quinta-feira, 30 de junho de 2016

Protomártires Romanos

Hoje celebramos esta antiga festa, que mostra que a Igreja, desde o início, concedeu uma reverência especial àqueles que testemunharam com seu sangue a fé em Cristo.
Não conhecemos os nomes dos Protomártires, mas sabemos que foi uma multidão. O Martirológio Jerônimo (Séc.V), sustenta o número 979.
Isso aconteceu na época de Nero, que foi imperador de 54 a 68. Foi ele quem desencadeou no Império a primeira grande perseguição contra os cristãos, que durou cerca de três anos, de 64 a 67.

Como nos diz o historiador latino Cornélio Tácito em sua obra "Os Annales" (15, 44), Nero aproveitou a oportunidade do incêndio de 19 de Julho do ano de 64, que atingiu diversos quarteirões no centro de Roma, para se defender da acusação de ter causado o incêndio, ele acusou os cristãos. A partir daí, foi mais fácil incitar a população pagã contra os cristãos e desencadear a perseguição.

Estes fatos ficaram bem gravados na memória. No ano 95/96 o Papa Clemente em sua carta à comunidade de Corinto, refere-se à perseguição: “Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos Pedro e Paulo… A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vitimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade” (5, 3-5; 6, 1)

O Papa Gregório XIII deu ordem para compor uma ópera em memória dos mártires, referindo-se a descrição de Tácito: “Em Roma, celebra-se o natal de muitíssimos santos mártires que, sob o império de Nero, foram falsamente acusados do incêndio da cidade e por sua ordem foram mortos de vários modos atrozes: alguns foram cobertos com pêlos de animais selvagens e lançados aos cães para que os fizessem em pedaços; outros, crucificados e, ao declinar do dia, usados como tochas para iluminar a noite. Todos eram discípulos dos apóstolos e foram os primeiros mártires que a santa Igreja romana enviou a seu Senhor antes da morte dos apóstolos”.

O local era o Circo de Nero, que coincide com o lado esquerdo da atual Basílica de São Pedro e o pátio exterior. A pequena praça ao lado da sacristia hoje é chamada de "Praça dos Protomártires Romanos”.

A palavra "mártir" em grego significa "testemunha" e foi amplamente usada em discursos judiciais. Durante as perseguições contra os cristãos indicou os homens que, com o sofrimento e a morte, se tornaram 'testemunhas' da fé em Cristo.
Cristo é o primeiro mártir e a sua Igreja por uma boa razão pode ser chamada de "Igreja dos Mártires".

Nas Constituições Apostólicas (Sec. IV), lemos: "Aquele que é condenado pelo nome do Senhor Deus é um santo mártir, é um irmão do Senhor, um filho do Altíssimo" (V, 2).
As perseguições imperiais terminaram no início do século IV, no Ano de 313 d.C., pelo Edito de Milão, o imperador romano Constantino, convertido ao cristianismo, proibiu a perseguição aos cristãos, que começou desde Nero, a partir do ano 67. Os mártires cristãos sofreram o desterro, deportação, trabalhos forçados, mortos pela fogueira, feras, lançados ao mar, etc. Isto porque eram considerados como ateus porque não adoravam os deuses do Império Romano e não aceitavam queimar incenso a César, considerado deus, mas a Igreja nunca deixou de ser perseguida. No século passado, o número de cristãos mortos por ódio à fé foi maior do que nos três primeiros séculos.

Com o tempo, o conceito de "testemunha" assumiu um significado mais amplo, como resultado das mudanças de atitude em relação à Igreja e à fé cristã.
Já S. Tomás de Aquino, afirma que deve ser considerado mártir, cuja morte que faz referência à morte de Cristo, aquele que defende a sociedade contra os ataques daqueles que querem corromper a fé cristã. (Cf. In IV Sent, Dist. 49, q. 5, a. 3).
Dom Tomasi, Observador Permanente da Santa Sé na ONU, declarou que mais de 100 mil cristãos são violentamente mortos a cada ano por sua fé. Outros, acrescentou, são obrigados a fugir, violentados, torturados ou sequestrados por causa de sua religião (Fonte Zenit, 13/5/29).
Ainda no século XXI, a Igreja é mártir. Os cristãos devem ser conscientes. Por esta razão, é importante retornar à carta acima mencionada do Papa Clemente: “Escrevemos isto, caríssimos, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combateremos o mesmo combate”. Sim, ainda hoje o cristão deve lutar, provavelmente em outras arenas, para ser sempre coerente com a sua fé.

A exortação de São Inácio, bispo de Antioquia, que foi martirizado em Roma no ano de 107 (alguns historiadores dizem 110) é extremamente relevante hoje. Em suas cartas enfatiza repetidamente que não basta se dizer cristão, é preciso dar provas disso também em nosso agir, ainda que custe a morte.

O Cardeal Camillo Ruini em sua “Lectio Magistralis”, realizada na Fundação 'Magna Carta', (Roma, 06 de maio de 2013) defendeu o direito de objeção de consciência, e acrescentou: "Não compete a uma maioria estabelecer o que é verdadeiro ou falso, nem o que é em si mesmo justo ou injusto. O jogo democrático não é a verdade sobre as coisas, mas apenas as regras comuns de comportamento. Aqueles que por razões de consciência, acreditam que não podem cumprir estas normas, é justo que tenham a possibilidade de objeção de consciência. Se as leis, nesse caso, não consentem tal objeção, poderá dar testemunho de suas convicções de forma mais cara, mas também mais forte, enfrentando as sanções previstas em lei. De fato, os objetores de consciência mais heroicos e eficientes foram e são os mártires cristãos das diversas épocas históricas".

A vocação ao martírio não é uma característica da Igreja dos primeiros séculos, mas é parte intrínseca de sua natureza.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

São Pedro e São Paulo, Apóstolos

"O martírio dos santos apóstolos Pedro e Paulo consagrou para nós este dia. Não falamos de mártires desconhecidos. Sua voz ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do mundo a sua palavra (Sl 18,5). Estes mártires viram o que pregaram, seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.

Pedro, o primeiro dos apóstolos, que amava Cristo ardentemente, mereceu escutar: Por isso eu te digo que tu és Pedro (Mt 16,19). Antes, ele havia dito: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo (Mt 16,16). E Cristo retorquiu: Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja (Mt 16,18). Sobre esta pedra construirei a fé que haverás de proclamar. Sobre a afirmação que fizeste: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo, construirei a minha Igreja. Porque tu és Pedro. Pedro vem de pedra; não é pedra que vem de Pedro. Pedro vem de pedra, como cristão vem de Cristo.

Como sabeis, o Senhor Jesus, antes de sua paixão, escolheu alguns discípulos, aos quais deu o nome de apóstolos. Dentre estes, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (Mt 16,19). Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja una. Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representava a universalidade e a unidade da Igreja, quando lhe foi dito: Eu te darei. A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus, ouvi o que, em outra passagem, o Senhor diz a todos os seus apóstolos: Recebei o Espírito Santo. E em seguida: A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos (Jo 20,22-23).

