A Madre Catarina Zecchini nasceu em Veneza, a
24 de maio de 1877, e morreu na mesma cidade, a 17 de outubro de 1948.
Não conhecemos muito da sua juventude: batizada
a 3 de junho de 1877 na igreja de San Giacomo dell’Orio, crismada na igreja de
São Jeremias e Santa Lúcia, a 25 de maio de 1885, era dotada de um caráter
exuberante, vivo e espirituoso, mas muito sensível.
Terminou a escola primária depois dos dez anos
de idade, tendo começado a trabalhar em casa, ajudando o pai, comerciante de
vinhos, na contabilidade. Dela foi brotando uma solicitude cada vez mais forte
para com os pobres, sobretudo para com as crianças que encontrava nas ruas da
sua paróquia e que muitas vezes levava para sua casa para lhes matar a fome e
as vestir. Esta caridade que ia germinando no seu coração parece ter sido
destinada, com a graça de Deus, a crescer no tempo até já não se podia limitar
àqueles pobres ocasionais, manifestando-se na necessidade de trabalhar com
todas as suas forças pela difusão do Reino de Deus sobre toda a terra, ao
serviço daqueles a quem Catarina chamará os verdadeiros pobres: os que ainda
não conhecem Deus.
Em 1905, Catarina teve um encontro fundamental
para a sua vida espiritual: o encontro com o padre dominicano Giocondo Pio
Lorgna, que, durante mais de vinte e cinco anos, até morrer, foi seu diretor
espiritual, tendo-a feito crescer no amor à Cruz e à Eucaristia. O encontro
eucarístico era para Catarina o encontro com uma pessoa real, com o Deus que
ela denominava aniquilado, escondido, mas que sabia ser o único poderoso
e capaz de transformar a vida do homem.
Depois de ter recebido a Eucaristia, sentia um
desejo cada vez maior de perfeição e de união com Deus; se, por um lado, a
contemplação eucarística a levou a um autêntico conhecimento de si mesma e do
seu próprio nada, por outro, também lhe deu forças para estender as asas e
lançar o olhar mais além, onde tantos irmãos esperavam a sua ajuda.
A comunhão com Cristo gerou a missão, que se
manifestou em sentimentos de comoção e de amor e naquela sede que ela
equiparava à sede de almas de Cristo: Tenho sentido uma grande sede de almas
[...] dá-me muitas dessas almas, Jesus, quero reconduzi-las aos teus pés, belas
e purificadas.
Contemplando Cristo na sua paixão, sob o rosto
do Crucificado e na presença eucarística, partilhando a sua ânsia de amor,
Catarina não podia deixar de desejar como meio principal para saciar essa sede
o meio escolhido pelo próprio Cristo: o sofrimento. Nasceu assim o desejo de se
oferecer com Cristo e em Cristo como vítima pelos irmãos.
O ato de Oblação ao Amor Misericordioso, de 8
de dezembro de 1920, constitui uma síntese desse caminho, dessas intuições que
se fundam num único e grande ideal: Sinto em mim desejos imensos. Gostaria
de ser apóstola do teu amor, ó grande Deus! Morrer mártir da caridade, gastar
cada instante da minha vida para que o Amor seja conhecido, para glória de Deus
e para bem das almas. Sob a luz eucarística, compreendem-se as diversas
atividades missionárias empreendidas por Catarina.
A difusão da Pequena Pagela Apostólica,
por ela composta em 1915, consiste num dia por mês de oração e de oferenda do
trabalho a favor das missões, para obter vocações missionárias, todas as ajudas
espirituais e materiais que lhes são necessárias e a conversão daqueles que
ainda não conhecem Cristo.
Na Hora de Adoração, diante de Jesus, convidava
as pessoas a rezar pelas missões do mundo inteiro. A União Missionária Santa
Catarina de Sena era um grupo de mulheres, ligadas por votos privados, que se
encontravam uma vez por mês para oferecer algumas horas de trabalho para as
missões e a adoração com o mesmo objetivo, sendo acompanhadas ainda por um
sacerdote num caminho de formação missionária.
