"Bem-aventurados os misericordiosos... Bem-aventurados
os puros de coração". Em apenas trinta e três anos, como
aqueles de Cristo a quem ele amava acima de tudo, a vida de São Ricardo Pampuri
foi um presente para Deus e seus irmãos: como um jovem apóstolo entre os
estudantes universitários, entre os soldados nas trincheiras durante os
horrores dos guerra, entre os fiéis da paróquia onde ele era um
médico. Então, seguindo sua vocação pessoal, ele entrou na ordem de São
João de Deus, porque foi atraído pelo ministério específico desta família
religiosa de natureza leiga, nascida de um serviço até mesmo de caridade heroica
para com os doentes, e para os mais pobres sofredores.
Numa comunidade que
teve que fazer da misericórdia o lema principal de seu ministério, São Ricardo
sentiu que tinha que responder com um novo sinal e uma nova disponibilidade a
Cristo, “com uma correspondência cada vez mais rápida e generosa, com um
abandono cada vez mais completo, sempre mais perfeito no Sagrado Coração de
Jesus"( Carta a sua irmã , 6 de setembro de 1923).
No entanto, devemos lembrar
que São Ricardo começou seu caminho de santificação no contexto da intensa
espiritualidade dos leigos, proposta pela Ação Católica. Por esta razão,
tanto adolescente como jovem estudante e profissional, ele se engajou em
treinamento com a ajuda de uma cuidadosa direção espiritual, fazendo dos exercícios
espirituais seu forte compromisso e tirando da piedade eucarística a energia
necessária para continuar apesar das dificuldades.
Acima de tudo, ele
penetrou na mensagem da caridade evangélica à luz da meditação e da oração,
passando momentos intensos de contemplação ao lado da Eucaristia e depois
dedicando-se, com uma sensibilidade particularmente aguda, ao sofrimento em
todas as circunstâncias.
Como não podemos ser
tocados pelas palavras com as quais São Ricardo se dirigiu, em uma entrevista
final, ao seu diretor espiritual: "Pai,
como Deus me receberá? Eu o amava muito e o amo muito”. Neste amor
intenso encontra-se o valor supremo do carisma de um verdadeiro irmão da ordem
de São João de Deus, cuja vocação consiste precisamente em repropor a imagem de
Cristo para cada homem encontrado em sua jornada, num relacionamento de amor
altruísta. e alimentado à fonte de um coração puro.
Papa
João Paulo II – Homilia de canonização – 01 de novembro de 1989
Erminio Filippo
Pampuri, na vida religiosa Frei Ricardo, nasceu em Trivolzio no dia 02 de
agosto de 1897, era filho de Inocêncio e Angela Campari, o décimo de onze
filhos, e foi batizado no dia seguinte.
Sua mãe morreu quando
ele tinha três anos de idade, ele foi acolhido e educado na casa de seus tios
maternos em Torrino, uma aldeia da freguesia de Battuda, mas dependente Trivolzio.
Em 1907, o pai morreu em Milão, em um acidente de carro.
Ainda jovem
estudante, entrou para a Sociedade de São Vicente de Paulo e colaborou na
fundação da Associação Juvenil da Associação Católica "Dom Bosco".
Ele frequentou a
primeira escola de gramática em Milão e após completar seus estudos do ensino
médio, ele ingressou na faculdade de medicina da Universidade de Pavia.
Durante a Primeira
Guerra Mundial, ele estava no exército, nos anos 1915-1920, prestando serviços
de saúde em uma zona de guerra, primeiro sargento, então, como um oficial
aspirante a médico.
Em 20 de março de
1921, poucos meses antes da formatura, tornou-se um Terciário franciscano com o
nome de Antonio, recebe os sinais no convento de Canepanova em Pavia.
Ao terminar os seus
estudos de Medicina, com 24 anos de idade, tornou-se médico de família em
Morimondo, uma aldeia não muito distante de Trivolzio; exerceu aí a sua
profissão com zelo e bondade, pondo em prática na vida profissional a sua fé e
o seu forte sentido de missão. Escreveu as seguintes palavras à sua irmã
Longina, freira missionária:
“Reza para que o orgulho, o egoísmo ou qualquer outra má
paixão nunca me impeçam de ver Jesus nos meus doentes. É Ele que cura, é Ele
que consola”.
A maneira como ele
tratava os doentes impressionou profundamente a todos. Ele tratava os doentes
como se fossem realmente o Cristo, com imensa paciência e respeito.
