Nºs 168 a 174
É verdade que às
vezes, perante um mundo cheio de tanta violência e egoísmo, os jovens podem
correr o risco de se fechar em pequenos grupos, privando-se assim dos desafios
da vida em sociedade, dum mundo vasto, estimulante e necessitado. Têm a sensação de viver o amor fraterno,
mas o seu grupo talvez se tenha tornado um simples prolongamento do próprio eu.
Isto agrava-se, se a
vocação do leigo for concebida unicamente como um serviço interno da Igreja
(leitores, acólitos, catequistas, etc.), esquecendo-se
que a vocação laical é, antes de mais nada, a caridade na família, a caridade
social e caridade política: é um compromisso concreto nascido da fé para a
construção duma sociedade nova, é viver no meio do mundo e da sociedade para
evangelizar as suas diversas instâncias, fazer crescer a paz, a convivência, a justiça,
os direitos humanos, a misericórdia, e assim estender o Reino de Deus no mundo.
Proponho aos jovens
irem mais além dos grupos de amigos e construírem a amizade social: buscar o bem comum chama-se amizade social.
A inimizade social destrói. E uma família destrói-se pela inimizade. Um país destrói-se pela inimizade. O
mundo destrói-se pela inimizade. E a inimizade maior é a guerra.
E hoje vemos que o
mundo se está a destruir pela guerra. Porque são incapazes de se sentar e falar
(…). Sede capazes de criar a amizade social. Não é fácil; sempre é preciso
renunciar a qualquer coisa, é preciso negociar, mas, se o fizermos a pensar no
bem de todos, podemos fazer a experiência maravilhosa de deixar de lado as
diferenças para lutar juntos por um objetivo comum. Quando se consegue encontrar pontos coincidentes no meio de tantas
divergências e, com esforço artesanal e por vezes fadigoso, lançar pontes,
construir uma paz que seja boa para todos, isso é o milagre da cultura do
encontro que os jovens podem ousar viver com paixão.
Reconhecemos que, embora
sob forma diferente relativamente às gerações passadas, o compromisso social é
um traço caraterístico dos jovens de hoje. Ao lado de alguns indiferentes, há
muitos outros disponíveis para se comprometerem em iniciativas de voluntariado,
cidadania ativa e solidariedade social, o que é preciso acompanhar e encorajar
para fazer surgir os talentos, as competências e a criatividade dos jovens e
estimular a assunção de responsabilidades por parte deles. O empenho social e o
contato direto com os pobres continuam a ser uma oportunidade fundamental para
descobrir ou aprofundar a fé e para discernir a própria vocação. Assinalamos
também a disponibilidade a empenhar-se em campo político para a construção do
bem comum.
Graças a Deus, hoje,
os grupos de jovens nas paróquias, escolas, movimentos ou grupos universitários
costumam ir fazer companhia a idosos e enfermos, visitar bairros pobres, ou
sair juntos para ajudar os mendigos nas chamadas noites da caridade. Com
frequência, reconhecem que, em tais atividades, o que recebem é mais do que
aquilo que dão, porque se aprende e amadurece muito quando se tem a coragem de
entrar em contato com o sofrimento dos outros. Além disso, nos pobres, há uma
sabedoria escondida, e eles, com palavras simples, podem ajudar-nos a descobrir
valores que não vemos.
Outros jovens
participam em programas sociais que visam construir casas para os sem-abrigo,
bonificar áreas contaminadas, ou recolher ajudas para os mais necessitados.
Seria bom que esta energia comunitária fosse aplicada não só em ações
esporádicas, mas de forma estável, com objetivos claros e uma boa organização
que ajude a realizar uma atividade mais continuada e eficiente. Os
universitários podem unir-se de forma interdisciplinar para aplicar os seus
conhecimentos na resolução de problemas sociais e, nesta tarefa, podem
trabalhar lado a lado com jovens doutras Igrejas e doutras religiões.
Como no milagre de
Jesus, os pães e os peixes dos jovens podem multiplicar-se. Como na parábola,
as pequenas sementes dos jovens tornam-se árvores e frutos de colheita. Tudo
isto se realiza a partir da fonte viva da Eucaristia, na qual o nosso pão e o
nosso vinho se transformam para nos dar a Vida eterna. Aos jovens, está
confiada uma tarefa imensa e difícil. Com fé no Ressuscitado, poderão
enfrentá-la com criatividade e esperança, colocando-se sempre na posição de
serviço, como os servos das bodas de Caná, colaboradores inesperados do
primeiro sinal de Jesus, só por terem seguido a recomendação de sua Mãe: Fazei o que Ele vos disser.
Misericórdia, criatividade e esperança fazem crescer a vida.
Quero encorajar-te a
assumir este compromisso, porque sei que
o teu coração, coração jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as
notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram
para as ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna.
Os jovens nas ruas;
são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixeis para
outros o ser protagonista da mudança! Vós sois aqueles que detêm o futuro! Através de vós, entra o futuro no mundo.
Também a vós, eu peço para serdes protagonistas desta mudança. Continuai a
vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas
que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-vos para serdes construtores
do futuro, trabalhai por um mundo melhor.
Queridos jovens, por
favor, não olheis da sacada a vida, entrai nela. Jesus não ficou na sacada,
mergulhou… Não olheis da sacada a vida, mergulhai nela, como fez Jesus. Mas sobretudo, duma forma ou doutra, lutai
pelo bem comum, sede servidores dos pobres, sede protagonistas da revolução da
caridade e do serviço, capazes de resistir às patologias do individualismo
consumista e superficial.
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