Entre os muitos santos da história da Igreja Japão
(quarenta e dois santos e trezentos e noventa e três beatos, incluindo
missionários europeus), todos os mártires mortos in odium fidei durante
diversas vagas de perseguições, a história de Takayama é especial.
Trata-se, com efeito, de um leigo, um político,
um militar (era senhor feudal e samurai), que chegou à glória dos altares sem
ter sido morto, mas por ter escolhido viver seguindo Cristo, pobre, obediente e
crucificado. Ukon renunciou a uma posição social de alto nível, à nobreza e às
riquezas, para permanecer fiel a Cristo e ao Evangelho.
Ao nascer, entre 1552 e 1553, no castelo de
Takayama, nas proximidades de Nara, recebeu o nome de Hikogoro Shigetomo; era
filho de Takayama Zusho, que viria a tornar-se senhor do castelo de Sawa.
Takayama é o nome de família, derivado do território da sua propriedade feudal.
A sua casa pertencia à classe da nobreza, ou seja, dos daimyō, senhores de um
castelo com as suas respetivas propriedades.
Vinham imediatamente a seguir aos shogun
(senhores de mais territórios, dos quais os vários daimyō eram fiéis aliados,
colocando à sua disposição um exército e combatentes profissionais, os samurai)
que muitas vezes entravam em guerra entre si para alargar as suas áreas de
influência.
Em 1563, o pai fora incumbido pelo seu shogun
de julgar um missionário jesuíta, o padre Gaspar Videla, que anunciava o
Evangelho precisamente em Quioto, futura cidade imperial. O Evangelho tinha
sido introduzido no Japão pelo jesuíta Francisco Xavier, em 1549, e tinha-se
espalhado rapidamente. Escutando-o, o pai de Justo ficara tão impressionado que
quis se fazer cristão, pedindo o Batismo e tomando o nome de Dario. Tendo
regressado ao seu castelo acompanhado por um catequista, mandou catequizar e
batizar muitos dos seus soldados, a sua mulher e os seus filhos, entre os quais
também Justo, o primogênito, que nessa época contava cerca de doze anos. A partir
desse momento, o seu pai tornou-se protetor dos cristãos.
Para ele, filho e herdeiro de um importante
daimyō, era uma vocação natural tornar-se samurai, guerreiro sempre pronto a
defender a família, a lei e o shogun, seu senhor. Devido à frequência dos conflitos
entre os daimyō, participou nas guerras e nos combates, distinguindo-se pela
sua coragem. A sua convalescença forçada, devido a um ferimento recebido em
duelo, foi para ele um tempo providencial e, em 1571, contando então vinte
anos, convenceu-se de que, mesmo continuando a ser samurai, deveria colocar a
sua perícia no manejo das armas ao serviço dos mais débeis, dos órfãos e das
viúvas.
Em 1573, a sua família recebeu um novo feudo, e
Justo tornou-se no seu daimyō, devido à idade demasiado avançada do seu pai.
Dois anos mais tarde tomou por mulher Justa, uma cristã, e teve três filhos
(dois dos quais morreram ainda pequenos) e uma filha. Mandou construir uma
igreja na própria cidade imperial de Quioto e um seminário em Azuchi, sobre o
lago Biwa, para formação de missionários e de catequistas japoneses. A maioria
dos seminaristas provinha das famílias do seu feudo.
Justo utilizou a típica cerimônia japonesa do
chá, em que se reforçam as relações entre os participantes e se aprofundam os
laços de amizade, para evangelizar, transformando-a numa ocasião de anúncio do
Evangelho e de diálogo com outros nobres sobre a fé cristã. No primeiro período
do shogun Toyotomi Hideyoshi, que subiu ao poder em 1583, a sua influência foi
aumentando entre os nobres, vários dos quais aceitaram tornar-se cristãos.
Toyotomi, porém, tendo-se tornado tão poderoso que conseguiu unificar todo o
Japão sob a sua autoridade, começou a temer os cristãos e, em 1587, promulgou
um édito que proibia a sua religião no país e continha a ordem de expulsão dos
missionários estrangeiros e o exílio para os catequistas nativos.
Todos os grandes senhores feudais aceitaram a
disposição, mas não Justo, que preferiu renunciar ao seu feudo e sofrer o
exílio de preferência a abjurar. Após a morte inesperada de Toyotomi, o seu
sucessor revelou-se pior do que ele. A perseguição contra os cristãos foi
alargada e intensa, com o objetivo de erradicar aquilo a que chamavam a erva
daninha ou a religião perversa.
Em 14 de fevereiro de 1614, Justo Takayama e os
seus familiares foram presos e transferidos para Nagasaki, enquanto esperavam o
próprio julgamento juntamente com os missionários que também tinham sido
levados para lá. Após vários meses de prisão, em 8 de novembro de 1614, Justo e
trezentos dos seus companheiros foram condenados ao exílio e metidos num barco
de juncos com destino a Manila, nas Filipinas.
Durante o período passado na prisão, ele tinha
alimentado a esperança de partilhar a sorte dos mártires de Nagasaki. Estava
certo que seria morto e tinha esperado o seu fim com grande serenidade. A
expulsão e o lento avanço naquele navio extremamente carregado fizeram Justo
progredir ainda mais na sua fé. Embora tenha sido acolhido com todas as honras
pelos espanhóis, esgotado pela prisão e pela longa viagem, morreu em Manila a 34de fevereiro de 1615, quarenta dias depois da sua chegada às Filipinas.
O exemplo de Justo é muito importante e
precioso. Levou uma vida cristã autêntica, honesta, sincera e profunda. Foi
reconhecido como mártir, apesar de não o terem matado, por ter sido perseguido
e ter tido de abandonar todas as suas riquezas e o seu estatuto social.
Sentia-se muito feliz por ter recebido de Deus o dom da fé cristã e foi uma
testemunha contagiante junto de todos aqueles que encontrava: nobres da sua
classe, superiores, súbditos e amigos.
Foi beatificado em Osaka em 7 de fevereiro de
2017, sob o pontificado do Papa Francisco. A Igreja celebra sua memória no dia 04 de fevereiro
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