O Servo de Deus irmão Félix Tantardini,
missionário leigo do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras (IPME) na
Birmânia (Myanmar), nasceu a 28 de junho de 1898 em Introbio, na Itália, era o
sexto de oito filhos. Participou na Primeira Guerra Mundial, foi feito
prisioneiro pelos austro-húngaros e evadiu-se do campo de concentração.
Ingressou no IPME em 1921 e em 1922 partiu para
a Birmânia, onde permaneceu até à sua morte em 23 de março de 1991, regressando
apenas uma vez à Itália, entre abril de 1956 e janeiro de 1957.
A sua vida não foi marcada por fatos
particularmente extraordinários. O que mais impressiona e suscita admiração é
“o extraordinário no ordinário”, neste homem rico de humanidade e transbordante
de fé, que fez da sua própria vida um dom total de si ao serviço do Evangelho e
dos irmãos.
A primeira virtude que se destaca do quadro de
conjunto da sua vida é a fé. Os critérios que inspiravam as suas
palavras, os seus escritos, a sua atuação, as suas relações com as pessoas,
derivavam, não de cálculos nem de lógica humana, mas do Evangelho. O seu
olhar era um olhar de fé. Bem se pode dizer que ele via e julgava as coisas, os
acontecimentos e as pessoas com os olhos e o coração de Jesus, do qual estava
profundamente enamorado.
No seu percurso de fé, deixou-se “plasmar”
docilmente por uma educadora de exceção: a sua querida Nossa Senhora,
que ele invocava continuamente com afeto e ternura filial.
A fé do irmão Félix era constantemente
alimentada pela Palavra de Deus, pela oração e pelos sacramentos. A
estes ia ele buscar luz e força para enfrentar todo o tipo de dificuldades e de
provas sem se lamentar, com um sorriso nos lábios e paz no coração.
A esse respeito, eis alguns testemunhos
extraídos das declarações constantes do seu processo: - Tinha uma fé pura e
simples. Deus e Nossa Senhora eram tudo para ele.
- Todas as manhãs fazia pelo menos uma
hora de meditação e só depois tocava o sino. E repetia-o todas as manhãs, sem
nunca se cansar... Também era fiel à adoração eucarística, que fazia sobretudo
ao fim da tarde, depois do trabalho.
- Quando rezava, entrava em verdadeiro
recolhimento... parecia estar a falar com Deus como se O visse.
- A sua devoção a Nossa Senhora era
proverbial: tinha sempre o terço na mão.
- Era um homem cheio de virtudes,
completamente dedicado ao seu trabalho... Além disso, nunca perdia tempo. Era
um homem todo oração e trabalho, e o seu trabalho era todo para Deus... Preferia
trabalhar em silêncio e escondidamento... Era uma maneira de se manter
recolhido e completamente dedicado a Deus e ao seu serviço.
Sintetizando, podemos dizer o seguinte: o irmão
Félix gostava muito de trabalhar bem, com alegria, para o Senhor, sabendo
educar os outros para o trabalho e, portanto, para a vida. Porque não há vida
digna sem trabalho!
Do amor ao bom Deus brotava a caridade do irmão
Félix para com todos, caridade que se traduzia concretamente no serviço
solícito que prestava sobretudo aos mais necessitados: leprosos, deficientes e
doentes, sem distinção de religião. A doação de si próprio também se exprimia
na obediência praticada de maneira exemplar. Ia para onde quer que o bispo ou
os superiores o mandassem, sobretudo quando se tratava de ajudar os habitantes
da floresta.
Dizia que as pessoas da cidade gozavam de um
certo bem-estar e tinham operários à sua disposição, ao passo que os habitantes
da floresta estavam muitas vezes abandonados e carentes de tudo. Despojava-se
de tudo em favor dos pobres, com naturalidade, sem o mostrar, reservando para
si apenas o estritamente necessário. Era querido por todos, mas mantinha-se
humilde e reservado. Podemos dizer que a humildade fazia parte do seu ser.
Sabemos que não cresceu numa família abastada;
depois viera a prova de fogo dos anos passados no serviço militar e da prisão
durante a Grande Guerra, que tinham temperado o caráter do jovem Félix. Mais
tarde, consagra-se à vida missionária numa terra e numa época repassadas de
miséria, fome, conflitos e carestias, e flageladas, durante a Segunda Guerra
Mundial, pelos bombardeamentos e pela invasão chinesa e japonesa, com toda a
sua carga de lutas e sofrimentos inenarráveis.
Sabemos ainda que arriscou a vida sob os
bombardeamentos, sempre que se deslocava durante a invasão japonesa, que durou
dois anos. No entanto, saiu-se sempre bem, graças à proteção especial do bom
Deus e da sua querida Nossa Senhora, como ele dizia, mas também em virtude
do seu engenho.
Todavia, os anos passam para todos. As
dificuldades, as viagens extenuantes e algumas intervenções cirúrgicas com
complicações pós-operatórias iam minando o seu organismo. Não obstante, era
raro lamentar-se, tendo sempre a preocupação de não ser um fardo pesado para os
outros. Era sustentado em todas as tribulações sobretudo pela sua fé inabalável
e pela sua fidelidade à oração. Nunca teria conseguido aguentar tantas
tribulações sem fortes motivações interiores e uma especial ajuda do Alto,
continuamente implorada com humildade e confiança.
Morreu em missão, com quase noventa e três
anos, a 23 de março de 1991, num sábado, dia mariano, como tinha desejado.
Certamente ainda hoje mantém, no paraíso, a sua promessa de continuar a
trabalhar como missionário, já não batendo na bigorna, mas martelando sem
cessar no coração do bom Deus, pela salvação daquela gente pobre e humilde a
quem tanto tinha amado.
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