No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor entregou a Pedro a responsabilidade de apascentar suas ovelhas. Não que dentre os outros discípulos só ele merecesse pastorear as ovelhas do Senhor; mas quando Cristo fala a um só, quer, deste modo, insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque, entre os apóstolos, Pedro é o primeiro.

Não fiques triste, ó apóstolo! Responde uma vez, responde uma segunda, responde uma terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que por três vezes o temor venceu a tua presunção. Desliga por três vezes o que por três vezes ligaste. Desliga por amor o que ligaste por temor. E assim, o Senhor confiou suas ovelhas a Pedro, uma, duas e três vezes.

Num só dia celebramos o martírio dos dois apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos."     
Santo Agostinho, bispo

terça-feira, 28 de junho de 2016

Beata Maria Pia Mastena

Mediante o Batismo somos inseridos em Cristo, Luz do mundo, luz bem visível e iluminadora foi a que fez brilhar a beata Maria Pia Mastena, a qual viveu a sua condição de religiosa, na busca contínua de levar ao rosto dos irmãos, o esplendor da Sagrada Face, por ela tão amada. O rosto do homem, sobretudo quando é deturpado pelo pecado e pelas misérias deste mundo, só poderá resplandecer quando for conforme ao de Cristo, martirizado na Cruz e transfigurado pela glória do Pai.
Madre Mastena sentiu a forte tensão missionária de "levar o Rosto de Jesus aos homens de todo o mundo, aos lugares mais pobres e abandonados". Olhando para a santidade da beata Madre Mastena é legítimo reconhecer nela uma grande artista que soube imprimir em si mesma a Imagem de Cristo, assumindo, mediante a prática de tantas virtudes, o "Rosto dos rostos", o Rosto mais belo que possa haver entre os filhos dos homens. Ela conseguiu fazer transparecer, pelas suas características pessoais, o Rosto do Senhor nas expressões da misericórdia, da caridade, do perdão, do serviço a tempo inteiro às pessoas mais necessitadas. Com grandes sacrifícios, dificuldades, fé e tenacidade, em 1936, a beata Mastena fundou a Congregação das Religiosas da Sagrada Face, transmitindo às suas irmãs de hábito o seu projeto de vida, que em síntese definia:  "propagar, reparar, restabelecer a Face de Cristo nos irmãos". Assim explicava, com poucas palavras, mas intensas, às jovens Irmãs, o carisma das religiosas da Sagrada Face:  "Quando um irmão está triste e sofre é nossa tarefa fazer com que o sorriso volte ao seu rosto... Esta é a nossa missão:  fazer sorrir o rosto do doce Jesus no rosto do irmão!".
Num mundo de pessoas distraídas em relação às coisas eternas é atual como nunca o exemplo esplendoroso da beata Madre Mastena de cujo rosto transparecia, como filigrana, o rosto sorridente de Cristo. Toda a pessoa da Madre Maria Pia estava repleta da presença de Cristo Crucificado e Ressuscitado, de maneira evidentemente superabundante, a ponto de a estimular a servi-lo nos pobres de todos os gêneros e a identificar-se na Eucaristia celebrada e adorada.
Homilia de beatificação – Cardeal José Saraiva Martins – 13 de novembro de 2005

Maria Pia Mastena nasceu em Bovolone, na província de Verona, Itália, aos 7 de dezembro de 1881. Dos pais da beata as testemunhas falam que eram ótimos cristãos e muito fervorosos na prática religiosa e no exercício da caridade. Dos quatro irmãos, o último, Tarcísio, entrou na Ordem dos Frades Capuchinhos e morreu também com fama de santidade.
Aos 10 anos, Maria recebeu com grande fervor a primeira comunhão, e nessa ocasião emitiu privadamente o voto de castidade. Alguns meses depois recebeu o sacramento da Confirmação. Durante a adolescência foi assídua às funções religiosas e às atividades da paróquia, particularmente como catequista.

Logo nela se fez sentir o chamado à vida religiosa, perseguindo o seu ideal marcado por uma forte devoção eucarística e à Sagrada Face. Pediu para entrar no convento na idade de 14 anos, mas foi aceita somente aos 20 anos, como postulante, no Instituto das Irmãs da Misericórdia, de Verona.
Com a licença dos Superiores, aos 11 de abril de 1903, fez pessoalmente « voto privado de vítima ».
Vestiu o hábito religioso aos 29 de setembro de 1902, e aos 24 de outubro de 1903 emitiu os votos religiosos e foi-lhe imposto o nome de Irmã Passitea do Menino Jesus. A Beata viveu com generosa intensidade espiritual esta primeira etapa de vida religiosa e lembrar-se- á sempre dela como um tempo de graça e de bênção e sempre falará com estima e reconhecimento dos superiores e das coirmãs do Instituto das Irmãs da Misericórdia. O fervor encontrado neste Instituto levá-la-á a fazer em seguida o voto de buscar em tudo a coisa mais perfeita.

Desenvolveu a tarefa de professora em diversos lugares do Veneto, vivendo 19 anos em Miane, dedicando-se também a um intenso apostolado entre os alunos de todas as idades, doentes e inábeis.

Com a autorização dos seus Superiores e a permissão da Santa Sé, entrou, aos 15 de abril de 1927, no mosteiro Cisterciense São Giacomo de Veglia, para secundar o seu anelo contemplativo.
Aos 15 de novembro de 1927, encorajada pelo Bispo de Vittorio Veneto, saiu do Mosteiro, retomou o ensino e passou à instituição de uma nova Congregação denominada Religiosas da Sagrada Face. Ereta canonicamente aos 08 de dezembro de 1936, depois de muitos sofrimentos, foi reconhecida como Congregação de Direito Pontifício aos 10 de dezembro de 1947.
Toda a sua atividade seguinte foi dedicada à consolidação e à expansão da Congregação, promovendo novas iniciativas para os pobres, sofredores e doentes, confiando ao Instituto o carisma de « propagar, reparar, restabelecer a imagem do doce Jesus nas almas ».
Morreu em Roma, aos 28 de junho de 1951.

