sábado, 30 de janeiro de 2016

São David Galván Bermúdez

O México, um dos países com maior numero de católicos, sofreu uma grande perseguição religiosa no inicio do século XX. Milhares de cristãos foram martirizados, de modo especial podemos contar a história de São David Galván Bermúdez, sacerdote, perseguido pela defesa de uma jovem e pelo zelo pelos moribundos por quem deu a vida dizendo: "Não haverá maior glória do que morrer salvando uma alma que eu consiga absolver!"

David nasceu em Guadalajara, no México em 1881, quando tinha apenas 3 anos de idade, sua mãe faleceu e David ficou aos cuidados de seu pai e seus irmãos. Mais tarde tendo seu pai casado novamente, passou a ser cuidado também por sua madrasta Victoriana Medina.
Logo manifestou a seu pai o desejo de ingressar no Seminário, tendo ele aceitado levá-lo para matricular-se em outubro de 1895. Ali cursou como aluno aplicado e sempre obtendo boas notas os cinco anos de latim e humanidades. Terminados os estudos, saiu do Seminário.

Os três anos em que esteve fora do Seminário, trabalhou numa sapataria, além de dar aulas como professor de escola primária. Teve uma conduta um tanto desregrada nesse tempo, ao ponto de ter sido detido numa briga com sua namorada.
Passada essa experiência, o jovem David, contando vinte e um anos de idade, sentiu novamente o intenso desejo de voltar ao Seminário, porque ouvia em seu interior o chamado de Deus; tornou-se muito devoto, piedoso e assíduo à oração e aos atos de culto; visitava o Santíssimo Sacramento e a Virgem de Zapopan e a invocava dizendo-lhe:
 "Minha Mãe, dai-me um norte para que eu conheça minha vocação"

Antes de admiti-lo, o Reitor do Seminário, Miguel de la Mora (São Miguel de la Mora, também mártir), o submeteu durante um ano a provas rigorosas que ele superou de maneira admirável, demonstrando vivo desejo em ser admitido. Já novamente seminarista, apresentou excelente conduta como aluno exemplar, piedoso e aplicado, ocupando quase sempre o primeiro lugar nas aulas.

No ano de 1909 o jovem David Galván foi ordenado diácono e em 20 de maio, festa da Ascensão, recebeu a Ordenação Sacerdotal.

O Padre Ramiro Camacho assim descreve a São David Galván Bermúdez:
"Índio de musculatura forte e robusta, um de seus olhos enxerga com dificuldade, puro de alma e corpo, admirado por seus discípulos por sua coragem e bravura".

Era um tempo de grande anticlericalismo, conforme  relato da época:
"Comemos e em seguida visitamos Veracruz... O Padre Galván e eu, temos andado "à paisana" como laicos, porque aqui há muito anticlericalismo; quase não há piedade... A tonsura tivemos de deixar crescer (refere-se ao cabelo da região superior-traseira da cabeça que é raspada nos clérigos quando são tonsurados); sendo notada somente se observada com atenção; é certo que nem por mal pensamento se deve supor que somos eclesiásticos"....
Os testemunhos declaram que o Padre Galván celebrava com grande devoção a Santa Missa, para a qual se preparava com uma hora de oração, e depois dava graças com grande fervor. Passava longos momentos em oração diante do Santíssimo, todos os dias, pela manhã e pela noite, na Igreja de Santa Mônica, anexa ao Seminário. Em sua vida sacerdotal deu exemplo de muitas virtudes porque foi sensível, humilde, obediente e serviçal; nutria grande devoção pela Santíssima Virgem Maria, honrando-a diariamente com a reza do Santo Rosário e transmitia essa devoção às crianças.

Esforçava-se por mortificar seus sentidos para evitar as ocasiões de pecado e ter pureza em todos seus atos.
Procurou sempre ajudar aos necessitados proporcionando instrução aos ignorantes, remédios aos enfermos e auxílios espirituais aos moribundos, sem que o impedisse a chuva, o frio, o sol, os barrancos ou quaisquer outras dificuldades.

No mês de julho de 1914 entrou em Guadalajara tropas do exército do general Venustiano Carranza, dissolvendo templos, conventos, seminaristas, religiosos e sacerdotes. Por esses dias os alunos e os professores do Seminário foram dispersados pelas forças do exército. 
Por essa razão o Padre Galván foi designado nesse ano, como vigário, a Amatitlán - Jalisco. Neste lugar uma jovem lhe pediu um conselho, já que Enrique Vera, militar, queria seduzi-la, sendo que era casado. O Padre Galván lhe aconselhou que se escondesse e que seus pais fizessem o mesmo. A jovem cometeu a imprudência de dizê-lo a Vera, despertando neste militar um verdadeiro ódio ao sacerdote, fazendo-o desejar uma vingança contra o Padre.

No fim do ano de 1914 Ficou preso por quase um mês por ordem do Tenente Enrique Vera.
Em 18 de janeiro de 1915, doze dias antes de sua morte, passou mais de seis horas auxiliando os feridos na linha de fogo em um terrível combate entre tropas do governo e rebeldes.
Na madrugada do sábado - 30 de janeiro – os combates de intensificam na cidade de Guadalajara e muitos caíram mortalmente feridos. O Padre Galván estava hospedado em uma casa do bairro do Santuário, onde, ao ouvir os ruídos do confronto, levantou pronto para ir auxiliar os feridos. Enquanto lhe pediam que não saísse porque o matariam, Padre Galván lhes respondeu:
"Não haverá maior glória do que morrer salvando uma alma que eu consiga absolver!"
Pediu ao Padre Rafael Zepeda Monraz que o acompanhasse para confessar os feridos, porém este sacerdote não quis acompanhá-lo devido ao grande perigo e lhe disse que não estavam obrigados a ir porque não eram os párocos ou ministros daquela região, ao que o Padre Galván lhe respondeu:
"Não por obrigação, mas sim por caridade".

Chamando o Padre José María Araiza para auxiliar aos que seriam fuzilados, porque tinha permissão do general. Em seguida os dois caminharam em direção ao Jardim Botânico quando ao passar em frente ao quartel, os soldados lhes perguntaram se eles eram religiosos e eles responderam que sim, eram sacerdotes, pelo que os soldados os detiveram.

O tenente coronel ainda Enrique Vera odiava o Padre Galván, neste mesmo dia Vera ordenou que os sacerdotes fossem encarcerados em um quarto do quartel. Assim o fez por seu ódio à Fé e para se vingar do sacerdote.

Estando presos há duas horas, os dois sacerdotes fizeram sua confissão sacramental e se deram mutuamente a absolvição. Às palavras do Padre Araiza, que lamentava por não ter sequer tomado o café da manhã, o Padre Galván lhe respondeu:
"Não importa, nós vamos comer com Deus".
Enrique Vera ordenou ao pelotão de soldados que levassem os dois sacerdotes para a Rua Coronel Calderón junto à parede oriente do Hospital Civil e que ali os fuzilassem.

Quando os retiraram, Petra e seu irmão menor se puseram a observar pelas "frestas" das portas de sua casa: o Padre David - recorda Petra - trazia as mãos atadas às costas e mantinha sua cabeça baixa; de seu pescoço pendia um longo cachecol branco.
Eram doze horas do dia 30 de janeiro de 1915; o Padre Galván, percebendo que sua morte era iminente, entregou aos soldados as moedas e outros objetos pessoais e a ampola com os Santos Óleos.

