quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 24 de outubro - Beato Pedro To Rot


Pedro To Rot, primeiro beato da Papua Nova Guiné, foi um marido e um pai exemplar, bem como um catequista excecional.
Em 1945, foi morto pelas mãos dos soldados japoneses em virtude da sua corajosa defesa do matrimônio cristão.
A Papua Nova Guiné está cercada por numerosos arquipélagos habitados por milhares de etnias que falam cerca de oitocentos dialetos diferentes. Os missionários levaram o Evangelho para essa região em 1870, e, em 1882, o primeiro grupo de Missionários do Sagrado Coração de Jesus chegou a Matupit.

Para surpresa de todos, o chefe da aldeia de Rakunai, Ângelo To Puia, anunciou que se queria tornar católico, como a maior parte dos habitantes da aldeia. Maria Ia Tumul, mulher de Ângelo, deu à luz o seu filho Pedro em 1912; foi o terceiro dos seus seis filhos.
Ângelo To Puia fez com que todos eles fossem batizados, e ele próprio ensinou-lhes as verdades fundamentais do catecismo, enquanto Maria os ensinava a rezar. Desde criança, durante a escola missionária, Pedro revelou-se um estudante excecional e trabalhador, nutrindo particular interesse pela religião. O rapaz tinha uma veia especialmente viva, mas era solícito e disponível.

Em 1930, o pároco disse ao pai de Pedro que os seus jovens filhos talvez tivessem vocação para o sacerdócio. To Puia, porém, respondeu sabiamente: “Creio que o tempo não está maduro para que um ou outro dos meus filhos ou qualquer outro homem desta aldeia se torne sacerdote. No entanto, se quiseres mandar algum para a escola de catequistas de Taliligap, estou de acordo.”

O trabalho missionário a desenvolver na Oceania era imenso, mas os missionários eram poucos e, por isso, os jovens do lugar eram instruídos para virem a ser catequistas e trabalhar com eles. Pedro dedicou-se com alegria à sua nova vida no St. Paul’s College: exercícios espirituais, aulas e trabalho manual.

Em 1934, Pedro To Rot recebeu do bispo a sua cruz de catequista e foi enviado de volta para a sua aldeia natal a fim de ajudar o pároco, o padre Laufer. Ensinava o catecismo às crianças de Rakunai, instruía os adultos na fé e conduzia encontros de oração. Incentivava a população a participar na Missa dominical, tendo sido um conselheiro fidedigno dos pecadores, ajudando-os a preparar-se para a confissão.

Além disso, empenhou-se em combater com zelo a bruxaria, praticada por muita gente, inclusive por alguns que se denominavam cristãos. Em 1936, casou-se com Paula Ia Varpit, uma jovem mulher de uma aldeia vizinha. Formavam um casal cristão exemplar. Manifestava grande respeito pela sua mulher e rezava com ela todas as manhãs e todas as noites; além disso, era muito dedicado aos seus filhos, passando muito tempo com eles.

Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses invadiram a Papua Nova Guiné e transferiram de imediato todos os sacerdotes e religiosos para os campos de concentração. Como era leigo, Pedro pôde ficar em Rakunai. Depois dessa ocorrência, teve de assumir muitas responsabilidades novas, conduzindo a oração dominical e exortando os fiéis a perseverar, dando testemunho durante os casamentos, batizando os recém-nascidos e presidindo aos funerais. Conseguiu ainda levar os habitantes da aldeia para a floresta, onde um missionário se tinha refugiado depois de ter conseguido escapar aos japoneses, a fim de que todos pudessem receber os sacramentos em segredo.

Embora inicialmente os japoneses não tivessem proibido por completo o culto católico, rapidamente começaram a saquear e a destruir as igrejas. To Rot teve de construir uma capela de madeira no meio do mato e criou esconderijos subterrâneos para os vasos sagrados; continuou o seu trabalho apostólico com prudência, visitando os cristãos durante a noite por causa dos numerosos espiões que dominavam a região.

Aproveitando-se das divisões internas entre a população da Papua Nova Guiné, os japoneses reintroduziram a poligamia para conseguirem o apoio dos chefes locais. Implementaram um plano para contrariar a influência “ocidental” sobre a população nativa. Por luxúria ou por medo de represálias, muitos homens tomaram então uma segunda mulher.

O catequista Pedro To Rot viu-se forçado a falar: “Nunca falarei o suficiente aos cristãos sobre a dignidade e a grande importância do sacramento do matrimônio.” Chegou mesmo a tomar posição contra o seu irmão Joseph, que defendia publicamente o regresso à prática da poligamia. Além disso, outro dos seus irmãos, Tatamai, voltou a casar-se e denunciou Pedro às autoridades japonesas. A sua mulher, Paula, temia que a determinação do marido prejudicasse a sua família, mas ele respondeu às suas súplicas: “Se tiver de morrer, está tudo bem, porque morrerei pelo Reino de Deus no meio do nosso povo.”

Certo dia de 1945, enquanto Pedro To Rot estava a plantar feijão num campo requisitado pelos japoneses, foi preso pelos polícias que tinham acabado de saquear a sua casa, encontrando vários objetos religiosos. Durante o interrogatório subsequente, ele admitiu que tinha conduzido um encontro de oração na véspera, e o chefe da polícia, Meshida, bateu-lhe. Quando se declarou contrário à bigamia, foi preso.
Foi metido numa pequena cela sem janelas de onde o tiravam de vez em quando apenas para tratar dos porcos. A sua mãe e a sua mulher levavam-lhe comida. Certo dia, Paula levou consigo os seus dois filhos (estava grávida do terceiro) e implorou ao marido que dissesse aos japoneses que deixaria de trabalhar como catequista se o libertassem. Pedro, fazendo o sinal da cruz, disse: “Devo glorificar o Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e, assim, ajudar o meu povo.” Pediu, portanto, à sua mulher que lhe levasse a sua cruz de catequista, que manteve consigo até ao fim. Nesse mesmo dia confessou à sua mãe que a polícia tinha chamado um médico japonês que viera medicá-lo, acrescentando: “Eu não estou doente! Volta depressa para casa e reza por mim.”
No dia seguinte, um polícia chegou a Rakunai e anunciou: O vosso catequista morreu. O tio de Rot, Tarua, dirigiu-se ao local acompanhado por Meshida para identificar o corpo. Tinham enrolado um cachecol vermelho ao pescoço do mártir, que estava inchado e ferido. Notava-se claramente a marca de uma injeção no seu braço direito. A julgar pelo cheiro, o “médico” tinha injetado nele um composto de cianeto. O veneno tinha atuado lentamente, e os soldados tinham estrangulado e trespassado as costas da vítima com uma espada.

Nos cinquenta anos subsequentes à morte de To Rot, a aldeia de Rakunai viu nascer pelo menos uma dúzia de sacerdotes e religiosos para a Igreja Católica. Durante a sua visita pastoral à Oceania, em 1995, o Papa João Paulo II o beatificou.

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