Nºs 91 a 94
Como não lembrar os
inúmeros jovens diretamente envolvidos nas migrações? Os fenômenos migratórios
não representam uma emergência transitória, mas são estruturais.
As migrações podem
verificar-se dentro do mesmo país ou entre países diferentes. A preocupação da
Igreja visa, em particular, aqueles que fogem da guerra, da violência, da
perseguição política ou religiosa, dos desastres naturais – devidos também às
alterações climáticas – e da pobreza extrema: muitos deles são jovens. Em
geral, andam à procura de oportunidades para si e para a sua família. Sonham
com um futuro melhor, e desejam criar as condições para que se realize. Os
migrantes lembram-nos a condição primordial da fé, ou seja, a de sermos “estrangeiros e peregrinos sobre a terra”.
Outros migrantes são atraídos
pela cultura ocidental, nutrindo por vezes expetativas irrealistas que os
expõem a pesadas decepções. Traficantes sem escrúpulos, frequentemente ligados
a cartéis da droga e das armas, exploram a fragilidade dos migrantes, que, ao
longo do seu percurso, muitas vezes encontram a violência, o tráfico de seres
humanos, o abuso psicológico e mesmo físico, e tribulações indescritíveis. Há que assinalar a particular
vulnerabilidade dos migrantes menores não acompanhados, e a situação daqueles
que são forçados a passar muitos anos nos campos de refugiados ou que
permanecem bloqueados muito tempo nos países de trânsito, sem poderem continuar
os seus estudos nem expressar os seus talentos.
Em alguns países de
chegada, os fenômenos migratórios suscitam alarme e temores, frequentemente
fomentados e explorados para fins políticos. Assim se difunde uma mentalidade
xenófoba, de clausura e retraimento em si mesmos, a que é necessário reagir com
decisão.
Os jovens que migram
experimentam a separação do seu contexto de origem e, muitas vezes, também um
desenraizamento cultural e religioso. A fratura tem a ver também com as
comunidades de origem, que perdem os elementos mais vigorosos e empreendedores,
e as famílias, particularmente quando migra um ou ambos os progenitores,
deixando os filhos no país de origem. A Igreja tem um papel importante como
referência para os jovens destas famílias divididas. Mas as histórias dos
migrantes são histórias também de encontro entre pessoas e entre culturas: para
as comunidades e as sociedades de chegada são uma oportunidade de
enriquecimento e desenvolvimento humano integral de todos. As iniciativas de
hospitalidade, que têm como ponto de referência a Igreja, desempenham um papel
importante deste ponto de vista e podem revitalizar as comunidades capazes de
as praticar.
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