"Sofrer, mas nunca fazer sofrer."
"Fazei de nós Senhor, peregrinos em busca da vossa Face."
“Amar, arder. Sacrificar-se, consumar-se.”



segunda-feira, 27 de junho de 2016

São Cirilo de Alexandria - Discurso pronunciado no Concílio de Éfeso sobre Maria – ano 431


"Salve, ó Maria, Mãe de Deus, virgem e mãe, estrela e vaso de eleição! 
Salve, Maria, virgem, mãe e serva: virgem, na verdade, por virtude daquele que nasceu de ti; mãe por virtude daquele que cobriste com panos e nutriste em teu seio; serva, por aquele que amou de servo a forma! Como Rei, quis entrar em tua cidade, em teu seio, e saiu quando lhe aprouve, cerrando para sempre sua porta, porque concebeste sem concurso de varão, e foi divino teu parto. 
Salve, Maria, templo onde mora Deus, templo santo, como o chama o profeta Davi, quando diz: "O teu templo é santo e admirável em sua justiça" (Sl 64). 
Salve, Maria, criatura mais preciosa da criação; salve, Maria, puríssima pomba; salve, Maria, lâmpada inextinguível; salve, porque de ti nasceu o sol da Justiça! 
Salve, Maria, morada da infinitude, que encerraste em teu seio o Deus infinito, o Verbo unigênito, produzindo sem arado e sem semente a espiga incorruptível! 
Salve, Maria, mãe de Deus, aclamada pelos profetas, bendita pelos pastores, quando com os anjos cantaram o sublime hino de Belém: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade" (Lc 2,14). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, alegria dos anjos, júbilo dos arcanjos que te glorificam no céu! Salve, Maria, Mãe de Deus: por ti adoraram a Cristo os Magos guiados pela estrela do Oriente; salve, Maria, Mãe de Deus, honra dos apóstolos! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem João Batista, ainda no seio de sua mãe exultou de alegria, adorando como luzeiro a perene luz! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, que trouxeste ao mundo graça inefável, da qual diz são Paulo: "apareceu a todos os homens a graça de Deus salvador" (Tt 2,1). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, que fizeste brilhar no mundo aquele que é luz verdadeira, a nosso Senhor Jesus Cristo, que diz em seu Evangelho: "eu sou a luz do mundo!" (Jo 8,12). Deus te salve, Mãe de Deus, que iluminaste aos que estavam em trevas e sombras de morte; porque o povo que jazia nas trevas viu uma grande luz (Is 9, 2), uma luz não outra senão Jesus Cristo nosso Senhor, luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo (Jo 1,9). 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem se apregoa nos Evangelhos: "bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 21,9), por quem se encheram de igrejas nossas cidades, campos e vilas ortodoxas! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o vencedor da morte e o destruidor do inferno! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem veio ao mundo o autor da criação e o restaurador das criaturas, o Rei dos céus! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem floresceu e refulgiu o brilho da ressurreição! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem luziu o sublime batismo de santidade no Jordão! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem o Jordão e o Batista foram santificados e o demônio foi destronado! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, por quem é salvo todo espírito fiel! 
Salve, Maria, Mãe de Deus, - pois acalmaste e serenaste os mares para que pudessem nossos irmãos cooperadores e pais e defensores da fé, serem conduzidos, com alegria e júbilo espiritual, a esta assembléia de entusiásticos defensores de tua honra!"

Cirilo de Alexandria


São Cirilo de Alexandria. Ligado à controvérsia cristológica que levou ao Concílio de Éfeso do ano 431, último representante de importância da tradição alexandrina, Cirilo foi definido mais tarde no Oriente como «Custódio da exatidão» – que quer dizer custódio da verdadeira fé – e inclusive como «selo dos Padres».


Venerado como santo tanto no Oriente como no Ocidente, em 1882 São Cirilo foi proclamado doutor da Igreja pelo Papa Leão XIII.

Chegaram-nos poucas notícias sobre a vida de Cirilo antes de sua eleição à importante sede de Alexandria. Sobrinho de Teófilo, que desde o ano 385 como bispo regeu com mão firme e prestigio a diocese de Alexandria, Cirilo nasceu provavelmente nessa mesma cidade egípcia entre o ano 370 e 380. Depois abraçou a vida eclesiástica e recebeu uma boa educação, tanto cultural como teológica. Após a morte do seu tio Teófilo, sendo ainda jovem, Cirilo foi eleito no ano 412 como bispo da influente Igreja de Alexandria, governando-a com grande energia durante 32 anos, buscando afirmar sempre o primado em todo o Oriente, fortalecido também pelos laços tradicionais com Roma.

Dois ou três anos depois, no ano 417, o bispo de Alexandria deu provas de realismo ao sanar a ruptura da comunhão com Constantinopla, que acontecia desde o ano 406, após a deposição de Crisóstomo. Mas o antigo contraste com a sede de Constantinopla voltou a estourar dez anos depois, quando no ano 428 foi eleito Nestório, monge severo e de prestígio formado em Antioquia. O novo bispo de Constantinopla suscitou logo oposições, pois em sua pregação preferia para Maria o título de «Mãe de Cristo» («Christotòkos»), ao invés de «Mãe de Deus» (Theotòkos»), já então muito querido pela devoção popular.

O motivo dessa decisão do bispo Nestório era sua adesão à cristologia da tradição de Antioquia que, para salvaguardar a importância da humanidade de Cristo, acabava afirmando sua separação da divindade. Deste modo, já não era uma autêntica união entre Deus e o homem em Cristo e, portanto, já não podia falar-se de «Mãe de Deus».

A reação de Cirilo, então máximo expoente da cristologia de Alexandria, que sublinha intensamente a unidade da pessoa de Cristo, foi imediata e se deslocou com todos os meios já a partir do ano 429, entre outras coisas, enviando algumas cartas ao mesmo Nestório.
Na Segunda Carta que Cirilo enviou, em fevereiro de 430, lemos uma clara afirmação do dever dos pastores de preservar a fé do Povo de Deus. Este era seu critério, válido também para hoje: a fé do Povo de Deus é expressão da tradição, é garantia da sã doutrina. Escreve estas linhas a Nestório: «É necessário expor ao povo de Deus o ensinamento e a interpretação da fé de maneira mais irrepreensível e recordar que quem escandaliza ainda que for a um só dos pequenos que crêem em Cristo, sofrerá um castigo intolerável».

Na mesma carta a Nestório, carta que mais tarde, no ano 451, teria sido aprovada pelo Concilio de Calcedônia, quarto concilio ecumênico, Cirilo descreve com clareza sua fé cristológica: «São diversas as naturezas que se uniram em uma verdadeira unidade, mas de ambas resultou um só Cristo e Filho, não porque por causa da unidade se tenha eliminado a diferença das naturezas humana e divina, mas porque humanidade e divindade reunidas de forma inefável produziram o único Senhor, Cristo, o Filho de Deus».

Isso é importante: realmente a verdadeira humanidade e a verdadeira divindade se unem em uma só Pessoa, nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, continua dizendo o bispo de Alexandria, «professamos um só Cristo e Senhor, não só no sentido de que adoramos o homem junto com o ‘Logos’, para não insinuar a idéia da separação dizendo ‘junto’, mas no sentido de que adoramos um só, pois seu corpo não é algo alheio ao ‘Logos’, com o qual está sentado à destra do Pai. Não estão sentados a seu lado dois filhos, mas um só, unido com a própria carne».

Rapidamente, o bispo de Alexandria, graças a agudas alianças, conseguiu que Nestório fosse condenado repetidamente: por parte da sede romana com uma série de doze anátemas redigidos por ele mesmo e, finalmente, pelo Concílio de Éfeso, no ano 431, o terceiro concílio ecumênico.