Em seguida, retirou seu chapéu, e sem permitir que lhe cobrissem os olhos, apontando para o próprio peito, disse aos algozes:
"Atirem aqui".

O subtenente Martín Ocampo ordenou a execução, os soldados dispararam as armas e o Padre caiu fuzilado, vítima do ódio à religião de Jesus Cristo.
Os familiares e amigos pediram às autoridades civis e militares a liberdade para os dois sacerdotes, mas quando chegaram com a ordem de indulto os soldados já haviam fuzilado o Padre Galván, servindo o indulto somente ao Padre José María Araiza, a quem mesmo assim mantiveram preso por mais cinco dias soltando-o somente quando lhes pagaram grande quantia em dinheiro.
Os restos mortais de Padre Galván, foram recolhidos pelas professoras María Dolores Alcaraz e María Soledad Dueñas que os colocaram num caixão e os conduziram em meio de uma silenciosa marcha e de uma grande multidão, até o colégio do Menino Jesus, localizado na Rua de Pedro Loza, onde foram velados por toda a noite por gente piedosa e por seus discípulos, amigos e companheiros.
O impressionante sepultamento ocorreu na tarde do domingo, 31 de janeiro de 1915. O cortejo fúnebre foi apoteótico, formado pela multidão de pessoas de todas as classes sociais, não obstante o temor que reinava nesse momento de perseguição.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Beata Villana de'Botti,


Já imaginou você se olhando no espelho e ao invés de ver a sua imagem, deparar-se com a figura do demônio?
O que você faria?
Villana, filha de Andrew de'Botti, um comerciante florentino, nasceu em 1332. Quando tinha treze anos, fugiu de casa para entrar em um convento, mas suas tentativas foram infrutíferas e foi forçada a voltar. Para evitar a repetição de sua fuga, seu pai, pouco depois obrigou-a a casar-se com Rosso di Piero.

Após seu casamento, ela mudou completamente, entregou-se ao prazer e à dissipação e viveu uma vida inteiramente ociosa e mundana.
Um dia, quando estava prestes a partir para uma festa, vestida com um lindo vestido adornado com pérolas e pedras preciosas, ao olhar-se no espelho, para seu espanto, o reflexo que encontrou seus olhos era o de um demônio hediondo. Um segundo e um terceiro espelho mostraram a mesma forma horrorosa. Profundamente alarmada e reconhecendo no reflexo a imagem de sua alma manchada pelo pecado, arrancou seus finos trajes e, vestida com as roupas mais simples que pode encontrar, dirigiu-se aos prantos aos padres dominicanos de Santa Maria Novella para fazer uma confissão geral e pedir a absolvição e ajuda.

Este foi o ponto de virada da sua vida, e nunca mais voltou atrás. Em pouco tempo, Villana foi admitida na Ordem Terceira de São Domingos, e após isso avançou rapidamente na vida espiritual.
Cumprindo todos os deveres de mulher casada, passou todo o tempo disponível em oração e leitura. Particularmente gostava de ler as Epístolas de São Paulo e a vida dos Santos.
Tão completamente dava-se a Deus, que muitas vezes foi arrebatada em êxtase, principalmente durante a Santa Missa, mas teve que passar por um período de perseguição, quando foi cruelmente caluniada e sua honra foi atacada.
Sua alma também foi purificada por fortes dores e por grande fraqueza física. No entanto, ela passou incólume por todas essas provações e foi recompensada por maravilhosas visões e colóquios com Nossa Senhora e outros Santos.

Frequentemente, a sala da casa em que morava ficava cheia de sobrenatural luz, e também foi dotada do dom da profecia. Enquanto ela estava deitada em seu leito de morte, pediu que fosse lida a Paixão de Cristo, e durante as palavras: "inclinando a cabeça, entregou o espírito", ela cruzou as mãos sobre o peito e faleceu.

Seu corpo foi levado para Santa Maria Novella, onde se tornou um tal objeto de veneração que por mais de um mês era impossível finalizar o funeral. As pessoas brigavam para obter pedaços de sua roupa. Foi homenageada como uma santa no dia de sua morte. Seu marido, durante o luto, quando se sentia desanimado e deprimido, encontrou forças visitando o quarto em que sua amada esposa havia morrido.

O culto à Beata Villana foi confirmado em 1824. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Algumas Histórias de São Tomás de Aquino

«Um frade tinha notado que frei Tomás deixava sempre o seu lugar de estudo antes das matinas, para descer à igreja e que, para não ser visto dos outros, se apressava a retornar ao seu quarto quanto tocava o sinal das matinas.
Tomado de curiosidade, decidiu um dia observá-lo. Ele entrou por detrás na capela de S. Nicolau, onde se demorou, mergulhado nas suas orações, e vi-o elevar-se nos ares, a dois côvados do chão. Enquanto estava a olhá-lo, cheio de
admiração, ouviu de repente, do lugar para onde o doutor se tinha virado para rezar com lágrimas, uma voz emanando do crucifixo que dizia: “Tomás, tu escreveste bem sobre mim. Que receberás tu de mim como recompensa pelo teu trabalho?”
Ele respondeu: “Nada, senão Vós, Senhor!”
  

«Os noviços são sempre noviços. Tinham-lhe dado a alcunha de “o boi mudo da Sicília”. (...) Pregavam-lhe partidas, brincando com a sua calma imperturbável e a sua confiança imediata. Só uma vez ele respondeu. Tinham gritado à sua janela: “Frei Tomás ! Frei Tomás ! Venha ver depressa ... um boi a voar !”. Obedientemente, ele veio à janela, para ser recebido à gargalhada. “Acreditou! Acreditou! Palerma! Palerma!”. E Tomás disse imperturbável: “Prefiro acreditar que um boi pode voar do que um Dominicano possa mentir”. E o riso acabou.»


«Quando celebrava missa na capela de S. Nicolau, Tomás sofreu uma transformação espantosa. Depois dessa missa não escreveu mais nem nunca mais ditou o que quer que fosse e até deixou o seu material de escrita. Estava nessa altura na terceira parte da Suma, no tratado da Penitência. A Reginaldo estupefato, que não compreendia porque razão ele abandonava a sua obra, o Mestre respondeu simplesmente “Não posso mais”. Voltando à questão um pouco mais tarde, Reginaldo recebe a mesma resposta “Não posso mais. Em
comparação com o que vi, tudo o que escrevi me parece palha”»


«Preso por seus irmãos que não queriam permitir que ele se fizesse Dominicano, uma noite, enquanto Tomás, fechado sozinho no seu quarto, se repousa debaixo de boa guarda, enviam-lhe uma esplêndida jovem, prostituta especializada na sua arte, com a missão de levá-lo à falta por olhares, toques, jogos e outros estratagemas.

