Teresa nasceu em 1515,
a Santa de Ávila queria ser missionária e não lhe era permitido por ser mulher.
Ela não sabia bem como poderia dar a sua contribuição.
Teresa, ainda
adolescente fica órfã de mãe. O pai encarrega as agostinianas para educar sua
filha. No internato, onde deve aprender o ideal para ser uma boa esposa, a
jovem se deixa influenciar pela educadora irmã Maria de Briceño. Teresa
sintoniza muito com ela e a vê como uma pessoa muito feliz. Um dia, esta
religiosa lhe conta que a frase evangélica, “muitos são os chamados e poucos os
escolhidos” havia impulsionado sua opção de vida. A partir de então, Teresa
começa a admitir a ideia de consagrar sua vida a Deus. E, sem permissão
paterna, nos seus 20 anos de idade, a jovem resolve se consagrar a Deus, indo
para o Convento da Encarnação.
O contexto conventual
não era dos melhores. Como monja vive uma vida mediana, somatiza seus problemas
a ponto de ficar fisicamente paralítica durante três anos. Prioriza as relações
externas, deixando em segundo plano o projeto assumido. Passa alguns anos neste
tipo de vida, mas em contínua busca de algo mais. Fiel à reflexão, oração e
partilha com pessoas sábias, encontra o tesouro da sua vida, a verdade que
sempre buscou: Jesus Cristo, seu sentido existencial. A partir de então,
aos 39 anos de vida, seu único foco é o Reino de Deus. Quer ser missionária.
Mas como poderia aspirar à essa missão, com todos os limites sociais e
eclesiais que pesavam sobre a mulher?
Teresa vive no período
da colonização espanhola nas Américas. Alguns dos seus irmãos também entraram
nesta aventura de atravessar o mar para explorar as novas terras de Quito,
Lima, Peru e Chile. Ela acompanha o que acontece com os povos conquistados e
sofre muito, por esta causa. Através das suas cartas, que chegaram a nós hoje,
sabemos que ela manteve muitos contatos, especialmente com missionários
defensores dos indígenas. Deixa registrado por escrito sua inquietação e
angústia por se “sentir encurralada como mulher” e não poder colaborar na evangelização
dos povos da América. Suplica a Deus que a ilumine.
No relato da Fundação
do Convento de São José em Ávila, ela mesma conta que um dia receberam a visita
do Frei Alonso Maldonado, missionário nas Índias (Américas). Este franciscano
lhes falava sobre as necessidades na missão e o tratamento dado aos índios.
Teresa ficou muito impactada e “recolhendo-me num oratório, clamei a Nosso
Senhor. Coberta de lágrimas, supliquei-Lhe que me desse meios para que eu
pudesse fazer algo”, a serviço do Reino. Teresa percebe que dentro dela surge
uma resposta; ela também poderia participar da missão evangelizadora na
América, mesmo sendo carmelita e vivendo na clausura. Num momento de profundo
recolhimento e oração, percebe a presença de Jesus Cristo que, com muito amor e
confiança, lhe comunica: “espera um pouco, filha, e verás grandes coisas!”
A partir deste momento, nela se abre um novo horizonte, pois estas palavras
“ficaram profundamente gravadas em meu coração”. E assim entendeu como poderia
ser missionária: “decidi então fazer o pouquinho que estava ao meu alcance”.
Teresa de Ávila
empreendeu uma grande obra, provocando um movimento de mulheres com a meta de
viver o espírito evangélico como orantes, pobres e iguais, as Carmelitas
Descalças. E, como se não bastasse, ao propor isso aos homens, tornou-se um
caso raro na história da Igreja, uma mulher reformadora de uma Ordem masculina,
os Carmelitas Descalços.
Envolve pessoas amigas
e familiares como colaboradores na sua obra; procura ser ponte de união na
família; perante a problemática do seu irmão Pedro, doente e depressivo,
encaminha seu irmão Lorenzo para assumi-lo; cria redes de relações com os
jovens sobrinhos, com uma atenção especial aos adolescentes, com os quais
mantém contato direto, incentivando-os a estudar e a se organizar na vida.
Articula-se com os
melhores teólogos da época. Assegura-se que o que ela pensa, busca e
experimenta não seja contraditório à fé cristã.
Oriunda de uma família,
na qual teve o privilégio de aprender a ler e escrever, registra por escrito a
experiência da passagem de Deus na sua vida. Empenha-se para que todas as irmãs
Carmelitas aprendam a ler e escrever, garantindo-lhes mais autonomia nas
diversas áreas como a comunicação, espiritualidade, teologia, e, até mesmo para
poder acompanhar os acontecimentos.
Incentiva e orienta
pessoas a trilharem o caminho de opção por Jesus Cristo e seu Reino; acompanha
suas fundações, faz negócios, solicita ajuda para as necessidades e o cuidado
com a pessoa das irmãs, especialmente na saúde, vestuário, alimentação.
Utiliza intensivamente
a mídia da época escrevendo bilhetes, cartas, livros. Usa todos os meios que
pode e se comunica com as autoridades oficiais, tanto religiosas como civis,
para solicitar ajuda, defender sua obra.
Teresa mantém-se
conectada à evangelização eclesial, principalmente nas “Índias”, enviando
cartas aos missionários, irmãos, parentes e amigos. Seu método: inicia as
cartas partilhando a sua própria experiência humana e espiritual. A seguir, expressa
interesse pelo destinatário, seu trabalho e como o realiza. Escrevendo aos
missionários, quer saber como os índios são tratados, pois diz ter ouvido falar
sobre a exploração indígena e critica determinadas práticas. Faz questão de
expressar que gostaria de estar em terras de missão, mas como não pode, “por
ser mulher”, assume ser missionária em tudo o que está ao seu alcance, vivendo
intensivamente a proposta de Jesus e orando pela evangelização.
Sim, a Santa de Ávila
foi missionária, amando e experienciando a humanidade de Jesus Cristo.
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