A assembleia, que se desenvolveu com vicissitudes tumultuosas, concluiu com o primeiro grande triunfo da devoção a Maria e com o exílio do bispo de Constantinopla, que não queria reconhecer à Virgem o título de «Mãe de Deus», por causa de uma cristologia equivocada, que criava divisão no próprio Cristo. Depois de ter prevalecido deste modo sobre o rival e sua doutrina, Cirilo soube alcançar já no ano 433 uma fórmula teológica de compromisso e de reconciliação com os de Antioquia. E isso também é significativo: por uma parte se dá a clareza da doutrina da fé, mas por outra, a intensa busca da unidade da reconciliação. Nos anos seguintes, ele se dedicou com todos os meios a defender e esclarecer sua posição teológica até a morte, ocorrida em 27 de junho do ano 444.

domingo, 26 de junho de 2016

São Josemaría Escrivá de Balaguer


Foram umas pegadas na neve. As pegadas de um carmelita, que caminhava de pés descalços por amor a Deus. Ao vê-las, Josemaria experimentou na alma uma profunda inquietação divina, que suscitou nele um forte desejo de entrega. Outros a fazer tantos sacrifícios por Deus e ele - interrogou-se -… não seria capaz de lhe dar nada? 


Pode surpreender que um motivo de tão pouca importância – umas pegadas na neve – baste para que um adolescente tome uma decisão tão grande: dedicar a sua vida inteira a Deus; mas é essa a linguagem com que Deus costuma chamar os homens, e assim são as respostas, os sinais de fé, das almas generosas que procuram a Deus com sinceridade. Não foi uma simples reação, emotiva e passageira.


Josemaría Escrivá de Balaguer nasceu em Barbastro, Huesca, na Espanha, no dia 9 de janeiro de 1902. Os pais, José e Dolores, tiveram seis filhos, sendo que as três meninas mais novas morreram ainda criança. O casal deu aos filhos uma profunda educação cristã.

Em 1915, a indústria de tecido do pai faliu e a família mudou-se para Logronho, onde havia mais trabalho. Nessa cidade, Josemaría reconheceu sua vocação religiosa. Intuiu que Deus desejava algo dele, depois de observar na neve algumas pegadas dos pés descalços de um frade. Em vez de ficar tentando descobrir o que ele lhe pedia, decidiu p
rimeiro tornar-se sacerdote. Ingressou no seminário de Saragoça, onde também cursou direito como aluno voluntário. Seu pai morreu em 1924, e ele se viu como chefe de família. No ano seguinte, recebeu a ordenação sacerdotal e foi exercer o seu ministério numa paróquia rural e, depois, em Saragoça também.

Com autorização do seu bispo, em 1927 foi para Madri, com o objetivo de formar-se em direito. Um ano depois, durante um retiro espiritual, pediu a Deus para mostrar-lhe com clareza o que precisava ser feito e, assim, funda a Opus Dei, um caminho moderno de evangelização para a Igreja. Desde então, trabalhava na instituição, ao mesmo tempo que continuava exercendo o seu ministério, especialmente entre os pobres e doentes. Além disso, estudava na Universidade de Madrid e dava aulas para manter a família.

A missão da Opus Dei é a de promover entre os fiéis cristãos de qualquer condição social uma vida plenamente coerente com a fé no meio do mundo e contribuir, assim, para a evangelização de todos os ambientes da sociedade. Ou seja, difundir a mensagem de que todos os batizados estão chamados a procurar a santidade e a dar a conhecer o Evangelho, tal como recordou o Concílio Vaticano II.

Quando começou a Guerra Civil espanhola, e com ela a perseguição religiosa, ele exercitou o ministério na clandestinidade, até conseguir sair de Madri e fixar residência em Burgos. Acabada a guerra, em 1939, regressou a Madri e obteve o doutorado em direito. Nos anos que se seguiram, dirigiu numerosos retiros para leigos, sacerdotes e religiosos.

Em 1946, fixou residência em Roma, fazendo o doutorado em teologia pela Universidade Lateranense. É nomeado consultor de duas congregações da Cúria Romana, membro honorário da Academia Pontifícia de Teologia e prelado honorário do papa. De Roma desloca-se, em numerosas ocasiões, a diversos países da Europa, América Central e do Sul, a fim de impulsionar o estabelecimento e a consolidação da Opus Dei nessas regiões.

Josemaría morreu em conseqüência de uma parada cardíaca, no dia 26 de junho de 1975, em seu quarto de trabalho e aos pés de um quadro de Nossa Senhora, a quem lançou o seu último olhar. Todavia a Opus Dei já estava presente nos cinco continentes, contando com mais de sessenta mil membros de oitenta nacionalidades.

Foi Beatificado no dia 17 de maio de 1992 e foi canonizado em 6 de outubro de 2002 pelo papa João Paulo II na praça de São Pedro em Roma. 


sábado, 25 de junho de 2016

São Guilherme de Verceli


Como São Francisco, Guilherme também veio de uma família nobre, nasceu em torno de 1085. 
Guilherme era acima de tudo um peregrino incansável, sempre na estrada, num momento em que nada era mais natural do que fazer viagens longas e cansativas de devoção ou penitência. A marcha de Guilherme começou muito cedo, com a idade de quatorze anos, vestido apenas com um manto humilde e pés descalços, em sua viagem a Santiago de Compostela, Espanha. Esta primeira peregrinação penitencial não durou menos de cinco anos, depois de meditar e falar com Deus com todos os homens que conhecia.

Sua vida diária foi marcada pela humildade e renúncia da carne para a ascese espiritual. Foi alimentado apenas de pão e água e raramente comeu um alimento mais saboroso como legumes temperados com vinagre sem óleo.

Estritamente com os pés descalços, levava no tórax e abdome duas argolas de ferro que tinham sido pregadas por um serralheiro para melhor mortificar a carne. Dia e noite ele passava em oração, e muitas vezes algumas horas de descanso foram passados ​​ao ar livre, no chão. Depois de voltar da Espanha, cada vez mais impulsionado pelo fervor religioso, Guilherme viajou pela Itália, parando em cada cidade e em cada lugar onde havia santos e igrejas famosas para serem venerados. Estava disposto a chegar a Jerusalém, a Terra Santa e o santuário espanhol constituiu, de fato, o chamado para grandes peregrinações; o peregrino que em vida havia sido distinguido por ter feito pelo menos uma dessas duas peregrinações poderia ter certeza de que no dia do juízo final não apareceria  nu como todos os outros mortais.

Um acidente fortuito desviou no último momento este propósito e sua vida. Quando chegou a um ponto da viagem, em Taranto, Guilherme foi atacado por ladrões, que, decepcionados com os poucos bens que ele levava, o surraram violentamente. Ele viu neste caso um sinal da providência divina, e desistiu de ir para a Terra Santa. Para confirmar isso, durante o período de convalescença, ele encontrou-se com João de Matera, hoje santo, que lhe disse, profeticamente, que Deus não desejava apenas isso dele e que Guilherme, para o bem de muitos deveria permanecer na Itália. Suas últimas incertezas desapareceram alguns dias depois, quando o próprio Senhor lhe apareceu em uma visão prevendo a fundação de uma Congregação. Finalmente virando as costas para o mar, Gilherme tornou-se um eremita e começou a viajar no sul da Itália em busca de um local adequado para a sua vida solitária e meditativa.

