domingo, 6 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 06 de outubro - Carlos de Forbin-Janson


Fundador da Santa Infância, Carlos de Forbin-Janson nasceu em Paris no ano de 1785, no seio de uma nobre família militar. Apenas quatro anos mais tarde, a Revolução Francesa obrigou os seus pais a exilar-se na Alemanha, o que o fez experimentar, desde criança e na sua própria pele, a vida de refugiado, a perseguição, a insegurança, o medo e a pobreza.

É esse um dos inúmeros “detalhes” significativos que, desde o início, vão traçar a sua biografia em torno de dois polos: a impotência da infância e a missão como paradigma de apostolado.
Após o regresso à pátria e depois da Primeira Comunhão, o adolescente Forbin-Janson revelou a sua caridosa sensibilidade, inscrevendo-se numa associação que ajudava os mais desfavorecidos nas prisões e nos hospitais. Na capela do Seminário das Missões Estrangeiras, em Paris, onde tinham lugar os encontros, teve a oportunidade de ouvir notícias da missão na China. Discretamente, a dimensão missionária foi-lhe assim apresentada de modo explícito.
Carlos tinha à sua frente uma carreira promissora quando Napoleão o nomeou supervisor do Conselho de Estado. Todavia, apercebendo-se do chamado de Deus, não se deixou seduzir por tal perspectiva e, em 1808, ingressou no Seminário de Saint Sulpice, em Paris.

Ordenado sacerdote em 1811, e depois de outros destinos iniciais, acabaria por regressar a Paris, onde se ocupou, com alegria, da formação cristã das crianças da sua paróquia. A apaixonada obra de apostolado que então desenvolveu manifestou-se de modo especial através da sua dedicação às “missões populares”, para reavivar a fé na descristianizada França pós-revolucionária. Assim se destacaram os seus dotes de eloquência, bem como o seu amor e a sua generosidade, que o levavam até a renunciar ao seu próprio vestuário para dá-lo aos mais necessitados.

Em 1824, De Forbin-Janson foi consagrado bispo de Nancy-Toul, no nordeste de França. Nessa época, manteve um contato muito próximo com os missionários que lhe escreviam, pedindo-lhe ajuda. Não só tinha conhecimento da situação das missões na China, mas ele próprio tinha acalentado, desde muito cedo, a ideia de ser missionário. Com efeito, quando a nova revolução de 1830 o forçou a deixar a sua diocese, foi ter com o Papa pedindo-lhe que o enviasse para o Extremo Oriente. Embora Pio VIII tenha acedido ao seu pedido, o seu desejo nunca se pôde concretizar. Dom Carlos de Forbin-Janson continuou a desenvolver uma grande atividade no campo da caridade e da assistência, até um novo acontecimento providencial lhe ter permitido seguir livremente a sua inclinação para a evangelização ad gentes: tendo sido convidado pelos bispos missionários, partiu para a América do Norte, onde permaneceu de 1839 a 1841.

Ao regressar a França, continuaram a impressioná-lo as notícias sobre muitas crianças – sobretudo meninas – da China que, sendo abandonadas ou friamente mortas, morriam sem sequer poderem receber o Batismo. Os angustiosos pedidos de ajuda eram enviados pelos sacerdotes daquela Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris na qual ele próprio tinha pensado ingressar. Ia sendo forjada a ideia de salvar a inocência das crianças das terras de missão através da inocência das crianças cristãs.

Os dois polos da sua vida entraram definitivamente em contacto: infância e missão. Com tais preocupações, no verão de 1842, Dom Carlos de Forbin-Janson foi a Lyon para falar com Paulina Jaricot, a jovem leiga que, vinte anos antes, tinha lançado as bases da Pontifícia Obra da Propagação da Fé. A partir desse diálogo decisivo, começou a entrever a modalidade a seguir na organização da ajuda às crianças da China, que acabaria por se concretizar num “duplo gesto” das crianças da sua diocese: a recitação diária da Ave-Maria, acrescida de uma breve oração pelas crianças da missão, e a oferenda de uma moedinha por mês.

O bispo consagrou-se a este projeto destinado a mobilizar as crianças cristãs em favor dos seus irmãos das terras de missão, uma obra que, dando pelo nome de Santa Infância – em referência à infância de Jesus –, foi fundada a 19 de maio de 1843. Era a resposta à sua inquietação que durara quase quarenta anos!

Para difundir a sua iniciativa, viajou até à sua pátria e chegou à Bélgica, onde recebeu o apoio dos reis e do núncio, Dom Gioacchino Pecci, futuro Papa Leão XIII. A Santa Infância seria imediatamente muito bem acolhida em França, granjeando adeptos em todo o mundo, embora também tenha tido de superar algumas resistências.
Ao contrário do que temiam os mais desconfiados, a nova Obra não se debilitou, pelo contrário, reforçou a obra da Propagação da Fé e, além disso, antecipou a Obra de São Pedro Apóstolo – fundada em 1889 –, cobrindo aspetos vocacionais que, mais tarde, viriam a ser assumidos por esta última.

Na contemplação da infância do Senhor, De Forbin-Janson descobriu uma forma excecional de aceder ao Mistério da Encarnação, de se fazer um com Cristo e de partilhar o seu amor salvífico. Nos episódios do Evangelho em que Jesus se refere às crianças, encontrou uma nova linguagem cheia de ensinamentos e exemplos da qual transparece a sua vontade formal de restituir à infância os seus direitos desprezados e de aumentar os seus privilégios.
Para explicar o significado da Obra e organizar o seu funcionamento, quatro meses antes da sua morte anunciou a criação – que teria lugar mais tarde, em 1846 –, dos Anais da Santa Infância, uma espécie de correspondência entre as crianças das Igrejas mais consolidadas e as crianças das missões.

Exausto, Dom Carlos de Forbin-Janson morreu perto de Marselha, em julho de 1844, quando a Santa Infância ainda não contava um ano e meio de vida. Não pôde realizar o seu sonho de partir para a China depois de iniciada a Obra, nem chegou a assistir às expedições das religiosas que, a partir de 1847, e em linha com outra das suas intuições, se ocupariam maternalmente das necessidades das crianças desfavorecidas, na missão.
A sua iniciativa foi imediatamente apoiada pelos Sumos Pontífices, apoio esse que dura há cento e setenta e cinco anos e que ainda hoje pode ser resumido com as palavras de encorajamento que Gregório XVI dirigiu ao bispo, no princípio: Continue a fundar a Obra. Na verdade, é uma Obra de Deus. Tem a nossa bênção.
Em 1922, por concessão de Pio XI, a Obra recebeu a qualificação de Pontifícia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário