segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 07 de outubro - Joana Bigard


Joana Bigard nasceu a 2 de dezembro de 1859 em Coutances, cidadezinha da Baixa Normandia, em França. A sua mãe, Stéphanie Cottin, era uma mulher de caráter forte e de amor possessivo. Entre mãe e filha desenvolveu-se uma tal simbiose de sentimentos e de ideais, que quase as tornava indispensáveis uma à outra.
A idade escolar foi passada por Joana, de saúde precária, confinada à sua casa de Caen, cidade para onde o seu pai, magistrado, tinha sido transferido por razões de trabalho. A instrução que lhe foi dada em casa era certamente superior à recebida pelas meninas da sua época, tendo em conta o alto nível cultural da família Bigard, mas não lhe permitia desfrutar da liberdade, da despreocupação, das brincadeiras e do calor da amizade.

A juventude de Joana desenrolou-se na época do pleno desenvolvimento daquela rede de cooperação missionária dos tempos modernos que teve as suas raízes na França pré-napoleônica. O Instituto das Missões Estrangeiras de Paris impulsionava o ardor missionário e era o centro propulsor de algumas associações missionárias que, mediante a oração e as ajudas espontâneas, se propunham apoiar os missionários enviados para o Extremo Oriente e para a América do Norte.
Por iniciativa de várias pessoas, em particular de Paulina Jaricot (1799- 1862), tinha surgido, em Lyon, a Obra da Propagação da Fé, difundida por muitos Estados europeus, incluindo Itália, suscitando o interesse popular pelas missões, sobretudo através de publicações de caráter edificante, como os Anais da Propagação da Fé, que permitiam divulgar as arrojadas e benéficas experiências dos missionários, mas também os diversos problemas daqueles povos.
Através de tais leituras, Stéphanie e Joana Bigard, já em estreita relação com as Missões Estrangeiras de Paris, travariam conhecimento com alguns sacerdotes missionários que trabalhavam no Extremo Oriente, dos quais se viriam a tornar confidentes e apoiantes. Ao mesmo tempo que se iam multiplicando as forças missionárias, na Europa advertia-se, precisamente, da necessidade urgente de instaurar nos territórios de missão uma hierarquia local, livre de qualquer pressão política e autônoma em termos de exercício pastoral.

As duas Bigard, graças aos seus contatos já habituais com os missionários, intuíram o problema e começaram a elaborar mentalmente uma resposta adequada. A Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris, que frequentavam habitualmente, já tinha inserido há algum tempo, no seu programa, a constituição imediata da Igreja local com uma hierarquia formada por elementos nativos. Não era fácil implementar tal programa. A Congregação romana de Propaganda Fide começou a abordar com insistência o problema do clero local, baseando-se numa Instrução que exortavam os missionários a usar da máxima solicitude na formação do clero local. Com uma nova Instrução, convidavam-se os vigários apostólicos, diretamente ligados à Propaganda Fide, a passar para as mãos dos sacerdotes nativos a responsabilidade pelas missões e a não ter medo de subordinar aos mesmos os próprios missionários europeus.
As perseguições, com a possibilidade de uma expulsão em massa dos missionários estrangeiros, aconselhavam, como solução urgente, a criação de um clero nativo. Para poder garantir o crescimento das Igrejas locais nos territórios de missão, a questão central a resolver continuaria a ser, durante muitos anos, a formação do clero nativo. Nisso se concentraram as duas mulheres Bigard. O ponto de partida seria uma carta que lhes foi endereçada a 1 de junho de 1889 pelo bispo de Nagasaki, Dom Giulio Alfonso Cousin, preocupado por terem de mandar de volta para as respetivas famílias (apenas por falta de fundos) alguns rapazes que poderiam vir a ser excelentes seminaristas e, mais tarde, bons sacerdotes, pediu a Joana e Stéphanie Bigard que ajudassem o seu seminário, tornando-se suas patrocinadoras. Sugeriu ainda a adoção de um seminarista que, mais tarde, levará diariamente ao santo altar a recordação dos seus pais adotivos, tanto ao longo da sua vida, como depois da sua morte.