Encontrou a solidão na região próxima de Avellino, na montanha de Montevergine. Era uma terra habitada apenas por animais selvagens, onde, segundo a tradição, um lobo teria matado o burro que lhe servia de transporte. Guilherme, então, teria domesticado toda a matilha, que passou a prestar-lhe todo tipo de auxílio.

Vivia como eremita, dedicando-se à oração e à penitência, mas isso durou pouco tempo. Logo começou a ser procurado por outros eremitas, religiosos e fiéis. Acabou fundando, em 1128, um mosteiro masculino, o qual colocou sob as regras beneditinas e dedicou a Maria, ficando conhecido como o Mosteiro de Montevergine.

Dele Guilherme se tornou o abade, todavia por pouco tempo, pois transmitiu o cargo para um monge sucessor e continuou peregrinando. Entretanto tal procedimento se tornou a rotina de sua vida monástica. Guilherme acabou fundando um outro mosteiro beneditino, dedicado a Maria, em Monte Cognato. Mais uma vez se encontrou na posição de abade e novamente transmitiu o posto ao monge que elegeu para ser seu sucessor.

Desejando imensamente a solidão, foi para a planície de Goleto, não muito distante dali, onde, por um ano inteiro, viveu dentro do buraco de uma árvore gigantesca. E eis que tornou a ser descoberto e mais outra comunidade se formou ao seu redor. Dessa vez teve de fundar um mosteiro "duplo", ou seja, masculino e feminino. Contudo criou duas unidades distintas, cada uma com sua sede e igreja própria.

E foi assim que muitíssimos mosteiros nasceram em Irpínia e em Puglia. Desse modo, ele, que desejava apenas ser um monge peregrino na Terra Santa, fundou a Congregação Beneditina de Montevergine, que floresceu por muitos séculos. Somente em 1879 ela se fundiu à Congregação de Montecassino.

Guilherme morreu no dia 25 de junho de 1142, no mosteiro de Goleto. Em 1942, o papa Pio XII canonizou-o e declarou são Guilherme de Vercelli Padroeiro principal da Irpínia.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

São José Cafasso


Não foi pároco, mas sim formador de párocos. Não fundou institutos religiosos, porque a sua "fundação" foi a escola de vida e de santidade sacerdotal, ilustrada com seu exemplo e ensinamento.

Sua missão era incutir a confiança na misericórdia e na bondade divina, ninguém estava mais convicto destes atributos do Salvador do que São José Cafasso; de maneira suave e segura, sabia infundir em todos esta certeza:

"Se ofendemos ao Senhor, não aumentemos desgosto sobre desgosto, duvidando do perdão; se injuriamos sua santidade e justiça, honremos ao menos sua misericórdia; e enquanto o mundo inteiro canta sua bondade, nosso coração seria o único que hesita em tributar-Lhe este louvor?"
José Cafasso nasceu em  Castelnuovo, no ano de 1811. Desde criança sentiu-se chamado ao sacerdócio. Era curvado, devido a um problema na coluna, tendo nascido em uma família abastada do povo, em sua humildade, foi o maior amigo e benfeitor de São João Bosco e, de muitos seminaristas pobres e um dos melhores formadores de sacerdotes do século XIX.

Quando São João Bosco estava ainda no seminário e não podia prosseguir seus estudos por falta de recursos, o Pe. Cafasso pagou-lhe meia bolsa e obteve dos dirigentes do seminário facilitar-lhe a outra metade, servindo o jovem seminarista como sacristão, remendão e barbeiro. 

Desde criança sobressaiu-se por sua grande inclinação à piedade e a compartilhar ajudas aos pobres.

No ano de 1827, sendo são José Cafasso seminarista encontrou-se pela primeira vez com João Bosco. Após ordenar-se como sacerdote, com a idade de 21 anos, o santo viajou a Turim, para aperfeiçoar seus estudos. Suas habilidades estudantis foram premiadas ao ser nomeado como professor da instituição acadêmica, e em seguida, como reitor durante doze anos.

São José Cafasso formou mais de cem sacerdotes em Turim, e entre suas alunos teve vários santos. Era professor de Teologia Moral em Turim. Foi mestre e diretor espiritual de São João Bosco.

Deu excelente formação moral ao Clero piemontês, de acordo com a boa escola de São Francisco de Sales e Santo Afonso de Ligório.
Em Turim, que era a capital do reino de Sabóia, os presídios estavam cheios de terríveis criminosos, abandonados por todos. Contudo, São José Cafasso decidiu evangelizar esse local, e com a infinita paciência e amabilidade foi ganhando os presos um a um, fazendo-os confessar-se e começar uma vida santa.

Além disso, o santo acompanhou até a forca a mais de 68 condenados à morte, e ainda aqueles que haviam sido terríveis criminosos, nenhum faleceu sem confessar-se e arrepender-se. A primeira qualidade que todos notavam neste santo era “o dom de conselho”, qualidade que o Espírito Santo lhe havia dado para saber aconselhar o que mais lhe convinha a cada um.

Outra grande qualidade que o fez muito popular foi sua calma e serenidade. Encurvado e pequeno de estatura, porém na face sempre uma sorriso amável. Sua voz sonora, e encantadora, e sua conversa irradiava uma alegria contagiosa.

Deixou em testamento os poucos bens que possuía a seus amigos São João Bosco e São José Benedito Cottolengo.

Foi canonizado pelo Papa Pio XII em 1947.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

São Paulino de Nola

O Padre da Igreja ao qual hoje dedicamos a nossa atenção é São Paulino de Nola. Contemporâneo de Santo Agostinho, ao qual foi ligado por uma profunda amizade, Paulino exerceu o seu ministério na Campânia, em Nola, onde foi monge, depois presbítero e Bispo. Era originário de Aquitânia, no sul da França, na cidade de Bordéus, onde nasceu de uma família influente. Recebeu uma requintada educação literária.
Afastou-se da sua terra pela primeira vez para seguir a sua precoce carreira política, desempenhando, ainda jovem, o papel de governador da Campânia. Neste cargo público foram admiradas as suas capacidades de sabedoria e de mansidão. Neste período a graça fez germinar no seu coração a semente da conversão. O estímulo veio da fé simples e intensa com que o povo honrava o túmulo de um Santo, o mártir Félix, no Santuário de Cimitile. Como responsável da vida pública, Paulino interessou-se por este Santuário e fez construir um hospício para os pobres e uma estrada para facilitar o acesso aos numerosos peregrinos.
No seu empenho por edificar a cidade terrena, ele ia descobrindo o caminho rumo à cidade celeste. O encontro com Cristo foi o ponto de chegada de um caminho trabalhoso, cheio de provas. Quando chegou à fé escreveu: "O homem sem Cristo é pó e sombra”.

