Dom Jean Cassaigne nasceu em Grenade-sur-Adour,
(França), em 30 de janeiro de 1895. Perdeu prematuramente a mãe e foi enviado
pelo pai para Espanha, a fim de seguir os seus estudos num colégio dos Irmãos
das Escolas Cristãs, exilados em Lez, perto de San Sebastian.
Tendo regressado a França por volta dos dezessete
anos, ajudou o pai no seu trabalho, mas sentia-se atraído pelas missões e
manifestou o seu desejo de se tornar missionário.
Precisamente quando se preparava para entrar no
Seminário da Rue du Bac, teve notícia da declaração de guerra entre a França e
a Alemanha. Alistou-se então, aos dezenove anos de idade. Passou cinco anos na
frente como agente de ligação, participou na batalha de Verdun e foi
condecorado com a Cruz de Guerra. Após a desmobilização, em 1920 ingressou no
Seminário das Missões Estrangeiras de Paris, foi ordenado sacerdote a 19 de
dezembro de 1925 e partiu para a Indochina a 6 de abril de 1926.
Primeiro foi mandado para Cai-Mon (Vietname),
importante comunidade cristã da província de Ben-Tre, a fim de aprender a
língua vietnamita. Ao chegar à missão, Jean Cassaigne, tal como os outros,
dedicou os primeiros meses da sua vida missionária ao estudo da língua e dos
costumes locais e foi iniciado na pastoral em ambiente vietnamita, na grande
paróquia de Cai-Mon. No ano seguinte, foi enviado para Djiring (Di-linh), para
fundar aí uma nova comunidade cristã junto das populações das montanhas daquela
região, habitada pelo povo Sré, também conhecido por Koho. Na época, a região
de Djiring era quase exclusivamente habitada por minorias étnicas, porque os
vietnamitas ainda não se tinham estabelecido nos planaltos.
Desde a sua chegada a Djiring, Jean Cassaigne
estudou a língua local, muito diferente da língua vietnamita. Estudante
empenhado, rapidamente conseguiu compilar um léxico e um manual de conversação.
O jovem missionário começou de imediato a entrar em contato com as populações
animistas, que, no entanto, não se fiavam e provavelmente tinham medo daquele
estrangeiro barbudo. Era possível que os homens da floresta nunca tivessem
visto um europeu de pele branca. Pouco a pouco, porém, com o seu sorriso e a
sua amabilidade, Jean Cassaigne conseguiu aproximar-se deles.
Descobriu então a miséria daqueles homens,
obrigados, por vários acontecimentos, a afastar-se do seu ambiente natural.
Forçados a deixar a floresta na qual encontravam habitualmente o seu sustento,
subalimentados, sem roupa, eram presa fácil de todo o tipo de doenças. E, entre
eles, Jean Cassaigne descobriu os mais doentes, os mais infelizes de todos: os
leprosos, expulsos pelas suas famílias, abandonados na floresta, sem abrigo nem
cuidados, esperando apenas que a morte viesse pôr termo aos seus sofrimentos.
Aquela pobre gente, excluída da sociedade,
comoveu profundamente o seu coração de missionário. Foi então que se
comprometeu a dedicar todas as suas forças ao seu serviço. Pouco a pouco, os
Moïs foram aceitando a sua presença e começaram a procurá-lo. Naquela época,
muitos proprietários de plantações franceses, que tinham obtido do governo
colonial concessões de terrenos para desbravar no planalto de Djiring, pediram
à missão que criasse uma comunidade cristã.
As Missões Estrangeiras de Paris acharam a
proposta interessante e digna de ser acolhida com benevolência. Dom Dumortier,
pelo seu lado, viu nisso uma ocasião providencial para dar início à
evangelização naquela região. A missão adquiriu então uma casa, que servia ao
mesmo tempo de residência para o missionário e de escola para as crianças das
populações das montanhas.
Com a ajuda de alguns homens, Jean Cassaigne
construiu para eles a pequena fração de Kala, situada a pouca distância da
aldeia de Djiring. Formada por cabanas sobre estacas, como eram habitualmente
construídas pelos habitantes da região, foi batizada por Jean Cassaigne de Cidade
da Alegria. Mais tarde, pouco a pouco, foi reunindo os leprosos à sua
volta. Considerava-os os seus próprios filhos, alimentando-os e cuidando deles
todos os dias. Em 1929, a aldeia dos leprosos tinha crescido e já contava com
cem doentes.
Em 1930, o padre Cassaigne tinha batizado os
seus dois primeiros catecúmenos e várias famílias pediam para se tornarem
cristãs. No centro da aldeia havia uma enfermaria onde, três vezes por semana,
o missionário passava receitas e distribuía os medicamentos. Ele próprio fazia
os curativos aos leprosos e, dando-lhes acesso à instrução religiosa,
preparava-os para morrer como cristãos.