O duplo movimento de trabalho e adoração
também marcou outra iniciativa de Catarina: o laboratório missionário, que, num
segundo momento, dará vida ao laboratório missionário diocesano: Só a oração
e o trabalho teriam sido capazes de alcançar o objetivo que Catarina Zecchini
tinha proposto a si própria entre os fiéis, para os infiéis.
Por fim, a instituição dos Pequenos
Apóstolos da Santa Infância e de uma Companhia Filodramática, com as
suas récitas, cujo produto era encaminhado para as missões.
O chamamento particular de Catarina a ser
“mártir”, a sua sede cada vez maior de oração, o progressivo aniquilamento de
si própria diante de Deus, são apenas um sinal de uma vocação que não se limita
a uma só pessoa, mas que se alarga à comunidade com a fundação de um instituto
religioso. A intuição da Obra ocorre-lhe, mais uma vez, diante de Jesus
Eucaristia.
Estamos em 1912, em Castel di Godego, quando
lhe surgiu claramente a ideia de uma comunidade religiosa, toda ela dedicada à
missão universal da Igreja. Contudo, seriam necessários muitos anos de
interiorização, de caminho de fé, de busca apurada da vontade de Deus e de
discernimento, com a ajuda de alguns sacerdotes, para que essa ideia se
tornasse realidade.
Obrigada a refugiar-se em Novara por causa da
guerra, Catarina conheceu, no início de outubro de 1918, na igreja de Santa
Maria das Graças, o padre Luigi Fizzotti, passionista. Na confissão
subsequente, sem que Catarina lhe tivesse manifestado fosse o que fosse, ele
incitou-a a iniciar a Obra sem hesitações, visto ser essa a vontade do Senhor.
O padre Luigi manteve-se sempre ao lado de Catarina, apoiando-a no seu papel de
fundadora, tentando ajudar o seu caminho através de cartas e recomendações e,
quando foi necessário dar um rosto institucional à Obra, tornando-se no seu
principal garante.
Após várias dificuldades, divergências e
obstáculos de todo o tipo, a 20 de abril de 1933 seriam finalmente constituídas
as Servas Missionárias do Santíssimo Sacramento. Foi decidido pelo sim,
lê-se no diário do patriarca, que quis datar o decreto com o dia de Sexta-feira
Santa.
Para Catarina e para as suas companheiras, foi
uma Páscoa antecipada. Ela própria o tinha expressado assim na primeira Pequena
Regra de 1923: Uma obra toda ela formada no espírito apostólico e no
espírito eucarístico, que tenha a missão de conquistar para o coração de Cristo
as almas dos pobres infiéis, aumentando assim o número dos seus adoradores.
Catarina estabelece o amor à Igreja, descoberta
na sua natureza maternal e missionária, como pedra miliar para o seu instituto.
A obra, portanto, deve ter como sua primeira qualidade um carácter apostólico
geral (Reg. 1923): Todas as missões, sem excluir nenhuma, terão o sufrágio das
nossas orações, sacrifícios e oferendas.
Catarina sabia que o ideal que a animava só
seria exequível através do sofrimento: nunca rejeitou a Cruz, mesmo quando, nos
últimos anos de vida, esta a veio visitar sob a forma de uma dolorosa doença e
de uma série de incompreensões. Ainda encontrava força e coragem junto do
sacrário rezando longamente, inclusive durante a noite, pedindo graças para o
Instituto e para que o Reino de Deus se estendesse por toda a terra.
Após uma vida completamente dedicada ao ideal
eucarístico-missionário, a sua morte, ocorrida a 17 de outubro de 1948,
realizou para ela aquilo que tinha escrito havia tantos anos na Pequena Regra
do Instituto: No termo da nossa vida mortal, a última nota de amor que
brotará do nosso pobre coração será a do Cristo moribundo, Consummatum est:
tudo está consumado.
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