Quando a vê, ele que exala já o amor esponsal pela sabedoria de Deus, ele o combatente invencível, sente por permissão da divina Providência em vista de triunfo mais glorioso, a excitação da carne que habitualmente tinha sob o domínio da razão. 
Brandindo um carvão ardente tirado da chaminé, expulsa com indignação a cortesã do seu quarto. Depois, cheio de fervor espiritual, chega ao ângulo do quarto e traça com a cabeça do tição o sinal da Santa Cruz na parede.   
Prostra-se em terra e, com lágrimas, pede a Deus que lhe conceda um cinto de perpétua castidade a fim de servir sem corrupção nos combates. Assim rezando e chorando, adormece rapidamente e eis que dois Anjos são enviados para lhe assegurar ter sido ouvido por Deus na vitória de um combate tão difícil. Eles o tomam de cada um dos lados pelos rins e dizem-lhe “Da parte de Deus e a teu pedido, nós te cingimos de um cinto de castidade que nenhuma violência te poderá arrancar. Aquilo que a virtude humana não pode atingir pelo seu mérito, isso te é oferecido em dom pela generosidade divina”. 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Beato Paulo José Nardini

Nasceu no dia 25 de Julho de 1822 em Germersheim, às margens do Reno, filho de mãe solteira, que não tendo um trabalho na época e, por conseguinte, estando incapacitada de manter o menino, se viu obrigada a dá-lo aos cuidados de seus tios Maria Bárbara e seu marido Antonio Nardini. Eles deram-lhe o sobrenome e amaram-no como filho, proporcionando-lhe uma educação sadia sob todos os aspectos. Ao concluir os estudos ginasiais, a vocação ao sacerdócio fez-se mais evidente e assim, após um requerimento de ingresso, foi admitido no Seminário e recebeu a Ordenação sacerdotal em 22 de Agosto de 1836. Ainda que sempre tenha amado muito a seus pais adotivos, não esqueceu nunca a sua mãe natural; quando foi nomeado pároco de Pirmasens, a levou para que vivesse com ele na casa paroquial.

No dia 17 de Fevereiro de 1851 foi-lhe confiada a difícil e pobre  paróquia de Pirmasens onde, até à sua morte, graças às suas não comuns capacidades humanas e morais, deu grandes provas de santidade.

É digno de nota o fato de que, animado por um grande zelo e desejoso de cuidar da instrução das crianças, tenha chamado, no mês de Junho de 1853, as Irmãs do Santíssimo Redentor de Niederborn. Elas foram para lá encarregadas também de prestar assídua assistência aos doentes, mas o trabalho superava as suas forças e acabaram por adoecer. 

Pe. Nardini substituiu-as com quatro jovens da Terceira Ordem de São Francisco, com as quais a 2 de Março de 1855 deu início à Congregação das "Pobres Franciscanas", nome que depois foi mudado para "Franciscanas da Sagrada Família". Quando faleceu, em 27 de Janeiro de 1862, o Instituto por ele fundado contava já cerca de 220 religiosas e 35 casas.
Em 1869 a sede central da Congregação foi transferida de Pirmasens para Mallersdorf, na Baviera. 

Como sacerdote diocesano e pároco exemplar, combateu corajosamente pela liberdade da Igreja, pregando sem cessar a palavra de Deus e cultivando uma veneração particular pelo Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Em Pirmasens, na capela da Congregação por ele fundada, o Servo de Deus repousa circundado por uma vivíssima fama de santidade.
Foi beatificado em 22 de outubro de 2006.



domingo, 24 de janeiro de 2016

Beata Maria Poussepin

Maria nasceu em uma antiga família de notáveis parisienses (procuradores, conselheiros, secretários do rei, etc.) remontando ao século XV, no dia 14 de outubro de 1653 em Dourdan, perto de Paris (França).
Seus pais Cláudio Poussepin e Juliana Fourrier formavam um casal de sólidas convicções religiosas que transmitiram a seus sete filhos, dos quais somente dois, Maria e Cláudio, chegaram a idade adulta. Era uma família relativamente abastada, mas o pai acabou na falência.
Maria era a mais velha e ainda jovem teve que retomar a fábrica de meias de seda de seu pai não só para prover às necessidades da sua família, mas também para a economia da aldeia. Nessa época a miséria era muito grande: as colheitas eram más, as doenças e as guerras frequentes deixavam a população num estado dramático.
Em 1685, o ateliê Poussepin era o único na França a fazer das meias uma profissão, e formar gerações de aprendizes. Em 1702, Dourdan, graças ao zelo da Srta. Poussepin, era a segunda cidade da França na fabricação de meias.
Como diretora da empresa, Maria introduziu novas máquinas e contratou jovens entre 15 e 22 anos, e fixou uma produção semanal mínima, quatro pares de meias não pagas. Mas, tudo que o aprendiz fazia a mais era largamente remunerado. Desta forma suprimia a necessidade destes pagarem um direito de formação à aprendizagem ao mestre de estágio. Esta prática muito inovadora permitiu oferecer às jovens pobres e aos órfãos, a possibilidade de adquirir um ofício. Ela criava empregos de modo a permitir que estes jovens saíssem da miséria por eles mesmos.

Além de sua responsabilidade de chefe de empresa, Marie Poussepin dedicava-se às obras de caridade da sua cidade como membro da Associação Internacional da Caridade AIC. Mas pouco a pouco foi transmitindo as responsabilidades da empresa para seu irmão para se dedicar mais a caridade.

Em 1692 o Pe. François Mespolié, dominicano, visita Dourdan e por meio dele Maria conhece a Ordem de São Domingos e encontra nela as respostas para seus desejos de uma vida espiritual mais intensa. Assim, a partir de 1693 passou a pertencer a Ordem Terceira Dominicana. Nestes grupos, Maria tornou-se logo a responsável, pelo zelo que mostrava em visitar os doentes, as viúvas, os mendigos. Estas obras apresentam as duas vertentes da sua caridade: a economia e a compaixão.

No início de 1696, Maria deixa Dourdan e se instala em Sainville, uma aldeia muito pobre, após ter-se comovido com a miséria das áreas rurais e em especial pelo estado das órfãs, das viúvas, das mulheres doentes e pela condição da mulher pobre da sua época.
Maria Poussepin fundou ali uma comunidade dominicana à qual deu todos os bens pessoais. Esta obra instalada na pequena Sainville é uma inovação: tratava-se de viverem juntas, de acordo com os costumes dominicanos, mas sem clausura, para poder irradiar a caridade; propunha-se assim a um desafio: lutar contra a miséria e viver plenamente a vida religiosa.
Em Sainville, Maria organizou uma pequena escola para as jovens. A comunidade aumentou e rapidamente outras comunidades foram criadas, sempre a serviço dos mais pobres, dos doentes, das órfãs. Durante a vida de Maria cerca de vinte comunidades existiam na região parisiense e também em Chartres.

Maria Poussepin instituiu uma Congregação original, as Irmãs de Caridade Dominicanas da Apresentação de Tours, onde as Irmãs atuam gratuitamente a serviço dos pobres e, além disso, devem ganhar a vida (na época da fundação, trabalho de tecelagem). Coloca o exercício da caridade no centro da vida religiosa e o trabalho um meio para viver a pobreza religiosa. Maria dava um lugar proeminente ao trabalho como verdadeira ascese e compromisso fraternal para atingir os objetivos da Congregação.

A Beata faleceu no convento de Sainville, o primeiro que se construiu, no dia 24 de janeiro de 1744 e foi beatificada em 1994 pelo Papa João Paulo II.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Santo Ildefonso de Toledo

Santo Ildefonso nasceu, numa família ilustre, no ano de 605 e morreu a 23 de Janeiro de 667. Sobrinho de Santo Eugenio, a quem sucedeu na Sé de Toledo, Santo Ildefonso escolheu a vida religiosa muito cedo, apesar da oposição do seu pai. Estudou no mosteiro de Agali, perto de Toledo, e depois em Sevilha, onde teve como mestre Santo Isidoro.

