segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 21 de outubro - Beato Justo Takayama Ukon

Entre os muitos santos da história da Igreja Japão (quarenta e dois santos e trezentos e noventa e três beatos, incluindo missionários europeus), todos os mártires mortos in odium fidei durante diversas vagas de perseguições, a história de Takayama é especial.

Trata-se, com efeito, de um leigo, um político, um militar (era senhor feudal e samurai), que chegou à glória dos altares sem ter sido morto, mas por ter escolhido viver seguindo Cristo, pobre, obediente e crucificado. Ukon renunciou a uma posição social de alto nível, à nobreza e às riquezas, para permanecer fiel a Cristo e ao Evangelho.

Ao nascer, entre 1552 e 1553, no castelo de Takayama, nas proximidades de Nara, recebeu o nome de Hikogoro Shigetomo; era filho de Takayama Zusho, que viria a tornar-se senhor do castelo de Sawa. Takayama é o nome de família, derivado do território da sua propriedade feudal. A sua casa pertencia à classe da nobreza, ou seja, dos daimyō, senhores de um castelo com as suas respetivas propriedades.
Vinham imediatamente a seguir aos shogun (senhores de mais territórios, dos quais os vários daimyō eram fiéis aliados, colocando à sua disposição um exército e combatentes profissionais, os samurai) que muitas vezes entravam em guerra entre si para alargar as suas áreas de influência.

Em 1563, o pai fora incumbido pelo seu shogun de julgar um missionário jesuíta, o padre Gaspar Videla, que anunciava o Evangelho precisamente em Quioto, futura cidade imperial. O Evangelho tinha sido introduzido no Japão pelo jesuíta Francisco Xavier, em 1549, e tinha-se espalhado rapidamente. Escutando-o, o pai de Justo ficara tão impressionado que quis se fazer cristão, pedindo o Batismo e tomando o nome de Dario. Tendo regressado ao seu castelo acompanhado por um catequista, mandou catequizar e batizar muitos dos seus soldados, a sua mulher e os seus filhos, entre os quais também Justo, o primogênito, que nessa época contava cerca de doze anos. A partir desse momento, o seu pai tornou-se protetor dos cristãos.

Para ele, filho e herdeiro de um importante daimyō, era uma vocação natural tornar-se samurai, guerreiro sempre pronto a defender a família, a lei e o shogun, seu senhor. Devido à frequência dos conflitos entre os daimyō, participou nas guerras e nos combates, distinguindo-se pela sua coragem. A sua convalescença forçada, devido a um ferimento recebido em duelo, foi para ele um tempo providencial e, em 1571, contando então vinte anos, convenceu-se de que, mesmo continuando a ser samurai, deveria colocar a sua perícia no manejo das armas ao serviço dos mais débeis, dos órfãos e das viúvas.

Em 1573, a sua família recebeu um novo feudo, e Justo tornou-se no seu daimyō, devido à idade demasiado avançada do seu pai. Dois anos mais tarde tomou por mulher Justa, uma cristã, e teve três filhos (dois dos quais morreram ainda pequenos) e uma filha. Mandou construir uma igreja na própria cidade imperial de Quioto e um seminário em Azuchi, sobre o lago Biwa, para formação de missionários e de catequistas japoneses. A maioria dos seminaristas provinha das famílias do seu feudo.

Justo utilizou a típica cerimônia japonesa do chá, em que se reforçam as relações entre os participantes e se aprofundam os laços de amizade, para evangelizar, transformando-a numa ocasião de anúncio do Evangelho e de diálogo com outros nobres sobre a fé cristã. No primeiro período do shogun Toyotomi Hideyoshi, que subiu ao poder em 1583, a sua influência foi aumentando entre os nobres, vários dos quais aceitaram tornar-se cristãos. Toyotomi, porém, tendo-se tornado tão poderoso que conseguiu unificar todo o Japão sob a sua autoridade, começou a temer os cristãos e, em 1587, promulgou um édito que proibia a sua religião no país e continha a ordem de expulsão dos missionários estrangeiros e o exílio para os catequistas nativos.

Todos os grandes senhores feudais aceitaram a disposição, mas não Justo, que preferiu renunciar ao seu feudo e sofrer o exílio de preferência a abjurar. Após a morte inesperada de Toyotomi, o seu sucessor revelou-se pior do que ele. A perseguição contra os cristãos foi alargada e intensa, com o objetivo de erradicar aquilo a que chamavam a erva daninha ou a religião perversa.

Em 14 de fevereiro de 1614, Justo Takayama e os seus familiares foram presos e transferidos para Nagasaki, enquanto esperavam o próprio julgamento juntamente com os missionários que também tinham sido levados para lá. Após vários meses de prisão, em 8 de novembro de 1614, Justo e trezentos dos seus companheiros foram condenados ao exílio e metidos num barco de juncos com destino a Manila, nas Filipinas.

Durante o período passado na prisão, ele tinha alimentado a esperança de partilhar a sorte dos mártires de Nagasaki. Estava certo que seria morto e tinha esperado o seu fim com grande serenidade. A expulsão e o lento avanço naquele navio extremamente carregado fizeram Justo progredir ainda mais na sua fé. Embora tenha sido acolhido com todas as honras pelos espanhóis, esgotado pela prisão e pela longa viagem, morreu em Manila a 34de fevereiro de 1615, quarenta dias depois da sua chegada às Filipinas.

O exemplo de Justo é muito importante e precioso. Levou uma vida cristã autêntica, honesta, sincera e profunda. Foi reconhecido como mártir, apesar de não o terem matado, por ter sido perseguido e ter tido de abandonar todas as suas riquezas e o seu estatuto social. Sentia-se muito feliz por ter recebido de Deus o dom da fé cristã e foi uma testemunha contagiante junto de todos aqueles que encontrava: nobres da sua classe, superiores, súbditos e amigos.

Foi beatificado em Osaka em 7 de fevereiro de 2017, sob o pontificado do Papa Francisco. A Igreja celebra sua memória no dia 04 de fevereiro

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