, ele começou a curar outros administrando o pãozinho e orando preces a Virgem Maria. Os pãezinhos  passaram a se chamar “Os pães de São Nicolau” e ainda são distribuídos em seu Santuário.
Quando os seus dias já estavam se esgotando, alguém perguntou: “Pai, por que você está tão feliz e alegre?”, Disse o padre Nicolau, “Porque o meu Deus e Senhor Jesus Cristo com sua santa mãe e meu Santo Pai Agostinho , estão me dizendo que: Vamos lá! Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor.”

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Natividade da Virgem Maria

A vinda do Filho de Deus à terra, foi preparada, pouco a pouco, ao longo dos séculos, através de pessoas e acontecimentos. Entre as pessoas escolhidas por Deus para colaborarem no Seu projeto de salvação, houve uma, à qual foi confiada uma missão única:

Maria, chamada a ser a Mãe do Salvador e cumulada, por isso, de todas as graças necessárias ao cumprimento dessa missão.
O nascimento de Maria foi, portanto, motivo de esperança para o mundo inteiro: anunciava já o de Jesus. Era a autora da salvação a despontar; «Ela vem ao mundo e com Ela o mundo é renovado. Ela nasce e a Igreja reveste-se da sua beleza». (Liturgia bizantina).

Não existe em parte alguma na Bíblia a preocupação em saber o dia em que Maria nasceu. Mas não se trata disto, evidentemente.  A festa de sua “natividade” segue outra lógica. Faz parte da constelação de celebrações, colocadas no ciclo de um ano, harmonicamente distribuídas, de tal modo que se relacionam entre si coerentemente.

Assim faz a liturgia. Se ela coloca o nascimento de Jesus, por exemplo, no dia 25 de dezembro, põe o nascimento de João Batista no dia 24 de junho, seis meses antes, de acordo com o Evangelho. Portanto, as datas se escoram no Evangelho como seu fundamento, mas se repartem no calendário de acordo com a providência da fé, que as recorda e as insere no cotidiano da vida.

Desta maneira, se colocamos a festa da “Imaculada Conceição” no dia oito de dezembro, é coerente que o nascimento de Maria seja celebrado no dia oito de setembro, isto é, nove meses depois do dia oito de dezembro. Assim, fica registrado o fato normal, do nascimento, como para qualquer pessoa humana. Mas ele fica ressaltado pelo testemunho do Evangelho, o qual garante que Maria foi “cheia de graça”, fundamentando a convicção de sua concepção imaculada.

Estas celebrações, cada qual com seu valor e sua intenção específica, acabam mostrando o mais importante: o mistério de Cristo ilumina agora toda a realidade e toda a história, que é simbolizada pelo ciclo de cada ano. Nossa vida agora é iluminada por Cristo, “o sol nascente”, que ilumina toda a humanidade.  E como a lua se encarrega de refletir a luz do sol, e torná-la mais humana e amena, assim Maria reflete em si mesma, e projeta para nós, a mesma luz de Cristo, na qual podemos reconhecer nossa própria vida.

Podemos gritar de alegria hoje:

“Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se os gregos destacavam com todo o tipo de honras – com os dons que cada um podia oferecer – o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito, uma ouviu a sentença divina: «Darás à luz no meio de penas»; a outra ouviu, por seu turno: «Alegra-te, oh Cheia de Graça». À primeira disse-se: «Inclinar-te-ás para o teu marido», mas à segunda: «O Senhor está contigo». Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens.”

São João Damasceno, discurso para o nascimento de Nossa Senhora Santíssima, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria.