segunda-feira, 6 de maio de 2019

Christus vivit - Vós sois o agora de Deus: Acabar com todas as formas de abuso - nºs 95 a 102


Nºs 95 a 102

Nos últimos tempos, ouvimos o grito das vítimas dos vários tipos de abuso cometidos por alguns bispos, sacerdotes, religiosos e leigos. Estes pecados provocam nas suas vítimas sofrimentos que podem durar a vida inteira e aos quais nenhum arrependimento é capaz de pôr remédio. Este fenômeno, muito difuso na sociedade, toca também a Igreja e representa um sério obstáculo à sua missão.

É verdade que o flagelo dos abusos sexuais contra menores é um fenômeno historicamente difuso, infelizmente, em todas as culturas e sociedades, especialmente dentro das próprias famílias e em várias instituições, cuja extensão foi ressaltada sobretudo graças à mudança de sensibilidade da opinião pública. Mas, a universalidade de tal flagelo, não diminui a sua monstruosidade dentro da Igreja e, na ira justificada das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado.

O Sínodo reitera o firme empenho na adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam a sua repetição, começando pela seleção e formação daqueles a quem serão confiadas tarefas de responsabilidade e educativas.

Existem diferentes tipos de abuso: abusos de poder, econômicos, de consciência, sexuais. Torna-se evidente a tarefa de erradicar todas as formas de abuso.
O clericalismo é uma tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam o ministério recebido mais como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada.

Queremos expressar com afeto a gratidão a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido: ajudam a Igreja a tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com decisão. Mas também merece um reconhecimento especial o compromisso sincero de inumeráveis leigas e leigos, sacerdotes, consagrados, consagradas e bispos que diariamente se consomem, honesta e dedicadamente, ao serviço dos jovens. O seu trabalho é como uma floresta que cresce sem fazer barulho.

Graças a Deus, os sacerdotes que caíram nestes crimes horríveis não constituem a maioria; esta mantém um ministério fiel e generoso. Peço aos jovens que se deixem estimular por esta maioria. Em todo o caso, quando virdes um sacerdote em risco, porque perdeu a alegria do seu ministério, porque busca compensações afetivas ou está a tomar um rumo errado, tende a ousadia de lhe lembrar o seu compromisso para com Deus e o seu povo, anunciai-lhe vós mesmos o Evangelho e animai-o a permanecer no caminho certo. Assim, prestareis uma ajuda inestimável num ponto fundamental: a prevenção que permite evitar a repetição destas atrocidades.
Este não é o único pecado dos membros da Igreja, cuja história apresenta muitas sombras. Os nossos pecados estão à vista de todos; refletem-se, impiedosamente, nas rugas do rosto milenário da nossa Mãe e Mestra. Com efeito, desde há dois mil anos que ela caminha compartilhando as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens.
E caminha como é, sem cirurgias estéticas. Não tem medo de mostrar os pecados dos seus membros, que às vezes alguns deles procuram esconder, perante a luz ardente da Palavra do Evangelho que limpa e purifica. E não cessa de repetir cada dia, envergonhada: tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade; (...) tenho sempre diante de mim os meus pecados(Sl 51/50, 3.5).

No meio deste drama que justamente nos fere a alma, o Senhor Jesus, que nunca abandona a sua Igreja, dá-lhe a força e os instrumentos para um caminho novo. Assim, este momento sombrio, com a ajuda preciosa dos jovens, pode verdadeiramente ser uma oportunidade para uma reforma de alcance histórico, para se abrir a um novo Pentecostes e começar um período de purificação e mudança que dê à Igreja uma renovada juventude.

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