Nºs 95 a 102
Nos últimos tempos, ouvimos
o grito das vítimas dos vários tipos de abuso cometidos por alguns bispos,
sacerdotes, religiosos e leigos. Estes
pecados provocam nas suas vítimas sofrimentos que podem durar a vida inteira e
aos quais nenhum arrependimento é capaz de pôr remédio. Este fenômeno,
muito difuso na sociedade, toca também a Igreja e representa um sério obstáculo
à sua missão.
É verdade que o flagelo
dos abusos sexuais contra menores é um fenômeno historicamente difuso,
infelizmente, em todas as culturas e sociedades, especialmente dentro das
próprias famílias e em várias instituições, cuja extensão foi ressaltada
sobretudo graças à mudança de sensibilidade da opinião pública. Mas, a universalidade de tal flagelo, não
diminui a sua monstruosidade dentro da Igreja e, na ira justificada das
pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado.
O Sínodo reitera o
firme empenho na adoção de rigorosas medidas de prevenção que impeçam a sua
repetição, começando pela seleção e formação daqueles a quem serão confiadas
tarefas de responsabilidade e educativas.
Existem diferentes
tipos de abuso: abusos de poder, econômicos, de consciência, sexuais. Torna-se
evidente a tarefa de erradicar todas as formas de abuso.
O clericalismo é uma
tentação permanente dos sacerdotes, que interpretam o ministério recebido mais
como um poder a ser exercido do que como um serviço gratuito
e generoso a oferecer; e isto leva a julgar que se pertence a um grupo que
possui todas as respostas e já não precisa de escutar e aprender mais nada.
Queremos expressar
com afeto a gratidão a quantos têm a coragem de denunciar o mal sofrido: ajudam
a Igreja a tomar consciência do que aconteceu e da necessidade de reagir com
decisão. Mas também merece um reconhecimento especial o compromisso sincero de
inumeráveis leigas e leigos, sacerdotes, consagrados, consagradas e bispos que
diariamente se consomem, honesta e dedicadamente, ao serviço dos jovens. O seu
trabalho é como uma floresta que cresce sem fazer barulho.
Graças a Deus, os sacerdotes que caíram nestes crimes
horríveis não constituem a maioria; esta mantém um ministério fiel e generoso.
Peço aos jovens que se deixem estimular por esta maioria.
Em todo o caso, quando virdes um sacerdote em risco, porque perdeu a alegria do
seu ministério, porque busca compensações afetivas ou está a tomar um rumo
errado, tende a ousadia de lhe lembrar o seu compromisso para com Deus e o seu
povo, anunciai-lhe vós mesmos o Evangelho e animai-o a permanecer no caminho
certo. Assim, prestareis uma ajuda inestimável num ponto fundamental: a
prevenção que permite evitar a repetição destas atrocidades.
Este não é o único
pecado dos membros da Igreja, cuja história apresenta muitas sombras. Os nossos
pecados estão à vista de todos; refletem-se, impiedosamente, nas rugas do rosto
milenário da nossa Mãe e Mestra. Com efeito, desde há dois mil anos que ela
caminha compartilhando as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias
dos homens.
E caminha como é, sem
cirurgias estéticas. Não tem medo de mostrar os pecados dos seus membros, que
às vezes alguns deles procuram esconder, perante a luz ardente da Palavra do
Evangelho que limpa e purifica. E não cessa de repetir cada dia, envergonhada: tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua
bondade; (...) tenho sempre diante de mim os meus pecados(Sl 51/50,
3.5).
No meio deste drama
que justamente nos fere a alma, o Senhor Jesus, que nunca abandona a sua
Igreja, dá-lhe a força e os instrumentos para um caminho novo. Assim, este
momento sombrio, com a ajuda preciosa dos jovens, pode verdadeiramente ser uma
oportunidade para uma reforma de alcance histórico, para se abrir a um
novo Pentecostes e começar um período de purificação e mudança que dê à Igreja
uma renovada juventude.
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