Quando era ainda um simples monge fundou um mosteiro de monjas em Deibiensi villula . Em 630 foi ordenado diácono por Heládio, abade de Agali, e posteriormente nomeado arcebispo de Toledo. Nomeado arcebispo de Toledo em 657, pelo rei Recesvindo, ocupou este cargo eclesiástico até à sua morte, em 23 de Janeiro de 667, tendo sido enterrado na Basílica de Santa Leocádia.

Os trabalhos de Santo Ildefonso merecem um lugar de destaque na literatura espanhola.
A virtude  principal na vida de Santo Ildefonso foi sua extrema fidelidade aos preceitos da Igreja,  o amor que nutria à Maria Santíssima e  propagação constante das mais belas devoções marianas. Seu brilhante desempenho como pastor de Toledo por cerca de  dez anos (de 657 a 667), fez com que administrasse a fé principalmente pela caridade a todos os homens, sem acepção de pessoas.

Era grande amigo e  apóstolo da  castidade, sendo a convicção católica uma das  características de seu zelo.  E foi com este caráter que militou valorosamente pela virgindade  da Mãe de Deus, precisamente na defesa da doutrina da Imaculada Conceição, que cerca de onze séculos mais tarde viria a tornar-se dogma pela bula da Imaculada Conceição (8 de dezembro de 1854, pontificado de Pio IX).

Assim, no fim do século VIII, o arcebispo de Toledo, Cixila, relata dois episódios maravilhosos, dos quais um tem sido amplamente ligado à vida de Santo Ildefonso por poetas e artistas. Neste episódio se narra que Santo Ildefonso estava a rezar perante as relíquias de Santa Leocádia, quando a santa mártir se levantou do túmulo e lhe agradeceu a sua devoção à mãe de Deus. Numa outra ocasião terá aparecido a Virgem Maria a Santo Ildefonso que o presenteou com uma veste de sacerdote para o recompensar da sua devoção.

Santo Ildefonso passou sua vida trabalhando para a glória de Deus  honrando Maria Santíssima, de quem era extremamente devoto.  A iconografia cristã o representa recebendo das mãos de Nossa Senhora um paramento religioso como presente da sua terna afeição, devoção e apostolado incansável na exaltação do Seu nome. É por isso que, apesar da distância secular que nos separa, seu nome permanece ainda hoje,  vivo como nunca,  como um dos maiores apóstolos marianos da Idade Média. 




sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Beata Laura Vicuña

A filha que oferece a vida pela salvação da própria mãe, Laura del Carmen Vicuña nasceu no dia 5 de abril de 1891 em Santiago, Chile. Ela foi a primeira filha da família Pino Vicuña. Seus pais eram José Domingo Vicuña, um soldado com raízes aristocráticas, e Mercedes Pino. Seu pai estava no serviço militar e sua mãe trabalhava em casa.

No final do século XIX a guerra civil eclodiu no Chile. Uma figura chave em uma das facções em guerra era Claudio Vicuña, parente de José Domingo. Claudio Vicuña não conseguiu se tornar presidente; seus inimigos começaram a perseguir a família Vicuña, o que os obrigou a fugir de sua terra natal.

Em 1894, após o nascimento de sua segunda filha, Júlia Amanda, José Domingo faleceu, deixando sua esposa e filhas sem dinheiro e em grande perigo. Mercedes decidiu viajar para a Argentina para se esconder daqueles que queriam a sua família morta.

Mercedes e suas filhas se mudaram para a província argentina de Neuquén. Em busca de uma forma de financiar a educação de suas filhas, ela conseguiu um emprego no albergue Quilquihué. Pressionada pelos assédios do patrão, Manuel Mora,Mercedes acaba aceitando uma união pecaminosa. Isto influenciava negativamente na educação das duas meninas. Embora Laura fosse ainda pequena, percebia a precariedade religiosa da mãe, já que esta não era admitida aos Sacramentos devido a sua vida irregular.
     
Laura logo entrou na Escola das Filhas de Maria Auxiliadora, onde lhe foi ensinado o amor à religião. Seguindo o exemplo de seu pai, e com o cuidado das freiras, ela começou a tomar um profundo interesse pela fé católica.
     
Laura fez sua Primeira Comunhão em 2 de junho de 1901. Naquele dia ela escreveu alguns propósitos muito similares aqueles do Santo aluno de Dom Bosco, Domingos Sávio:
     “Meu Deus, quero amar-Vos e servir-Vos por toda a vida; por isso Vos dou a minha alma, o meu coração, todo o meu ser. Antes quero morrer que ofender-Vos com o pecado; por isso desejo mortificar-me em tudo aquilo que me afastaria de Vós. Proponho fazer tudo o que sei e posso para que Vós sejais conhecido e amado, e para reparar as ofensas que todos os dias recebeis dos homens, especialmente das pessoas da minha família. Meu Deus, dai-me uma vida de amor, de mortificação, de sacrifício”.

Ela tinha uma boa amiga, Mercedes Vera, a quem ela expressava seus sentimentos mais profundos, como o seu desejo de se tornar freira. Mesmo muito jovem, Laura era madura o suficiente para entender os problemas de sua mãe, que incluía o distanciamento de Deus. Isso levou-a a rezar todos os dias para a salvação de sua mãe, e para ajudá-la a deixar Manuel.

Durante uma de suas férias escolares, Manuel Mora bateu duas vezes em Laura, porque não queria que ela se tornasse freira. Ele tratava Laura com excessivo interesse. Durante uma festa a convida para dançar e ao ser rechaçado a arrasta para fora de casa e ela tem que dormir ao relento. Mora reage cruelmente e decide não pagar a anuidade do colégio. Mas ela permaneceu firme no seu desejo de se tornar freira. Quando as freiras de sua escola souberam do conflito, deram-lhe uma bolsa de estudos. Embora ela fosse grata a suas professoras, ela ainda ficava preocupada com a situação de sua mãe.

Um dia, lembrando-se da frase de Jesus: "Não há ninguém maior do que aquele que dá a vida por seus irmãos", Laura decidiu dar sua vida em troca da salvação de sua mãe. Algum tempo depois ela ficou gravemente doente com tuberculose pulmonar.
     
Em setembro de 1903 ela não consegue sequer tomar parte nos exercícios espirituais, tão fraca tinha se tornado a sua saúde. Tentou-se uma mudança de clima, indo para a casa da mãe, mas isto também não se mostrou salutar. Retornou a Junin com a mãe, que se hospedou na cidade.
     
Em janeiro de 1904, Mora chegou de visita, com o propósito de permanecer na mesma habitação naquela noite. “Se ele ficar aqui, eu vou para o colégio das irmãs”, ameaçou Laura escandalizada. E assim faz, embora perturbada pela doença. Mora a perseguiu e alcançou, a espancou violentamente, deixando-a traumatizada. Chegando ao colégio ela se confessa com seu diretor espiritual, renovando o oferecimento da própria vida pela conversão da mãe.
     
No dia 22 de janeiro Laura recebeu o Viático e naquela tarde mandou chamar a mãe para transmitir a ela seu grande sonho: “Mamãe, vou morrer! Fui eu mesma que o pedi a Jesus. Há dois anos que Lhe ofereci a vida para obter a graça de que voltes para Ele. Mamãe, se eu antes de morrer pudesse ter a alegria de saber que estás em paz com Deus!”
     