Desejoso de esclarecer o sentido da existência, foi a Milão para se colocar na escola de Ambrósio. Completou depois a formação cristã na sua terra natal, onde recebeu o batismo. Encontra-se no seu percurso de fé também o matrimonio. De fato, casou com Terásia, uma mulher piedosa de Barcelona, e teve um filho. Teria continuado a viver como bom leigo cristão, se a morte do filho depois de alguns dias do nascimento o não tivesse abalado, mostrando-lhe que era outro o desígnio de Deus para a sua vida. De fato, sentiu-se chamado a devotar-se a Cristo numa vida ascética rigorosa.

Em total acordo com a esposa Terásia, vendeu os seus bens em benefício dos pobres e, juntamente com ela, deixou Aquitânia indo para Nola, onde os dois habitaram ao lado da Basílica do protetor São Félix, vivendo em casta fraternidade, segundo uma forma de vida à qual outros se uniram. O ritmo comunitário era tipicamente monástico, mas Paulino, que em Barcelona tinha sido ordenado presbítero, começou a ocupar-se também do ministério sacerdotal em favor dos peregrinos. Isto proporcionou-lhe a simpatia e a confiança da comunidade cristã que, com a morte do Bispo, por volta de 409, o quis escolher como sucessor na cátedra de Nola.
A sua ação pastoral intensificou-se, caracterizando-se por uma atenção particular pelos pobres. Deixou a imagem de um autêntico Pastor da caridade, como o descreveu São Gregório Magno: Paulino é esculpido no gesto heroico de se oferecer prisioneiro no lugar do filho de uma viúva. O episódio é historicamente discutível, mas permanece a figura de um Bispo de grande coração, que soube estar próximo do seu povo nas tristes situações das invasões bárbaras.
A conversão de Paulino impressionou os contemporâneos. O seu mestre Ausónio, um poeta pagão, sentiu-se "traído", e dirigiu-lhe palavras ásperas, reprovando-lhe por um lado o "desprezo", julgado desatinado, dos bens materiais, e por outro o abandono da vocação de literato. Paulino retorquiu que o seu doar aos pobres não significa desprezo pelos bens terrenos, mas ao contrário uma sua valorização para a finalidade mais nobre da caridade. Quanto aos compromissos literários, aquilo que Paulino tinha abandonado não era o talento poético, que teria continuado a cultivar, mas as fórmulas poéticas inspiradas na mitologia e nos ideais pagãos. Uma nova estética governa a sua sensibilidade: era a beleza do Deus encarnado, crucificado e ressuscitado, do qual ele se fazia agora cantor. Na realidade, não tinha deixado a poesia, mas tirava do Evangelho a sua inspiração como diz neste verso: "Para mim a única arte é a fé, e Cristo a minha poesia".
Os seus poemas são cânticos de fé e de amor, nos quais a história quotidiana dos pequenos e grandes acontecimentos é vista como história de salvação, como história de Deus conosco. Muitas destas composições estão ligadas à festa do mártir Félix, que ele tinha eleito como celeste Padroeiro. Recordando São Félix, ele pretendia glorificar Cristo, estando convencido de que a intercessão do Santo lhe tivesse obtido a graça da conversão: "Na tua luz, jubiloso, amei Cristo".

No ascetismo de Cimitile a vida transcorria na pobreza, na oração e totalmente imersa na "lectio divina". A Escritura lida, meditada, assimilada, era a luz sob cujo raio o Santo de Nola perscrutava a sua alma na propensão para a perfeição. A quem permanecia admirado pela decisão por ele tomada de abandonar os bens materiais, recordava que este gesto estava muito longe de representar já a plena conversão: "O abandono ou a venda dos bens temporais possuídos neste mundo não constitui o cumprimento, mas apenas o início da corrida no estádio; não é, por assim dizer, a meta, mas só a partida. De fato, o atleta não vence quando se despe, porque depõe as suas vestes apenas para começar a lutar, mas é digno de ser coroado vencedor só depois de ter combatido devidamente".

Ao lado da ascese e da Palavra de Deus, a caridade: na comunidade monástica os pobres sentiam-se em casa. A eles Paulino não se limitava a dar esmola: acolhia-os como se fossem o próprio Cristo. Tinha reservado para eles uma parte do mosteiro e, fazendo assim, parecia-lhe não que dava, mas que recebia, no intercâmbio de dons entre o acolhimento oferecido e a gratidão orante dos assistidos. Chamava aos pobres seus "padroeiros" e, observando que estavam alojados no andar inferior, gostava de dizer que a sua oração servia de fundamento para a sua casa.
São Paulino não escreveu tratados de teologia, mas os seus poemas e o denso epistolário são ricos de uma teologia vivida, embebida da palavra de Deus, constantemente perscrutada como luz para a vida.
Em particular, sobressai o sentido da Igreja como mistério de unidade. A comunhão era por ele vivida sobretudo através de uma marcada prática da amizade espiritual. Nela Paulino foi um verdadeiro mestre, fazendo da sua vida uma encruzilhada de espíritos eleitos: de Martinho de Tours a Jerônimo, de Ambrósio a Agostinho, de Delfim de Bordéus a Nicetas de Remesiana, de Vitrício de Ruão a Rufino de Aquileia, de Pamáquio a Suplício Severo, e muitos outros ainda, mais ou menos conhecidos. Neste clima surgem as intensas páginas escritas por Agostinho. Além dos conteúdos de cada uma das cartas, impressiona a afabilidade com que o Santo de Nola canta a própria amizade, como manifestação do único corpo de Cristo animado pelo Espírito Santo. Eis um trecho significativo, no início da correspondência entre os dois amigos:
"Não devemos admirar-nos se, embora distantes, estamos presentes um para o outro e sem nos termos conhecido conhecemo-nos, porque somos membros de um só corpo, temos uma só cabeça, somos inundados por uma só graça, vivemos de um só pão, percorremos o mesmo caminho, habitamos na mesma casa”.

Como se vê, uma lindíssima descrição do que significa ser cristão, ser Corpo de Cristo, viver na comunhão da Igreja. A teologia do nosso tempo encontrou precisamente no conceito de comunhão a chave de abordagem do mistério da Igreja. O testemunho de São Paulino de Nola ajuda-nos a sentir a Igreja, como no-la apresenta o Concílio Vaticano II, como sacramento da união íntima com Deus e assim da unidade de todos nós e por fim de todo o gênero humano.


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Beata Margarida Ball

Ser a mãe do prefeito de Dublin para ela não foi fonte de orgulho ou de prestígio, mas foi causa de enormes sofrimentos que a levaram a morte, ou certamente a apressaram. A vida e o martírio da irlandesa Beata Margarida Ball deve ser enquadrada no clima de perseguição religiosa que se seguiu ao cisma anglicano iniciado na Inglaterra por Henrique VIII.

Margarida tinha 21 anos quando o parlamento de Dublin também reconhecesse Henrique VIII como chefe da igreja irlandesa, determinando desta forma a separação da Igreja de Roma, tendo nascido em 1515, na bem sucedida família Berminghan.

Aos 16 anos, casou-se com Bartolomeu Ball e deu a luz a mais de 20 filhos, dos quais apenas cinco sobreviveram, três homens e duas mulheres. Eles formavam um casal muito unido, profundamente religioso, com uma sólida posição econômica, e o marido gozava de prestígio indiscutível, que o levou a ser prefeito de Dublin.

