No seu decreto de beatificação, o Papa
Francisco descreveu-o como catequista diligente, professor dedicado e
testemunha do Evangelho até ao derramamento de sangue.
Tshimangadzo Samuel Daswa nasceu a 16 de junho
de 1946, na aldeia de Mbahe, na África do Sul; morreu mártir pela fé a 2 de
fevereiro de 1990 e foi beatificado a 13 de setembro de 2015. Quando Benedict
se tornou católico, compreendeu que havia aspetos da cultura africana, como a
prática difusa da bruxaria, da magia e do homicídio ritual, que não podia
continuar a aceitar. A sua posição contra esses problemas profundos e obscuros
da sua cultura levou-o a pagar o preço último do martírio. A sua morte brutal
por lapidação e espancamento fez dele um herói para todos os cristãos de África
e de qualquer outro lugar em que se lute pela libertação da escravidão da
bruxaria.
Benedict Daswa viveu a sua vocação cristã com
satisfação e entusiasmo, mas, ao mesmo tempo, com modéstia e humildade, como o
demonstra o seu testemunho cristão nas várias áreas da sua vida. Após o seu
Batismo, e em particular depois do seu casamento na Igreja, em 1974, com Shadi
Eveline Monyai, Benedict tornou-se um guia para os jovens, passando com eles
muitas horas e fins de semana, catequizando-os e instruindo-os. Quando se
formou o primeiro Conselho Pastoral Paroquial, foi eleito presidente. Ajudou,
ensinando o catecismo a crianças e adultos, conduzindo a celebração dominical
na ausência do sacerdote, visitando os doentes e os não-praticantes e ajudando
os pobres e os necessitados.
Em família, Benedict era um verdadeiro modelo
de referência como marido e pai, sendo completamente dedicado ao ideal da
família como “Igreja doméstica”. Nas aulas, não só se preocupava em transmitir
aos alunos um bom nível de instrução, mas transmitia-lhes sobretudo os valores
morais fundamentais para a formação da sua personalidade.
Na esfera pública, Benedict não fez segredo da
sua posição contra a bruxaria, a magia e o homicídio ritual, que ainda hoje têm
poder para impedir o desenvolvimento e o progresso da sociedade. As acusações
de bruxaria são muitas vezes movidas por ciúmes, medo e suspeitas contra
aqueles que parecem estar mais empenhados e ter êxito nos seus empreendimentos.
Benedict deu-se conta da necessidade de libertar os indivíduos desses efeitos
paralisantes, a fim de lhes permitir assumir a responsabilidade pessoal das
próprias vidas e tornarem-se adultos maduros. Assim, o seu papel na ajuda que
dava às pessoas para alcançarem a verdadeira liberdade interior foi importante
não só para a Igreja, mas para toda a sociedade.
Tanto na comunidade local, como conselheiro e
consultor do chefe da aldeia, como na comunidade eclesial, enquanto catequista
e responsável pela oração, Benedict demonstrou um espírito de genuíno amor
cristão, respeito, generosidade, honestidade e liberdade. Nunca se envergonhou
de admitir a sua grande fé em Deus: era Deus que lhe dava força.
Havia outros que, tal como Benedict,
consideravam o mundo da bruxaria fruto do mal, do medo, da desconfiança, da
inimizade, da injustiça e da violência, que, em seu entender, as pessoas
deveriam abandonar, tornando-se livres. Esses, porém, entre os quais os
ministros religiosos, calavam-se por medo de represálias. Benedict era
diferente. Falava aberta e fortemente em público, opondo-se às pessoas que
recorriam à bruxaria.
Benedict Daswa nunca fez pactos desonestos.
Sempre aderiu à sua fé cristã. Defendia as pessoas que se recusavam a pagar
para consultar o sangoma (o xamã), pois não queria que as pessoas pagassem por
uma coisa que não existia. Acima de tudo, Benedict não queria que nenhum
inocente fosse morto ou banido da aldeia como suposto bruxo.