Mercedes, chorando, respondeu: "Eu juro, eu farei o que você me pede! Deus é testemunha de minha promessa". Finalmente Laura sorriu e disse para sua mãe: "Obrigada, Jesus! Obrigada, Maria! Adeus, mãe! Agora eu morro feliz!"
     
Laura morreu de sua doença, enfraquecida pelo abuso físico que ela sofreu por parte de Mora, tendo oferecido a sua vida para a salvação de sua mãe. Por ocasião dos funerais, Mercedes se confessou e comungou junto com Júlia Amanda.
    
De 1937 a 1958, os despojos de Laura estavam no cemitério Nequén, após o que foram transferidos para Bahía Blanca.
     
As Irmãs Salesianas de Dom Bosco começaram o processo de canonização de Laura em 1950. A Congregação elegeu para o trabalho a Irmã Cecilia Genghini, que passou muitos anos na coleta de informações sobre a vida de Laura. Mas ela não viu a conclusão de seu trabalho: ela morreu no mesmo ano em que o processo começou.
     
Um incentivo para a Congregação foi a beatificação de São Domingos Sávio (5 de março de 1950) e a canonização de Santa Maria Goretti (24 de junho de 1950). Mas Laura não pode ser considerada uma mártir, e por causa de sua tenra idade não havia muita esperança para a sua beatificação. No entanto, em 1981, o processo foi concluída pela Congregação, e em 5 de junho de 1986 ela foi declarada Venerável.

     
Em 3 de setembro de 1988 Laura foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Sua festa é celebrada em 22 de janeiro. Ela é padroeira das vítimas de abuso.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Beato Basilio Antonio Maria Moreau

Padre Basílio Antônio Maria Moreau, nasceu em Laigné-en-Bélin (França) a 11 de Fevereiro de 1799. Iniciou o estudo do latim com o próprio pároco, continuando os estudos no Colégio de Chateau-Gontier e terminando-os no seminário maior de Le Mans, onde foi ordenado Sacerdote a 12 de Agosto de 1821. Frequentou os estudos superiores em Paris e, em seguida, na "Solitude D'Issy". Regressou a Le Mans, onde ensinou filosofia, teologia dogmática e Sagrada Escritura.
Em 1833 tornou-se co-Fundador do Bon-Pasteur em Le Mans, uma instituição para a reeducação dos malfeitores, da qual foi o superior eclesiástico. Em seguida, foi encarregado pelo Bispo de cuidar espiritualmente dos Irmãos de São José, fundados por Jacques-François Dujarié.
Contemporaneamente, fundou os Padres Auxiliares, com a finalidade de ajudar os párocos. A 1 de Março de 1837, uniu os Padres Auxiliares com os Irmãos de São José numa única Congregação, que chamou Santa Cruz. Este instituto teve o decreto de louvor a 18 de Junho de 1855 e a aprovação das Constituições por parte da Santa Sé em 13 de Maio de 1857. O próprio Beato emitiu os votos religiosos em 15 de Agosto de 1850. Completou a sua obra de fundador em 1841, fundando as Marianitas da Santa Cruz. Deste modo, realizou a sua ideia de uma única comunidade religiosa em três ramos, como a Sagrada Família de Nazaré.
A finalidade da nova Congregação era a educação, a pregação, especialmente nas localidades rurais e nas missões estrangeiras, o ministério paroquial, a difusão da boa imprensa e a direção de casas para auxiliar jovens delinquentes ou abandonados. Excelente pregador, homem de ação e oração, contribuiu para a introdução e progresso da Igreja Católica nos Estados Unidos, para a fundação das primeiras escolas cristãs na Argélia, iniciativa a que deu continuidade por desejo expresso de Pio IX. Por este e outros motivos mereceu, exatamente do Papa Pio IX, o título de "Missionário Apostólico".
Padre Moreau procurou sempre imprimir aos membros da família por ele fundada o espírito de união. Amava dizer: "a união faz a força e a desunião leva à ruína". Ainda mais do que o espírito de união e de colaboração recíproca, ele quis inculcar nos padres, nos irmãos e nas religiosas da Santa Cruz, uma confiança firme na Divina Providência. Considerando-se um simples instrumento nas mãos da Divina Providência, escreveu: “a obra da Santa Cruz não é do homem mas é obra do próprio Deus... eis porque vos imploro que vos renoveis no espírito da vossa vocação, que é um espírito de pobreza, de castidade e de obediência... com isto podemos contar com a providência. Pois ela se encarrega de prover a todas as necessidades daqueles que se abandonam à sua vontade, cumprindo os seus deveres. A obra da Santa Cruz é obra de Deus e, a partir do momento que Ele não permitiu a sua ruína, não obstante os golpes terríveis dos inimigos, Ele quer que ela subsista e se desenvolva cada vez mais".
Faleceu no dia 20 de Janeiro de 1873, em Le Mans e foi beatificado em 15 de setembro de 2007.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Santa Margarida da Hungria

Margarida era uma princesa, filha do rei Bela IV, da Hungria e da rainha Maria, de origem bizantina. Ela nasceu no castelo de Turoc, em 1242, logo foi batizada, pois os reis eram fervorosos cristãos. Aos dez anos, o casal real a entregou para viver e ser preparada para os votos religiosos, no mosteiro dominicano de Vespem, em agradecimento pela libertação da pátria dos Tártaros. 

Dois anos depois, fez a profissão de fé de religiosa num novo mosteiro, fundado para ela por seu pai, na Ilha das Lebres, localizada no rio Danúbio, perto de Budapeste. Em 1261, tomou o véu definitivo, entregando seu coração e sua vida a serviço do Senhor, tendo uma particular devoção pela Eucaristia e Paixão de Cristo. Ela realmente, era especial, foi um exemplo de humildade e virtude para as outras religiosas. Rezava sempre, e fazia penitencias, se oferecendo como vítima proposital, para a salvação do seu povo. 



Parece que Margarida era excepcionalmente bela. Aos 16 anos, o Arcebispo de Esztergom comunicou-lhe que o Papa Alexandre III a dispensava do voto dos pais, caso fosse de interesse da nação que ela se casasse. Com efeito, o Rei Otokar, da Boêmia, desejou sua mão após tê-la visto com hábito de religiosa.
     
Margarida, porém, estando acompanhada da prioresa declarou: "Honras-me sobremaneira, rei valente e poderoso, ao desejares que seja tua mulher, e está muito longe de mim desprezar a vocação de esposa. Mas como poderia fazê-lo, tendo presente o exemplo da bem-aventurada Virgem Maria, como também a dedicação da minha própria mãe querida, de quem sou a décima filha? Mas eu não nasci para ser esposa e mãe. A minha tarefa é completamente diversa. Por isso peço que te vás embora sem te zangares, e busca para ti uma esposa que possa fazer-te ditoso. Eu, ó rei, não poderia fazer-te feliz".

Margarida, não desejou ter uma cultura elevada. Sua instrução se limitou ao conhecimento primário da escrita e da leitura, talvez apenas um pouco mais que isto. Ela pedia que lhe lessem as Sagradas Escrituras e confiava sua direção espiritual ao seu confessor, o dominicano Marcelo, que era o superior da Ordem.