Embora eles não estivessem alheios à situação político-religiosa dominante, eles se comportavam como verdadeiros católicos, continuando a reconhecer o primado do Papa. Em seu palácio vivia um capelão, que celebrava a Missa normalmente, sua casa estava aberta a encontros de catequese e oração. Valendo-se da reputação de seu marido, Margarida chegou a abrir em sua propriedade uma escola católica.

Bartolomeu morreu em 1568 e Margarida, além da tristeza pela perda de um ente querido, também fica privada da proteção e do apoio com que ele garantia que ela professasse e defendesse a Igreja Católica. Apesar de tudo, ela continuou em seu compromisso, dando hospitalidade em sua casa aos sacerdotes e religiosos, mesmo quando se tornava extremamente arriscado.

Em 1570, Elizabeth I, que desde que ascendera ao trono permitira que uma feroz perseguição se acendesse na Inglaterra, especialmente contra os padres católicos, e que se espalhara rapidamente na Irlanda, foi excomungada. No final dos anos setenta Margarida foi presa sob a acusação de ter permitido a realização de uma missa em sua casa, mas logo foi libertada sob fiança.

Enquanto isso, o seu filho Walter, alimentando o desejo de se tornar prefeito de Dublin, foi seu único filho que se adaptou às exigências do governo, que era negar sua fé e reconhecer a supremacia religiosa da rainha da Inglaterra.

Margarida cumpriu inteiramente o seu dever de mãe, tentando fazer seu filho entender que nenhum cargo político, de prestígio, pode ser negociado com a fé. O filho não se convenceu, mas, o que é pior, viu nela a maior inimiga e o maior obstáculo para alcançar os seus desejos políticos.

Pouco depois de sua eleição como prefeito, mandou prender a própria mãe sob a acusação de ter dado hospitalidade em sua casa aos sacerdotes perseguidos.

Margarida, na idade de quase 70 anos, foi levada em uma carroça pelas ruas de Dublin, exposta ao escárnio e zombaria de toda a cidade. Uma cela suja, gotejando umidade, sem ar, a espera, o que inevitavelmente prejudicou a sua saúde.

Precisamente por causa de sua saúde precária, uns anos depois lhe ofereceram a liberdade em troca de uma negação pública da sua fé. Receberam a resposta negativa desta mulher forte e corajosa, que escolheu terminar seus dias na prisão, mártir da Eucaristia e do Primado Pontifício.

Ela morreu em sua cela numa data incerta do ano de 1584 e, juntamente com dezesseis outros fieis (incluindo quatro bispos, seis padres, um irmão religioso e cinco leigos), ela, a única mãe de família do grupo, foi beatificada por João Paulo II em 27 de setembro de 1992.


domingo, 19 de junho de 2016

Beata Elena Aiello

Na festa da Exaltação da Cruz, o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, beatificou  Elena Aiello, uma freira que tinha os estigmas de Cristo,e várias revelações místicas além do dom da profecias.
Na missa presidida pelo aglomerado em 14 de setembro de 2011 na Calábria, onde era originalmente religiosa,o cardeal Amato salientou que a sua vida e obra "na terra calabresa construiu um heroico testemunho do Evangelho."
O cardeal disse que essa freira, que morreu com a idade de 66 anos, ensinou aos fiéis que "é possível viver o Evangelho com nobreza,para ser santo (...), porque a terra precisa da beleza espiritual dos santos ".
Para aqueles que disseram que sua "caridade era exagerada" em seu trabalho com os necessitados e pessoas com deficiência, Elena disse que "os pobres, os desajustados e os que sofrem são o melhor amigo de Jesus . "
Elena Aiello nasceu em Montalto Uffugo (Cosenza) em 1895, quarta de oito filhos. Educada na fé por pais profundamente religiosos, revelou muito cedo uma particular inclinação à oração e à penitência. Aos 11 anos perdeu a mãe e teve de se ocupar dos trabalhos domésticos. Dois anos mais tarde, após problemas na traqueia, fez votos a Nossa Senhora de Pompéia de abraçar a vida religiosa. Todavia, teve que adiar o seu propósito por alguns anos por causa das dúvidas paternas e do início da Grande Guerra.
Em agosto de 1920 entrou para as Irmãs da Caridade do Preciosíssimo Sangue em Nocera dei Pagani (Salerno), mas permaneceu poucos meses por causa de um grave acidente enquanto transportava uma caixa. Uma operação de emergência causou-lhe lesões nos nervos, complicadas por uma febre persistente.
Voltando para casa em graves condições, pediu a intercessão de Santa Rita de Cássia, que lhe desse indicações para promover a sua devoção: nos dias em que a imagem da Santa se encontrava em Montalto, Elena recebeu o dom da cura.
Nos anos seguintes tiveram início fenômenos místicos, em particular visões de Cristo e de Nossa Senhora, que lhe pediam para participar do mistério da Paixão para o bem da humanidade. Em março de 1922 enquanto praticava em devoção privada a "13 Sexta-feira" de São Francisco de Paula, recebeu os estigmas, enquanto seu rosto estava suando sangue.
Desde então, o derramamento de sangue foi repetido a cada sexta-feira em março e especialmente na sexta-feira, o fenômeno físico de sangramento juntou-se a dor, privação sensorial, falando profeticamente em nome de Jesus, Maria e São Francisco de Paula.
 Em 1928, em Cosenza, ajudada por uma amiga Luigina Mazza, fundou a sua obra para a acolhida de meninas órfãs.
Após a Segunda Guerra Mundial, deu-se início à prática para a criação canônica da Congregação das Mínimas da Paixão de Nosso Senhor Jesus. Após a aprovação da Congregação em 1949, Elena e as primeiras companheiras emitiram os votos perpétuos.
Morreu com fama de santidade em Roma em 1961. João Paulo II a declarou venerável em 22 de janeiro de 1991. A Congregação das Irmãs Mínimas da Paixão de Nosso Senhor Jesus, que se inspira no carisma de São Francisco de Paula, se dedica à acolhida da infância pobre e marginalizada; conta atualmente com mais de 100 religiosas e está presente na Itália, com numerosas casas, na Suíça, Canadá, Colômbia e Brasil. (SP)
"É preciso oração e sacrifício, para os homens voltarem a Deus e ao seu  Imaculado Coração".


sábado, 18 de junho de 2016

Santa Marina


Há uma enorme quantidade de documentos sobre Santa Marina, em dez línguas orientais e ocidentais, algumas concordantes, outras divergentes. Parece que sua origem seja o Líbano, o local mais crível, e que sua vida transcorreu no curso do século VI.

Marina era filha de bons pais, dos quais só é conhecido o nome do pai, Eugênio. Ficando órfã de mãe, e sendo filha única, foi educada na vida cristã pelo pai.
     