Ajudava-lhes tanto de dia como de noite, sem medir nenhum sacrifício. Se era
chamado à noite, mesmo muito cansado, ele se levantava rapidamente da cama,
feliz e cantarolando por ajudar mais um doente.
Ele usava uma carroça
para atender os doentes em casa e carregar seus materiais. Era facilmente visto
andando em sua carroça nas mais variadas horas do dia e da noite. Sempre
medicava com muito cuidado. Atendia os pacientes pobres de graça, punha do
próprio dinheiro na receita para comprarem remédios e lhes dava alimentos,
leite, roupa e cobertores. Em alguns lugares da cidade, alguns doentes podiam
pagar pelo atendimento apenas uma quantia muito pequena e miserável, mas ele se
contentava e não reclamava. Todos os habitantes o chamavam de “santo doutor.”
Quando perguntavam qual era o seu lucro, respondia: "Amanhã,
amanhã." Ou então: "Depois, depois.” Doava parte do salário para as
missões e sempre ficava com pouquíssimo dinheiro para si.
Ele começou seu
noviciado na Ordem Hospitaleira de São João de Deus aos 30 anos, enquanto os
outros noviços tinham de 18 a 20 anos. Apesar de ser um médico formado e saber
muitíssimo mais do que os noviços, Ricardo pediu para fazer as mesmas coisas
simples que eles para em nada ser diferente. Ali foi designado para ser
dentista, ofício que fazia com muita perfeição e agradava a todos os pacientes.
O irmão Ricardo sempre escolhia as tarefas mais humildes e repugnantes. Ajudava
os outros médicos na sala de operação e até realizava trabalhos braçais. Quando
algum funcionário tinha nojo de alguma função, Ricardo corria para ajudar e
fazer imediatamente. Era sempre o primeiro a pegar nas vassouras e rodos, a
limpar as escarradeiras e os vômitos. Os doentes ficavam perplexos de verem um
médico fazendo isso, função dada somente a outros setores. Um dia, enquanto o
Dr. Ricardo varria o pátio, um outro médico disse à irmã: "Irmã Cherubina, mas isso é loucura! Ele tem um diploma de
medicina e está com uma vassoura na mão! Ele é um louco!" Ela
respondeu: “Ele vai ser um louco de amor
por Deus." O Dr. Ricardo ouviu suas palavras e respondeu
calmamente: "Tudo o que você
faz para Deus é grande, tanto com uma vassoura quanto com um diploma em
medicina.”
E assim escrevia, nos
seus propósitos, ao preparar-se para a profissão religiosa:
"Quero servir-Vos, meu Deus, no futuro, com
perseverança e amor supremo: nos meus superiores, nos irmãos, nos doentes,
vossos prediletos: dai-me a graça de os servir como Vos serviria a Vós."
Apesar de ser ótimo
médico, sua saúde começa a ficar sempre mais frágil com fortes febres e
pleurisia. Ele continuava seu trabalho até que as últimas migalhas de força.
Alguém perguntou: "Por que o Irmão
Riccardo vai à clínica com febre?" Ele respondeu: "É o meu lugar. Lá está Deus esperando
por mim." Sempre estava com um sorriso nos lábios e cantando
hinos a Nossa Senhora, a São João de Deus e aos Anjos, com as mãos sob o
Escapulário, sempre segurando Terço entre os dedos. Explicou: "Esta é minha arma favorita.
Com o Terço, o demônio foge."
Enquanto isso,
pleurisia e febre o devoram. Em 1929, teve fortes hemorragias. A pleurite que
ele tinha lhe causou também a tuberculose. Como era médico, o Irmão Ricardo viu
que não tinha muitas chances de sobreviver e que a morte podia estar próxima.
Mas ele não ficou triste.
Aceitou tudo com tranquilidade
e alegria e disse: "Se o
Senhor me deixar aqui, aceito de boa vontade. Se Ele me levar embora, vou de
boa vontade até Ele." Ficou vários meses de repouso, mas não
adiantou. Foi internado com febre alta.
Os médicos e colegas fizeram
de tudo para salvá-lo, mas a doença só piorou. Em 18 de abril de 1930, foi
internado com forte pneumonia em Milão.
Ele faleceu agitando
o Crucifixo nas mãos em 1º de maio de 1930, com quase 33 anos. Ele foi
beatificado pelo Papa João Paulo II em 1981 e canonizado em 1989.
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