sábado, 12 de outubro de 2019

Mês Missionário Extraordinário: 12 de outubro - Beato Cyprian Michael Iwene Tansi


O Beato Cyprian Michael Iwene Tansi, primeiro beato da Nigéria, nasceu em 1903, em Igboezunu, à beira da floresta, nas proximidades da antiquíssima cidade de Aguleri, na diocese de Onitsha, na zona meridional da Nigéria.
Poucos anos antes do seu nascimento, em 1890, os missionários católicos alsacianos tinham levado até lá o primeiro anúncio da fé, e rapidamente lhes tinham sucedido os missionários irlandeses da Congregação do Espírito Santo.
Os seus pais, camponeses, eram pagãos praticantes da “religião tradicional” do povo Igbo. Em 1909, contando apenas seis anos, o pequeno Iwene foi mandado pelos pais para a capital de Aguleri. Aí, na aldeia cristã denominada Nduka, viveu em casa de uma tia materna, cujo filho, Robert Orekie, cristão, era professor na escola da missão. Aos nove anos de idade, foi batizado, tendo-lhe sido dado o nome de Michael.

Os jovens da sua idade descrevem-no como um rapaz estudioso e muito exigente consigo mesmo, com um forte ascendente sobre os companheiros, que ficavam fascinados com a sua decidida e precoce personalidade, quer a nível humano quer religioso, e com a sua piedade profunda.
Em 1913, mudou-se para Onitsha, onde se inscreveu na Escola Primária Holy Trinity e, em 1919, obteve o diploma que o habilitava para o ensino. Em 1924, assumiu o cargo de diretor na St. Joseph School. Sentiu o chamado de Deus para a vida sacerdotal e, em 1925, aos vinte e dois anos, vencendo resolutamente a oposição dos seus familiares, entrou no Seminário de St. Paul, de fundação recente, em Igbariam, primeira vocação indígena da zona.

Em 1932, era tal a confiança que tinha inspirado aos seus superiores que lhe foi confiado o cargo de ecônomo do Training College. A 19 de dezembro de 1937, foi ordenado sacerdote na catedral de Onitsha. Os subsequentes doze anos de sacerdócio revelaram os seus dotes excepcionais, confirmados por muitas pessoas, testemunhas do seu zelo e do seu total abandono a Deus.
O primeiro cargo de Michael foi na paróquia de Nnewi. As suas principais linhas pastorais: “Ascetismo pessoal; grande capacidade de empenho e resistência física; bondade para com os doentes e os pobres; preocupação pela santidade do matrimónio e a formação espiritual das mulheres; carisma pessoal.”

Em 1940, conseguiu deitar por terra, corajosamente, um mito supersticioso sobre a terra dada aos missionários, definida como floresta maldita. Pensava-se que quem se atrevesse a entrar nela seria morto ou contrairia alguma doença terrível. A primeira coisa que o padre Michael fez foi percorrê-la, aspergindo-a com água benta; ao vê-lo sair incólume, as pessoas encheram-se de coragem e abateram as árvores da floresta.
O passo seguinte foi construir uma igreja e uma escola, um presbitério e casas de acolhimento; eram edifícios muito pobres, mas ele próprio participou nas obras, revelando-se, concretamente, um trabalhador incansável. Ao ver um sacerdote trabalhar tão intensamente, muitos o ajudaram, e o seu exemplo suscitaria empreendimentos de construção semelhantes em toda a região.

No que diz respeito às mulheres, tomava a peito a sua dignidade e a defesa da virgindade; com esse objetivo, tinha organizado nas suas paróquias casas onde acolhia as jovens a fim de prepará-las para o matrimônio e para evitar que fossem viver com o futuro marido antes do casamento.
A Legião de Maria, por ele instituída, ajudava-o em cada aldeia da paróquia, informando-o dos doentes que queriam ser batizados, promovendo a moralidade dos habitantes e preparando os catecúmenos. Empenhou-se na construção de escolas e na qualificação dos professores.

Construiu também casas para acolher os estudantes das classes mais avançadas, uma para rapazes e outra para moças. Acompanhava muitos órfãos e certificava-se de que todos recebiam uma educação escolar adequada.

Em relação às vocações sacerdotais, parecia ter um dom especial para incentivá-las, a tal ponto que pelo menos setenta sacerdotes saíram das paróquias onde trabalhou o padre Michael.
Era um bom pregador. As pessoas sentiam-se tocadas por tudo o que dizia e recordavam o seu ensino. Era duro sobretudo contra alguns usos e superstições dos pagãos e, mesmo quando não os conseguia erradicar completamente, conseguia reduzir os seus efeitos sobre os seus paroquianos.
Nas atividades pastorais, apercebeu-se da beleza da vida contemplativa. Por ocasião de um dia de retiro com o clero, o arcebispo Heerey manifestou o desejo de que alguns dos seus sacerdotes abraçassem a experiência monástica, para poderem levar em seguida para a sua diocese a semente da vida contemplativa. O padre Tansi, sem hesitar, declarou-se disposto a aceitar a proposta do seu bispo, juntou-se o seu coadjutor, o padre Clement Ulogu. Em julho de 1949, entraram em contato com a abadia cisterciense de Mount Saint Bernard, em Leicester, Inglaterra, que aceitou acolher os dois sacerdotes.

