domingo, 13 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 13 de outubro - Venerável Délia Tétreault


Pois Deus amou de tal forma o mundo que entregou o seu Filho único. No século passado, estas palavras conquistaram o coração de Délia Tétreault. Escreveria ela, em 1916: Deus deu-nos tudo, inclusive o seu Filho; que meio melhor haverá para retribuir-lhe – na medida em que uma tão débil criatura o pode fazer neste mundo – do que dando-lhe filhos, eleitos, que, também eles, cantarão a sua compaixão pelos séculos dos séculos?

Maravilhada com a gratuidade do amor de Deus por nós, Délia Tétreault respondeu com reconhecimento a esse amor. Mulher de coração universal, a Madre Maria do Espírito Santo (seu nome de religiosa), foi a fundadora do primeiro instituto missionário feminino do Canadá, tendo desempenhado um papel determinante e inegável para a Igreja missionária.

No início do século XX, no Canadá e, em particular, no Quebec, a Igreja ocupava um lugar de relevo no seio de uma sociedade marcada pelo jansenismo, em que a mulher era pouco reconhecida. Os meios de comunicação eram elementares, e os textos escritos desempenhavam um papel importantíssimo na transmissão das notícias. Nesse contexto socio-eclesial, Délia Tétreault, inspirada pelo Espírito Santo, será portadora de um vento de frescura.

Graças à sua visão audaciosa e à sua ação criativa, contribuirá para a abertura do seu país e da sua Igreja ao mundo. Délia nasceu a 4 de fevereiro de 1865, em Sainte-Marie de Monnoir, hoje Marieville, Quebec. De saúde precária e órfã de mãe, aos dois anos de idade foi adotada pela sua tia Julie e pelo seu padrinho Jean Alixe, tendo tido uma infância feliz. Desde os seus primeiros anos, Délia gostava muito de se refugiar no celeiro para ler os Anais da Santa Infância e da Propagação da Fé, que encontrara dentro de uma velha caixa.

Os relatos missionários fascinavam-na e já se delineavam os primeiros frutos da sua vocação. Nesse período, teve um sonho significativo: Eu estava ao lado da cama e, de repente, avistei um campo de trigo maduro que se estendia a perder de vista. Num dado momento, todas aquelas espigas se transformaram em cabeças de criança, e eu compreendi de imediato que estas representavam as almas de bebés “pagãos”.
A sua visita a alguns missionários do noroeste do Canadá impressionou-a muito: Embora sentisse uma admiração inexprimível pela vida apostólica, nunca me teria atrevido a enveredar por ela. Aliás, a vida apostólica não me parecia possível, visto não existir no Canadá nenhuma comunidade de religiosas missionárias.

Aos dezoito anos, depois de ter sido rejeitada pelo Carmelo de Montreal, ingressou nas Irmãs da Caridade de São Jacinto, mas uma epidemia forçou-a a voltar para casa. Um acontecimento determinante marcou a sua breve passagem por aquela comunidade: Uma noite, recorda ela, enquanto me encontrava com algumas postulantes numa pequena divisão, pareceu-me que Nosso Senhor me dizia que eu, mais tarde, deveria fundar uma congregação feminina para as Missões Estrangeiras e trabalhar na fundação de uma sociedade semelhante masculina, de um Seminário das Missões Estrangeiras segundo o modelo de Paris.

Anos mais tarde, conheceu o padre John Forbes, missionário na África. Délia planeava partir com ele para África, mas adoeceu precisamente na noite da partida. O padre Almire Pichon, SJ, ajudou-a a fundar Betânia, projeto dedicado às obras sociais, em Montreal. Cheia de dúvidas, trabalhou aí durante dez anos, mas sentia que o Senhor a chamava a uma coisa muito diferente.

Um forte espírito missionário perpassava a Igreja no início do século XX. Todavia, o Canadá não era considerado um dos grandes países que contribuíam, a nível universal, tanto para as Obras Missionárias Pontifícias como para as vocações missionárias. Doações e recursos passavam pelas comunidades religiosas estrangeiras ativas no Canadá. Os jovens que aspiravam à vida missionária tinham de se formar no estrangeiro. Em 1902, depois de muitas provas, Délia fundou com duas companheiras, em Montreal, uma escola apostólica destinada à formação de moças para as comunidades missionárias.
Em novembro de 1904, estando Dom Bruchési de visita em Roma, o padre Gustave Bourassa, que apoiava a jovem comunidade, morreu num acidente. Tinha pedido a Dom Bruchési que falasse ao Papa em favor daquela comunidade nascente; apesar das suas hesitações, o arcebispo acedeu a esse desejo, falando com o Papa Pio X. E este exclamou: Fundai, fundai... e todas as bênçãos do céu descerão sobre essa fundação.

A 7 de dezembro, o Papa atribuiu-lhe o nome de Sociedade das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, apontando o mundo inteiro como campo de apostolado. A 8 de agosto de 1905, Délia fez a profissão perpétua: Todos os países de missão estão abertos para vós.

Délia só podia dar graças a Deus. O seu sonho missionário tornara-se realidade. A fundadora intuiu que chegara o momento, para a Igreja do Canadá, de dar o seu contributo ao serviço da missão universal da Igreja. Esforçou-se por despertar e formar a consciência missionária no país, criando um terreno fértil do qual emergiriam as vocações missionárias e onde se encontrariam os recursos necessários para sustentar as missões em outros países.

O primeiro pedido chegou-lhe do bispo de Cantão, na China; em 1909, Délia mandou para lá seis jovens irmãs. Abriu, no total, dezenove missões no Oriente. Com base nos pedidos dos bispos, Délia Tétreault favoreceu todas as obras de misericórdia: jardins de infância e orfanatos para crianças abandonadas, leprosarias para mulheres, casas para idosos ou para deficientes, a primeira escola para raparigas de Cantão, um hospital para doentes mentais, atividades de formação para as virgens catequistas e as religiosas locais.

Os obstáculos eram numerosos. Como demonstra a sua volumosa correspondência, Délia encorajava as suas filhas à distância, insistindo sobre os valores cristãos. Embora a sua frágil saúde nunca tenha permitido a Délia deixar o seu país, o Canadá beneficiou do seu zelo apostólico pela missão. Entre as suas obras missionárias preferidas, as da Santa Infância e da Propagação da Fé passaram imediatamente a beneficiar do empenho de Délia e da sua comunidade.

Tentando cumprir a vontade de Deus, Délia perseverou na tentativa de realizar a segunda parte do seu sonho: colaborar na fundação de um seminário de sacerdotes missionários. Tinha até um plano para sustentar essa obra. Discretamente, mas com audácia, visitou os bispos das várias dioceses. Insistia que não se tratava apenas de uma extensão canadiana do Seminário das Missões Estrangeiras de Paris.
A 2 de fevereiro de 1921, os bispos do Quebec fundam a Sociedade das Missões Estrangeiras do Quebec. Délia solicitou a colaboração dos leigos no apoio às missões desde o início. Fez deles missionários nos seus âmbitos de vida quotidiana. Inaugurou os retiros espirituais femininos e as escolas apostólicas. Respondeu ainda a uma necessidade evidente de prestar assistência aos imigrantes chineses do seu país. Abriu hospitais, escolas e centros e inaugurou a catequese em chinês: a sua compaixão evangelizava.

Em 1933, Délia Tétreault sofreu um AVC que a deixou paralítica, mas lúcida. Morreu a 1 de outubro de 1941.
O Papa São João Paulo II declarou-a Venerável a 18 de dezembro de 1997. A sua causa de beatificação e canonização ainda está em curso.

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