Como a maioria das religiosas do convento pertencia à nobreza, a princesa Margarida era tratada com especial consideração. Ao perceber isso, ela procurou escolher sempre os trabalhos mais humildes, repugnantes e tediosos. Cuidava dos doentes que padeciam os males mais repulsivos.
Possuía um ilimitado desapego às coisas materiais, amando plenamente a pobreza, o qual unido à sua vida contemplativa espiritual, a elevou a uma tal proximidade de Deus, que recebeu o dom das visões. 



Dois frades dominicanos tinham ido visitar o convento e Margarida pediu que eles permanecessem mais tempo. Eles responderam que tinham que partir imediatamente. A menina lhes disse: - "Vou obter que Deus faça chover de tal forma, que não podereis ir embora". Embora os frades dissessem que não haveria chuva que os detivesse, Margarida foi para a capela para rezar. A tormenta que desabou em seguida foi tão violenta, que impediu os frades de partirem.
Este episódio lembra o famoso caso ocorrido com Santa Escolástica e São Bento. 

Ela se tornou uma das grandes místicas medievais da Europa, respeitada e amada pelas comunidades religiosas, pela corte e população. Morreu em 18 de janeiro de 1270, no seu mosteiro.

A sua sepultura se tornou meta de peregrinação, pelas sucessivas graças e milagres atribuídos à sua intercessão. Um ano depois da sua morte, seu irmão, Estevão V, rei da Hungria, encaminhou um pedido de santidade, à Roma. Mas este processo desapareceu, bem como um outro, que foi enviado em 1276. Porém na sua pátria e em outros paises, Margarida já era venerada como Santa.

Depois de muitos desencontros, em 1729 um processo chegou em Roma, completo e contendo dados de autenticidade inquestionável. Neste meio tempo as relíquias de Margarida tinham sido transferidas, por causa da invasão turca, do convento da Ilha das Lebres para o de Presburgo em 1618.

Em 1804, mesmo sem o reconhecimento oficial, seu culto se estendia na Ordem Dominicana e na diocese da Transilvânia. No século XIX, sua festa se expandiu por todas as dioceses húngaras. A canonização de Santa Margarida da Hungria foi concedida pelo papa Pio XII em 1943, em meio ao júbilo dos devotos e fiéis, de todo o mundo, especialmente pelos da comunidade cristã do Leste Europeu, onde sua veneração é muito intensa.

domingo, 17 de janeiro de 2016

17 de janeiro - Santo Antão

Santo Antão teria nascido entre 250 e 260. Como lugar de origem, costuma-se dar a aldeia de Coma (Kiman-elArus), no Egito.
Seus pais eram camponeses abastados. Além de Antão, tinham uma filha. À morte dos pais, o jovem, de uns 18 a 20 anos, vendeu a propriedade, por amor ao Evangelho, distribuiu o dinheiro aos pobres, reservando apenas algo para sua irmã, menor que ele.
Posteriormente distribuiu também isso, consagrando sua irmã ao estado de virgem cristã. Retirou-se ele à vida solitária, perto de sua aldeia natal, segundo o costume da época.
É a etapa de sua formação monástica, de sua apaixonada dedicação à Escritura e à oração; é também o período de seus primeiros encontros com o demônio. Depois de certo tempo, buscando uma confrontação mais direta com o demônio, vai viver num cemitério abandonado, encerrando-se um mausoléu. Ali sofre ataques violentíssimos dos demônios, mas sem se deixar amedrontar, persevera em seu propósito.

Primeiros combates com os demônios
O demônio, que odeia e inveja o bem, não podia ver tal resolução num jovem, e se pôs a empregar suas velhas táticas também contra ele.
Primeiro tratou de fazê-lo desertar da vida ascética recordando-lhe sua propriedade, o cuidado de sua irmã, os apegos da parentela, o amor do dinheiro, o amor à glória, os inumeráveis prazeres da mesa e todas as demais coisas agradáveis da vida. Finalmente apresentou-lhe a austeridade e tudo o que se segue a essa virtude, sugerindo-lhe que o corpo é fraco e o tempo é longo. Em resumo, despertou em sua mente toda uma nuvem de argumentos, procurando fazê-lo abandonar seu firme propósito.
O inimigo viu, no entanto, que era impotente em face da determinação de Antão, e que antes era ele que estava sendo vencido pela firmeza do homem, derrotado por sua sólida fé e sua constante oração. Pôs então toda a sua confiança nas armas que estão "nos músculos de seu ventre" (Jo 40,16). Jactando-se delas, pois são sua preferida artimanha contra os jovens, atacou o jovem molestando-o de noite e instigando-o de dia, de tal modo que até os que viam Antão podiam aperceber-se da luta que se travava entre os dois. O inimigo queria sugerir-lhe pensamentos baixos, mas ele os dissipava com orações; procurava incitá-lo ao prazer, mas Antão, envergonhado, cingia seu corpo com sua fé, orações e jejuns.
Atreveu-se então o perverso demônio a disfarçar-se em mulher e fazer-se passar por ela em todas as formas possíveis durante a noite, só para enganar a Antão. Mas ele encheu seus pensamentos de Cristo, refletiu sobre a nobreza da alma criada por Ele, e sua espiritualidade, e assim apagou o carvão ardente da tentação.
E quando de novo o inimigo lhe sugeriu o encanto sedutor do prazer, Antão, enfadado com razão, e entristecido, manteve seus propósitos com a ameaça do fogo e dos vermes (cf Jd 16,21; Sir 7,19; Is 66,24; Mc 9,48) (20). Sustentando isto no alto, como escudo, passou por tudo sem se dobrar. Toda essa experiência levou o inimigo a envergonhar-se. Em verdade, ele, que pensara ser como Deus, fez-se louco ante a resistência de um homem. Ele, que em sua presunção desdenhava carne e sangue, foi agora derrotado por um homem de carne em sua carne. Verdadeiramente o Senhor trabalhava com este homem, Ele que por nós tornou-se carne e deu a seu corpo a vitória sobre o demônio. Assim, todos os que combatem seriamente podem dizer: "Não eu, mas a graça de Deus comigo" (1 Cor 15,10).
Assim chega aos 35 anos. Empreende então a separação decisiva: vai para o deserto, algo totalmente insólito nessa época. Santo Antão cruza o Nilo e se interna na montanha, onde ocupa um fortim abandonado. Ali passou quase vinte anos, não se deixando ver por ninguém, entregue absolutamente só à prática da vida ascética.
Pressionado pelos que queriam imitar sua vida, Santo Antão abandona a solidão e se converte em pai e mestre de monges. Conta cinquenta e cinco anos, e junto ao dom da paternidade espiritual, Deus lhe concede diversos outros carismas. Em torno dele forma-se uma pequena colônia de ascetas. Nesta etapa conta-se também a descida de Santo Antão e de seus discípulos a Alexandria, por ocasião da perseguição de Maximino Daia, para confortarem os mártires de Cristo ou ter a graça de sofrerem eles próprios o martírio.
Voltando à solidão, encontrou-a povoada demais para seus desejos. Fugindo então à celebridade, Santo Antão chega ao que  chama "Montanha interior" (a "Montanha" exterior, ou Pispir havia sido até então sua residência, e nela permanece a colônia de seus discípulos), o Monte Colzim, perto do Mar Vermelho. Apesar de tudo, de vez em quando visita seus irmãos, e estes vão a ele.
Neste tempo acontece  a maioria dos prodígios que lhes são atribuídos. A pedido dos bispos e dos cristãos, empreende segunda vez o caminho de Alexandria, para prestar seu apoio à verdadeira fé na luta contra o arianismo.
Os últimos anos de sua vida passou em companhia de dois discípulos. Vaticina sua morte, faz legado de suas pobres roupas e roga a seus acompanhantes que não revelem a ninguém o lugar de sua sepultura. Gratificado com uma última visão de Deus e de seus santos, morreu em grande paz. Ainda que Santo Antão não tenha sido o primeiro anacoreta, foi o primeiro a retirar-se ao deserto do Egito, e ainda que, além disso, seja muito difícil assinalar origens e iniciadores precisos num movimento humano tão complexo como o monástico, contudo, a figura se sobressai em forma tão extraordinária, que com razão é ele considerado pai da vida monástica e, especialmente, como modelo perfeito da vida solitária.