A um canto da aldeia erguia-se a capela dos
leprosos onde, ao domingo, as orações eram recitadas em língua koho e onde
tinham lugar as lições de catequese. Em 1935, Jean Cassaigne, com a ajuda do
seu fiel catequista Joseph Braï e a colaboração de cem leprosos, fundou em
Kala, perto de Djiring, uma aldeia autônoma para reunir e tratar os Moïs
leprosos da região. Meses mais tarde, teve a alegria de batizar vinte e seis
catecúmenos numa capela completamente nova.
Foi o início da primeira comunidade cristã das
populações das montanhas, que continuaria a desenvolver-se. Em 1936 já eram
duzentos. Em 1937, a Visitadora das Filhas da Caridade, Irmã Clotilde Durand,
tocada pela dedicação do missionário, que medicava pessoalmente os leprosos,
prometeu-lhe a ajuda das Irmãs de São Vicente de Paulo. Quatro Filhas da
Caridade chegaram à aldeia no mês de fevereiro de 1938 e começaram a tratar dos
leprosos.
Em 1941, um telegrama de Roma arrebatou Jean
Cassaigne aos seus leprosos. O Papa tinha-o nomeado bispo e responsável pelo
Vicariato Apostólico de Saigon. Apesar da sua repugnância pelas honrarias, teve
de aceitar “descer” a Saigon. Recebeu a ordenação episcopal durante a festa de
São João, a 24 de junho. Uma multidão de três mil pessoas aglomerou-se na
catedral de Saigon para a cerimônia, e entre ela contava-se uma importante
delegação das populações das montanhas em trajes tradicionais, que acorrera em
representação da comunidade cristã de Djiring.
Em Saigon, Dom Cassaigne impôs o seu estilo
pessoal. Não faltou, decerto, às suas responsabilidades e respeitou os usos do
seu ministério, mas, na vida quotidiana, continuou a ser o padre Cassaigne,
homem simples e acolhedor. Deixava sempre a porta aberta: todos podiam ser
recebidos sem se fazerem anunciar, pobres e ricos, sem distinção de raça nem de
estrato social. Durante quinze anos manteve-se nesse difícil cargo, tendo por
isso de enfrentar muitas dificuldades, quer durante a ocupação japonesa quer
durante a guerra franco-vietnamita. Durante esse período agitado, colocou as
suas energias ao serviço de todos, organizando ajudas e socorros para os mais
carenciados, sem preferências nem exceções. Os próprios japoneses prestaram
homenagem ao amor ao próximo e à dedicação de que deu provas Dom Cassaigne.
Dom Cassaigne, porém, tinha no coração um único
desejo: voltar a viver com a sua querida gente das montanhas. Quando percebeu
que ele próprio tinha contraído lepra, fez chegar o seu pedido de demissão do
cargo de vigário apostólico de Saigon à Santa Sé. O Papa aceitou-o e ele teve
assim a grande alegria de poder voltar, em dezembro de 1955, para junto dos
seus leprosos, que nunca mais abandonaria.
De volta a Djiring, a sua única preocupação foi
garantir uma adequada assistência material à sua gente e, sobretudo,
oferecer-lhe largamente a ajuda espiritual que transformava os seus em seres
felizes. Amou-os tanto, estava tão próximo deles, misturou-se tão intimamente
com eles que, tendo sido também ele atingido pela lepra, aceitou viver com eles
os mesmos sofrimentos.
Por fim, no termo da sua vida, embora no meio
de dores e confinado ao leito pela doença, manteve sempre a alegria, uma
alegria radiosa e comunicativa, que um dia lhe fez dizer aos seus amigos: O
bom Deus ama-me pois escolheu para mim a melhor oração, o sofrimento, que Ele
reserva para os seus amigos.
Dom Cassaigne morreu a 31 de outubro de 1973 e,
segundo o seu desejo, foi sepultado no pequeno cemitério da leprosaria, ali
onde ele próprio tinha cavado a sepultura para o seu primeiro convertido.
A gratidão dos leprosos para com Dom Cassaigne
foi expressa de modo comovente no dia da sua sepultura por um dos leprosos,
que, tomando a palavra em nome dos seus irmãos doentes, lhe dirigiu esta
mensagem:
Ó pai, tu mostraste-nos o verdadeiro
caminho para o céu, e esta leprosaria é obra tua. Graças a ti, não nos tem
faltado nada: alimentos, roupa, medicamentos, tudo isso ias buscar para nós...
Queridíssimo pai, embora carentes de tudo, não podemos deixar de te agradecer e
de rezar ao Senhor por ti. Hoje queremos viver o teu ensinamento, manter vivo
no meio de nós o vínculo da caridade e o modo como nos amaste, sofrer na nossa
carne de dor, como tu nos ensinaste a sofrer enquanto viveste no meio de nós.
Pai, quando estavas vivo, quiseste identificar-te conosco, desejaste contrair a
lepra como nós, sofrer de malária, sofrer no teu corpo de carne como nós e
morrer no meio dos teus filhos. Eis a nossa última súplica, e é a ti que a
dirigimos: reza por nós, para que um dia o Senhor também nos considere dignos
de nos encontrarmos contigo no seu paraíso, no Paraíso da unidade.
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