Normalmente, devido aos boatos, mexericos e
intrigas, apontava-se alguém a dedo, muitas vezes alguma mulher idosa ou
qualquer outra pessoa vulnerável. As pessoas não procuravam provas de culpa,
mas dirigiam-se a um sangoma que habitualmente confirmava as suas suspeitas. O
imputado não tinha qualquer possibilidade de se defender.
Entre novembro de 1989 e janeiro de 1990,
abateu-se um temporal sobre a aldeia onde Benedict morava com a sua família. A
25 de janeiro de 1990, durante uma tempestade, os telhados de algumas cabanas
foram atingidos pelos raios e incendiaram-se. Era opinião comum entre os
habitantes locais que se um raio atingia uma casa, isso fora provocado por
alguém que, no entender do povo, praticava bruxaria. Segundo a cultura
tradicional, os bruxos deviam ser capturados e mortos, bem como aqueles que os
tivessem protegido, visto representarem uma ameaça para a sociedade. Era esta a
cultura tradicional.
Benedict estava consciente da crescente pressão
contra ele. Assim, no domingo seguinte, o chefe da aldeia convocou uma reunião
do conselho para abordar essa questão. Benedict ainda não tinha chegado quando
foi decidido que alguns membros da comunidade deveriam dirigir-se a um sangoma
para descobrir o bruxo que tinha enviado os raios. Antes disso, porém, teriam
de juntar o dinheiro necessário para lhe pagar. Quando Benedict chegou, tentou
imediatamente fazê-los mudar de ideias, sublinhando que a sua decisão
provocaria a morte de vários inocentes. O encontro terminou com o reforço da
decisão do conselho e a recusa de Benedict em colaborar.
Os seus inimigos reuniram um grupo de jovens e
adultos para o matar. Aquela sexta-feira, 2 de fevereiro de 1990, Festa da
Apresentação do Senhor no Templo, tornou-se no dia de festa da entrada de
Benedict Daswa no paraíso.
O aspeto mais significativo do testemunho de
Benedict tem que ver com a sua capacidade de abraçar criticamente aquilo que
havia de bom na sua cultura, embora desafiando com coragem aqueles elementos
culturais que impediam a realização da vida na sua plenitude.
Benedict acreditava firmemente que o matrimônio
era uma relação entre pares, para toda a vida, uma fiel associação de vida e de
amor. Numa comunidade rural, patriarcal e tradicional africana, na África do
Sul do apartheid, Benedict deu testemunho profético de uma atitude respeitadora
da igualdade das mulheres. Acreditava no matrimônio fiel e monogâmico que
encontra no sacramento cristão o seu pleno sentido. Como foi testemunhado pelos
seus filhos, nunca se envergonhou de ajudar Eveline, sua mulher, na lide
doméstica, geralmente reservada às mulheres. Rezava todos os dias com a sua
família e animava todos os pais a rezar com os seus filhos. Organizava reuniões
de família regulares e servia de mediador e consultor aos casais em
dificuldades. Por fim, Benedict foi um fervoroso professor e educador, chegando
a diretor da Escola Primária de Nweli, onde ensinou durante muitos anos. E
talvez, acima de tudo, como foi sublinhado por aqueles que o conheciam, era um
homem profundamente humilde, que recorria sempre à força do diálogo, que lhe
vinha da sua fé e amizade com Jesus.
Nunca renegou a sua cultura africana, mas
abraçou os seus melhores aspetos, purificados e amadurecidos pela fé. A sua
história reflete o empenho sincero nos valores da ética ubuntu, um empenho em
prol do bem comum e do serviço à vida. O exemplo que oferece com a sua atitude
quotidiana – como leigo, pai de família, catequista diligente e professor
dedicado – é aquilo que muitos sul-africanos podem considerar hoje a herança
mais significativa da sua vida: não contra a sua cultura, mas para bem de si
mesmos e para bem da sua própria cultura e nação.
A igreja celebra sua memória no dia 02 de fevereiro.
A igreja celebra sua memória no dia 02 de fevereiro.
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