Milagres no deserto
Estes eram os conselhos a seus visitantes. Com os que sofriam unia-se em simpatia e oração, e amiúde e em muitos e variados casos, o Senhor ouviu sua oração. Nunca, porém, se jactou quando atendido, nem se queixou não o sendo. Sempre deu graças ao Senhor, e animava os que sofriam a ter paciência e a se aperceberem de que a cura não era prerrogativa dele nem de ninguém, mas de Deus só, que a opera quando quer e a favor de quem Ele quer. Os que sofriam ficavam satisfeitos, recebendo as palavras do ancião como cura, pois aprendiam a ter paciência e a suportar o sofrimento. E os que eram curados aprendiam a dar graças, não a Antão, mas a Deus só.
Uma menina de Busiris em Trípoli padecia de uma enfermidade terrível e repugnante: uma supuração nos olhos, nariz e ouvidos transformava-se em vermes quando caía no chão. Além disso tinha o corpo paralisado e seus olhos eram defeituosos. Seus pais ouviram falar de Antão por alguns monges que iam vê-lo, e tendo fé no Senhor que curou a hemorroísa (Mt 9,20), pediram-lhes licença para irem também com sua filha, e eles consentiram. Os pais e a menina ficaram ao pé da montanha com Pafnúcio, o confessor e monge. Os demais subiram, e quando se dispunham a falar-lhe da menina, ele adiantou-se e lhes falou tudo sobre os sofrimentos dela, e de como havia feito com eles a viagem. Então, quando lhe perguntaram se essa gente podia subir, não lhes permitiu e disse: "Podem ir e, se não morreu, vão encontrá-la sã. Não é certamente nenhum mérito meu que ela tenha querido vir a um infeliz como eu; não, em verdade, sua cura é obra do Salvador que mostra sua misericórdia em todo lugar aos que o invocam. Neste caso o Senhor ouviu sua oração, e Seu amor pelos homens me revelou que curará a enfermidade da menina onde ela está".
Em todo caso o milagre se realizou: quando desceram, encontraram os pais felizes e a menina em perfeita saúde.

Sucedeu também que quando dois dos irmãos estavam em viagem para vê-lo, acabou-se-lhes a água; um morreu e o outro estava a ponto de morrer. Já não tinha forças para andar, mas jazia no chão esperando também a morte. Sentado na montanha, Antão chamou dois monges que casualmente estavam ali e os compeliu a se apresarem: "Tomem um jarro d'água e corram descendo pelo caminho do Egito; vinham dois, um acaba de morrer e o outro também morrerá se vocês não se apressarem. Foi-me revelado isto agora na oração". Foram-se os monges, acharam um morto e o enterraram. Ao outro fizeram-no reviver com água e o levaram ao ancião. A distância era de um dia de viagem. Agora, se alguém pergunta porque não falou antes de morrer o outro, sua pergunta é injustificada. O decreto de morte não passou por Antão, mas por Deus que a determinou para um, enquanto revelava a condição do outro. Quanto a Antão, o admirável é que, enquanto estava na montanha com seu coração tranquilo, mostrou-lhe o Senhor coisas distantes.

Noutra ocasião em que estava sentado na montanha, olhando para cima viu no ar alguém levado para o alto entre grande regozijo de outros que lhe saíam ao encontro. Admirando-se de tão grande multidão e pensando quão felizes eram, orou para saber quem podia ser este. De repente uma voz se dirigiu a ele dizendo-lhe que era a alma do monge Amón de Nítria [56], que levou vida ascética até idade avançada. Pois bem, a distância de Nítria à montanha onde Antão estava era de treze dias de viagem. Os que estavam com Antão, vendo o ancião tão extasiado, perguntaram-lhe o motivo e ele lhes contou que Amón acabava de morrer. Este era bem conhecido pois vinha aí amiúde e muitos milagres foram operados por seu intermédio.

Noutra ocasião, o conde Arquelá o encontrou na Montanha Exterior e pediu-lhe somente que rezasse por Policrácia, a admirável virgem de Laodicéia, portadora de Cristo. Sofria muito do estômago e das costas devido à sua excessiva austeridade, o seu corpo estava reduzido a grande debilidade. Antão orou e o conde anotou o dia dessa oração. Ao voltar a Laodicéia encontrou curada a virgem. Perguntando quando se havia visto livre de sua debilidade, tirou o papel onde anotara a hora da oração. Quando lhe responderam, imediatamente mostrou a sua anotação no papel, e todos se maravilharam ao reconhecer que o Senhor a havia curado de sua doença no próprio momento em que Antão estava orando e invocando a bondade do Salvador em seu auxílio.

Quanto a seus visitantes, predizia frequentemente sua vinda, dias e às vezes um mês antes, indicando o motivo da visita. Alguns vinham só para vê-lo, outros devido a enfermidades, e outros, atormentados pelos demônios. E ninguém considerava viagem demasiado molesta ou que fosse tempo perdido; cada um voltava sentindo que fora ajudado.
Ainda que Antão tivesse esses poderes de palavra e visão, no entanto suplicava que ninguém o admirasse por essa razão, mas admirasse antes ao Senhor porque Ele nos ouve a nós, que somos apenas homens, a fim de que possamos conhecê-lo melhor.
Noutra ocasião havia descido de novo para visitar as celas exteriores. Quando convidado a subir a um barco e orar com os monges, só ele percebeu um mau cheiro horrível e sumamente penetrante. A tripulação disse que havia a bordo pescado e alimento salgado e que o cheiro vinha disso, mas ele insistiu que o odor era diferente. Enquanto estava falando, um jovem que tinha um demônio e subira a bordo pouco antes como clandestino, soltou de repente um guincho. Repreendido em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, foi-se o demônio, e o homem voltou à normalidade; todos então se aperceberam de que o mau cheiro vinha do demônio.

Outra vez um homem de posição foi a ele, possuído por um demônio. Neste caso o demônio era tão terrível que o possesso não estava consciente de que ia a Antão. Chegava mesmo a devorar seus próprios excrementos. O homem que o levou a Antão rogou-lhe que rezasse por ele. Compadecido pelo jovem, Antão orou e passou com ele toda a noite. Ao amanhecer, o jovem lançou-se de repente sobre Antão, empurrando-o. Seus companheiros indignaram-se diante disso, mas Antão acalmou-os, dizendo: "Não se aborreçam com o jovem, pois não é ele o responsável, e sim o demônio que nele está. Ao ser engripado e mandado a lugares desertos (Lc 11,24), ficou furioso e fez isto. Deem graças ao Senhor, pois o atacar-me deste modo é um sinal da partida do demônio". E enquanto Antão dizia isto, o jovem voltou a seu estado normal; deu-se conta de onde estava, abraçou o ancião e deu graças a Deus.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Santos Berardo, Otone, Acurcio, Pedro e Adiuto

A história desses mártires, nos cativa pela tenacidade com que esses jovens anunciam o Evangelho. O testemunho deles nos encanta e também encantou e inspirou um dos maiores santos da nossa Igreja.