Para Joana e Stéphanie, aquela carta soou como uma chamada. O clero nativo viria a ser a vocação à qual poderiam dedicar, sem reservas, toda a sua vida. Dedicaram-se imediatamente à angariação de fundos para os seminaristas de Nagasaki e, ao mesmo tempo, recolheram informações dos bispos e dos vigários apostólicos das Missões Estrangeiras de Paris sobre o estado do clero local nos seus países.
O caminho empreendido teria resolvido o problema central da Missão, garantindo a presença do clero local. A fundação da Obra de São Pedro Apóstolo passou por várias fases: num primeiro momento, para satisfazer os pedidos de Dom Cousin e de outros missionários, conseguiu várias bolsas de estudo para seminaristas e foram confeccionados paramentos litúrgicos para as missões.

Joana compreendia que a sua Obra deveria volver o olhar para as missões do universo, porque todo o mundo missionário tinha necessidade de sacerdotes. Em perspectiva, a Obra queria estar aberta às pessoas que, em todo o mundo, contribuíam ou teriam contribuído, segundo as suas possibilidades, para apoiar: 1. a criação de bolsas perpétuas;
2. a adoção de um seminarista;
3. a oração, as oferendas e o trabalho.

No entanto, para garantir um lançamento seguro, eram necessárias duas condições imprescindíveis: a graça de Deus e a bênção do Papa. Será o próprio Leão XIII a proporcionar uma oportunidade nesse sentido, com a sua Encíclica Ad Extremas Orientis, com a qual declarou a urgência da formação dos sacerdotes nativos.

Os missionários que ignoravam a língua e os costumes do lugar eram considerados estrangeiros, ao passo que os sacerdotes nativos seriam ajudados no seu ministério. Devia, portanto, ter-se presente que o número dos missionários estrangeiros não conseguiria acompanhar o ritmo do aumento das conversões.
A Obra de São Pedro Apóstolo já tinha no seu ativo mil associados e uma longa lista de bolsas de estudo, no valor de cem mil francos, destinadas a seminaristas asiáticos e africanos. Era lícito esperar um sinal de aprovação vindo de Roma. A bênção do Papa chegou em 1895, quando o episcopado francês também concedeu o nihil obstat à Obra de São Pedro Apóstolo para o Clero indígena das Missões, que assim passou a pertencer plenamente à Igreja universal.

A Propaganda Fide garantiu o seu pleno apoio à Obra e, a inserção da mesma nas Obras Missionárias Pontifícias, ocorrida a 3 de maio de 1922, por vontade de Pio XI.

A solidão e o abandono que experimentam muitos fundadores e fundadoras também impressionaram Joana. A 5 de janeiro de 1903, à cabeceira da mãe Stéphanie, moribunda, está só ela, Joana Bigard, que ofereceu a Deus o seu sofrimento e o amor daqueles que a tinham ajudado e seguido. Temia a escuridão espiritual, e rezava a Jesus, pedindo-Lhe que fosse o seu companheiro de viagem até ao dia em que me perderei no vosso amor.

Estava preocupada com a continuidade da obra que, no fim, confiaria à Congregação Religiosa das Franciscanas Missionárias de Maria.
A longa doença que a conduzirá à morte, ocorrida a 28 de abril de 1934, revela a lógica misteriosa das obras de Deus, que muitas vezes concede a abundância dos seus dons como resposta a pessoas que sabem entregar completamente a sua própria vida até à cruz. A Obra de São Pedro Apóstolo já fazia plenamente parte da vida da Igreja, apareceu pela primeira vez num documento solene do magistério, a Maximum Illud, do Papa Bento XV, como a Obra competente em termos de seminários e de hierarquia local.
A 3 de maio de 1922, Pio XI declara-a Obra Pontifícia. Este mesmo Papa ordenou os primeiros bispos da China, do Japão e do Vietname, aos quais se seguirão os primeiros vigários apostólicos de África, consagrados em 1939 por Pio XII.

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