O padre Michael chegou a Mount Saint Bernard a 3 de julho de 1950, acompanhado pelo arcebispo Charles Heerey. Sob a ação do Espírito, aquele que tinha sido um autêntico pioneiro e “gestor” na recentíssima igreja missionária da diocese de Onitsha, adaptou-se, como monge dócil e humilde, ao seu novo estilo de vida. Abraçou o austero e silencioso dia a dia da vida trapista, onde ninguém a não ser o mestre dos noviços, padre Gregory Wareing, fazia ideia do magnífico trabalho que ele tinha desenvolvido como sacerdote.

Uma das recordações partilhadas por quantos o conheceram em Mount Saint Bernard é a imagem dele em oração na capela de Nossa Senhora, com a cabeça inclinada para o lado, como se estivesse à escuta daquilo que o seu Senhor lhe dizia. A ideia original que levara os dois nigerianos a ingressar na comunidade fora a de receberem formação para a vida monástica, com o objetivo de implantá-la na Nigéria, mas rapidamente se tornou evidente a dificuldade de criar uma fundação apenas com duas pessoas. Acabaram por pedir, na sua liberdade, para serem admitidos à profissão monástica em Mount Saint Bernard, ficando à espera até que a comunidade estivesse em condições de formar um grupo.

Em 1963 foi decidido constituir uma fundação em África, mas nos Camarões e não na Nigéria: tal decisão desagradou ao padre Michael, mas este aceitou-a como vontade de Deus. Quando foi nomeado o grupo para a fundação nos Camarões, o padre Michael foi escolhido como mestre dos noviços: parecia a pessoa mais indicada para formar as vocações africanas que iriam surgindo. Os primeiros quatro fundadores partiram de Mount Saint Bernard a 28 de outubro de 1963, a fim de preparar os edifícios para a chegada do grupo, prevista para a primavera do ano seguinte.
Contudo, o projeto de Deus para o padre Michael era outro, e manifestou-se passado muito pouco tempo. Em janeiro de 1964 foi tomado por dores lancinantes numa perna, que ficou terrivelmente inchada. O médico diagnosticou uma trombose, propondo a sua internação no hospital. Internado de urgência na Royal Infirmary de Leicester, foi-lhe diagnosticado um aneurisma na aorta. Durante a noite piorou e, na manhã do dia 20 de janeiro de 1964, na pobreza e no desapego total, o padre Cyprian Michael Iwene Tansi transpôs, em silêncio, a meta final do seu longo caminho de fé e de amor.

Quando, a 22 de janeiro de 1986, vinte e dois anos após a sua morte, com grande solenidade e afluência de fiéis vindos de todas as partes da Nigéria, foi aberto, na catedral de Onitsha, o processo de canonização do padre Cyprian Michael Iwene Tansi, a Igreja nigeriana já tinha visto florescer algumas comunidades monásticas de vida contemplativa. Os restos mortais do padre Michael foram exumados em 1988 e restituídos a Onitsha.
Durante as exéquias deu-se a cura prodigiosa de uma moça de dezessete anos, Philomina Emeka, afetada por um tumor inoperável, a quem o bispo tinha permitido aproximar-se para tocar no féretro do padre Michael Tansi. Este milagre conduziu à beatificação, celebrada pelo Santo Padre João Paulo II a 22 de março de 1998, que durante sua homilia afirmou:

A vida e o testemunho do Padre Tansi são fonte de inspiração para todos na Nigéria, País que ele tanto amou. Ele era antes de tudo um homem de Deus: as longas horas passadas diante do Santíssimo Sacramento cumularam o seu coração de amor generoso e corajoso. Os que o conheceram dão testemunho do seu grande amor a Deus. Todos os que se encontraram com ele se sentiram tocados pela sua bondade pessoal.
Ele foi também um homem do povo: colocou sempre os outros antes de si mesmo, e esteve especialmente atento às necessidades pastorais das famílias. Assumiu o grande encargo de preparar bem os casais para o sagrado matrimônio e anunciou a importância da castidade. Procurou de todos os modos promover a dignidade das mulheres. De modo especial, considerava preciosa a educação das jovens. Também quando foi enviado pelo Bispo Heerey à Abadia Cisterciense do Monte São Bernardo, na Inglaterra, para seguir a própria vocação monástica, com a esperança de poder trazer para a África a vida contemplativa, ele jamais se esqueceu do seu povo e não deixou de oferecer orações e sacrifícios pela sua contínua santificação.

O Padre Tansi sabia que existe algo do filho pródigo em cada ser humano. Sabia que todos os homens e todas as mulheres são tentados a separar-se de Deus, para procurarem a própria independência e existência egoísta. Sabia que depois eles ficariam desiludidos pelo vazio da ilusão que os havia fascinado e que, no fim, eventualmente achariam nas profundezas do próprio coração o caminho do retorno à casa do Pai. Encorajou as pessoas a confessarem os próprios pecados e a receberem o perdão de Deus no Sacramento da Reconciliação. Pediu-lhes que perdoassem uns aos outros como Deus nos perdoa e transmitissem o dom da reconciliação, tornando isto uma realidade em todos os níveis da vida nigeriana. O Padre Tansi esforçou-se por imitar o pai da parábola: estava sempre disponível para aqueles que procuravam a reconciliação. Difundia a alegria da comunhão restabelecida com Deus. Exortava as pessoas a acolherem a paz de Cristo, e encorajava-as a alimentar a vida da graça com a Palavra de Deus e com a sagrada Comunhão.

A Igreja celebra sua memória no dia 20 de janeiro.

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