Em 1219 São Francisco escolheu seis Frades de sua Ordem: Frei Vital, Frei Berardo, Frei Otone, Frei Acurcio, Frei Pedro, e Frei Adiuto e por saberem bem a língua árabe, os ao Marrocos, para pregarem e trabalharem pelo conversão à Fé de Cristo.
Frei Vital adoeceu, e mandou que os outros fossem para o Marrocos sem ele. Assim,  com seus hábitos escondidos, foram primeiro à Cidade de Sevilha, que então era dominada pelos mouros. Chegando lá, retornaram o uso do hábito e com o espírito ansiando pelo martírio, foram à principal Mesquita dos Mouros, e como em nela quisessem entrar, foram empurrados, e com brados e açoites expulsos de lá.

Levados à presença do rei, foram interrogados: Quem são vocês? Responderam que vinham a ele como embaixadores, enviados pelo Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores: Jesus Cristo.
E perante o Rei pregaram a Fé Católica, tentando evangeliza-lo, aconselhando-o que recebesse a  água do santo Batismo.

O rei, cheio de grande ira contra eles lhes mandou cortar-lhes as cabeças, mas apaziguado pelas palavras de um de seus filhos, que estava presente, os mandou meter em uma torre muito alta junto dos Paços, de cuja altura eles não deixavam de pregar em altas vozes a Fé de Cristo.
Incomodado pelas suas palavras, o rei,  para lhes impedir de continuar a evangelizar, os mandou meter no lugar mais profundo da Torre, e depois,  por conselho dos seus vassalos os mandou tirar, e levar ao Marrocos.

Nesse tempo estava no Marrocos o Infante Dom Pedro, filho do Dom Sancho, e irmão de Dom Affonso, em cuja casa os ditos Frades logo chegaram, e o Infante os recebeu. Os Frades quando viam  qualquer Mouro logo com muito fervor lhes pregavam, especialmente Frei Berardo.
Quando Dom Pedro viu que eles não queriam desistir da pregação, estimando-os por serem homens santos, mandou que todos os Frades fossem lançados fora da Cidade e lhes deu alguns de seus servidores para que os levassem até a Cidade de Ceyta, para dali saírem da terra dos mouros.

No entanto, os freis deixaram os guias e retornaram outra vez ao Marrocos, lá chegando, foram à praça da Cidade e diante de todos que lá estavam, começaram a pregar, louvando os merecimentos da Fé de Cristo, e denunciando os vícios e erros de Maomé e seus seguidores.
O rei os mandou logo meter em um estreito cárcere. Vinte dias ficaram presos, e neste tempo, caiu sobre  aquela terra , um calor excessivo e fora do normal, o ar ficando difícil de respirar. Alguns acreditavam que estes males estavam sendo causados pela injusta prisão dos Frades, e então, pelo conselho de um Mouro chamado Abotorim, o rei  consentiu que fossem soltos, e trazidos diante dele, mandou que fossem embora de suas terras.

Quando se viram soltos, logo sem algum medo outra vez quiseram tornar a pregar aos Mouros, mas outros cristãos que estavam com eles, receosos da ira do rei, não lhes consentiram e foram conduzidos mais uma vez para Ceyta, de onde retornariam para a Europa.
Mas os teimosos  frades, suspirando por seu martírio, despedindo-se daqueles que os levavam retornaram outra vez ao Marrocos, onde o Infante Dom Pedro os mandou logo recolher, e encerrar em sua casa com guardas que não os deixassem sair, porque receava que o rei não somente mandaria matar os frades, mas também a ele e a todos os cristãos que houvesse na cidade.

O rei a este tempo mandou o Infante Dom Pedro com outros nobres cristãos, e mouros, que serviam a ele fazendo guerra a um grupo de mouros seus vassalos, que tinham se rebelado.
Depois de batalha, vieram por uma terra tão seca que por três dias não puderam achar água para beber, e como a sede desesperasse a todos, Frei Berardo tomou na mão um pequeno pedaço de pau com que cavou um pouco na terra seca, donde milagrosamente saiu uma grande fonte de água doce, de que não somente saciou os homens e animais como também se abasteceram e encheram muitos odres que levaram para o caminho.

E como estes Santos Frades retornaram ao Marrocos, na casa do Infante lhes colocaram um guarda para que não saíssem. Eles mais uma fez fugiram, e em uma Sexta feira, que o rei ia visitar os sepulcros dos reis mouros, os frades se apresentaram ante ele, e Frei Berardo começou de lhe pregar sem receio, o rei se encheu de ira contra eles e mandou a um seu Capitão que logo lhes cortasse as cabeças, pelo qual os cristãos, que eram presentes, com temor de suas próprias mortes, logo fugiram dali.

Mais uma vez os frades foram levados à presença do rei que, diante de tanta teimosia para continuar a pregar e confessar a Fé Católica, reprovando e repreendendo a doutrina de Maomé, cheio de ira contra eles os mandou logo atormentar e açoitar, e tão sem piedade os açoitavam que as tripas lhes apareciam.

E assim foram por toda a noite atormentados, durante a noite, aqueles que os guardavam viram que um grande resplendor descia dos Céus, e maravilhados e espantados, abriram ao cárcere e acharam os Santos Frades devotamente orando.
Ouvindo esses testemunhos, o rei de Marrocos, aumentou a tortura contra eles, mandou que fossem levados com as mãos atadas e descalços pés, e depois seus corpos foram continuamente açoitados e espancados.
Como o rei os visse tão firmes na fé em Cristo, separou os freis  uns dos outros,  e por suas próprias mãos os degolou um a um. Assim se cumpriu o seu martírio no dia dezesseis de Janeiro do ano de 1220.

Estando o Infante com medo que algo lhe acontecesse também, decidiu partir antes que o rei o prendesse. Levou consigo os corpos do cinco féis martirizados e os enviou para Coimbra, em Portugal.
Ao chegaram em Coimbra, uma grande e solene procissão saiu para receber as sagradas Relíquias, e com muita devoção e grande solenidade as levaram ao Mosteiro de Santa Cruz, onde honradamente foram deixadas.
Quando a notícia do glorioso Martírio destes Santos Frades chegou a São Francisco, alegrando-se em seu espírito, disse: «Agora verdadeiramente posso dizer que tenho cinco irmãos no céu».

O testemunho desses Santos Mártires começou a resplandecer com muitos milagres atraindo muitos cristãos. Dentre eles destacamos o jovem Antonio que a este tempo era Cônego no Mosteiro de Santa Cruz. Ardendo com o desejo de semelhante martírio, ele entrou na Ordem dos Frades Menores, com a idade de vinte e cinco anos, e nela viveu durante dez anos, em santidade, e com testemunho de muitos milagres: um dos santos mais conhecidos e amados “Santo Antônio de Pádua”.