Um dia seu pai comunicou-lhe a intenção de tornar-se monge e para salvar sua alma ia abdicar de todos os seus bens. Eugênio recorria às citações bíblicas para defender seu ponto de vista, mas não foi fácil convencer a filha. Entretanto, diante das lamentações e do pranto da filha, ele estava irredutível na sua decisão de entrar para o mosteiro onde ela não poderia mais viver com ele, porque ali não era permitida a entrada de mulheres.
     
Marina então propôs entrar ela também no mosteiro, mas vestida de homem. Eugênio, feliz com a resolução de Marina, vendeu todos os seus bens e os distribuiu aos pobres. Depois de cortar seus cabelos, disfarçando-a como um jovem rapaz, chamou-a de "Marino". Depois dos últimos avisos de seu pai, ela prometeu conservar-se sempre pura para Cristo e nunca ser reconhecida como uma mulher.

Eugênio e Marina ingressaram no mosteiro e o jovem "Marino" progredia na virtude. Os demais monges do mosteiro acreditavam que "Marino" fosse um rapaz, mas estranhavam sua voz e a ausência de barba, mas atribuíam isto à sua rigorosa e austera religiosidade, e à prática de alimentar-se somente a cada dois dias.
Pouco tempo depois Eugênio morreu, mas “Marino” continuou fiel e dedicado na prática das virtudes monásticas.
No mosteiro viviam quarenta monges e todos os meses um grupo de quatro deles era designado pelo abade para sair do local sagrado e angariar recursos, porque disso dependia também a sobrevivência de outros eremitas solitários da região.
Na metade do caminho havia uma hospedaria onde os monges cansados da viagem tinham a oportunidade de repousarem, continuando a volta ao mosteiro no dia seguinte.
Certa ocasião, o abade chamou “Marino” e, como este era perfeito em tudo e em modo particular na obediência, mandou-o sair a serviço da comunidade. "Marino" obedeceu no mesmo instante e saiu com outros três companheiros; durante o trajeto pararam um pouco na hospedaria, onde se encontraram casualmente com um soldado.

O dono da hospedaria tinha uma filha que fora seduzida por aquele soldado e engravidou-a. Quando o soldado soube do fato, e para livrar-se da responsabilidade, persuadiu a moça a revelar a seu pai que estava grávida daquele monge jovem e belo chamado "Marino" que ali tinha estado.
Depois de certo tempo, o dono da hospedaria, percebendo a ilegítima gestação da filha, quis saber a verdade. E ela contou-lhe que o responsável pela gravidez era o jovem monge "Marino" que lá estivera hospedado tempos atrás.

"Marino" mesmo sendo inocente não se defendeu da calúnia, suportando como provação divina todas as injúrias. O "jovem monge" foi expulso do mosteiro e quando a criança nasceu, foi-lhe entregue para que cuidasse dela com seus próprios meios.
Durante três anos, “Marino” viveu à porta do mosteiro, jejuando e implorando a misericórdia divina, recebendo algumas esmolas de mãos bondosas.

O abade, tocado por sua contrição, admitiu "Marino" novamente no mosteiro, impondo-lhe como penitência os serviços mais pesados e humilhantes que havia. Como as atividades eram muito pesadas e "o jovem" estava muito desgastado por tudo o que havia sofrido, em pouco tempo veio a falecer.


Quando o abade e os monges preparavam o corpo para o enterro descobriram que se tratava de uma mulher e, portanto, inocente da calúnia que lhe fora imposta. O corpo da Santa foi sepultado no mosteiro ao som de hinos e salmos a Deus louvando sua pureza e santidade.
Por intercessão de Santa Marina foram relatados muitos milagres e seu culto teve grande expansão. No dia 12 julho de 1230, as suas relíquias foram transportadas para Veneza, Itália, onde são conservadas até hoje, na Igreja Santa Marina Formosa.
Santa Marina, exemplo de humildade e fidelidade a Deus, é invocada pelos fiéis como poderosa intercessora diante de Jesus nos casos de maiores provações, doenças ou calúnias.
O Martirológio Romano coloca Santa Marina no dia 18 de junho e é nesta data que ela é comemorada em Paris.


Hoje também celebramos São Calógero.
Veja aqui:http://coisasdesantos.blogspot.com.br/2014/06/sao-calogero.html


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Beato José Maria Cassant



O Padre José Maria depositou sempre a sua confiança em Deus, na contemplação do mistério da Paixão e na união com Cristo presente na Eucaristia. Assim, ele impregnava-se do amor de Deus, abandonando-se a Ele, "a única felicidade da terra", e desapegando-se dos bens do mundo, no silêncio da Trapa. No meio das provações, com o olhar fixo em Cristo, oferecia os seus sofrimentos pelo Senhor e pela Igreja. Possam os nossos contemporâneos, especialmente os contemplativos e os doentes, descobrir no seu exemplo o mistério da oração, que eleva o mundo a Deus e que revigora nos momentos de prova!
Papa João Paulo II – Homilia de Beatificação – 03 de outubro de 2004

José Maria Cassant nasceu no dia 6 de Março de 1878 na localidade de Casseneuil (França), no seio de uma família de arboricultores. Estudou no colégio dos Irmãos de São João Baptista de la Salle, com dificuldades crescentes em virtude da falta de memória.
Tendo recebido uma sólida educação cristã, aumentava nele um profundo desejo de se tornar sacerdote. Assim, no dia 5 de Dezembro de 1894 entrou na abadia cisterciense de Santa Maria do Deserto, na Diocese de Tolosa.
Contemplando Jesus na sua Paixão, o jovem monge deixava-se impregnar pelo amor de Cristo. Consciente das suas lacunas e debilidades, confiava única e totalmente em Jesus, que era a sua força.
Pronunciou os votos perpétuos na solenidade da Ascensão e começou a preparação definitiva para o sacerdócio, que considerava em função da Eucaristia, em que Cristo Salvador se entrega inteiramente aos homens, e em cujo Coração traspassado na cruz, recebe todos os que a Ele recorrem com confiança. José Maria recebeu a Ordenação sacerdotal no dia 12 de Outubro de 1902.
Atingido pela tuberculose, o jovem presbítero só revelou os seus sofrimentos quando já não os podia esconder, oferecendo-os sempre por Cristo e pela Igreja e meditando assiduamente sobre a Via-Sacra do Salvador.
No leito de morte, afirmou: "Quando não poderei mais celebrar a Santa Missa, Jesus poderá levar-me deste mundo". O Padre José Maria faleceu na madrugada do dia 17 de Junho de 1903, com apenas 25 anos de idade, dos quais 16 transcorridos na discrição em Casseneuil e 9 no claustro de um mosteiro, dedicando-se às coisas mais simples: oração, estudo e trabalho.

Coisas ordinárias, porém, que ele soube viver de maneira extraordinária, com uma generosidade incondicional. Por isso, a mensagem do Padre José Maria é muito atual: num mundo em que reina a desconfiança, que muitas vezes é vítima do desespero, mas que é sequioso de amor e de ternura, a sua vida pode ser uma resposta para quem, sobretudo entre os jovens, se põe em busca de um sentido para a sua vida.