Quero agora deter-me na vocação entendida no
sentido específico de chamado para o serviço missionário aos outros. O Senhor
chama-nos a participar na sua obra criadora, prestando a nossa contribuição
para o bem comum com base nas capacidades que recebemos.
Esta vocação missionária tem a ver com o nosso
serviço aos outros. Com efeito, a nossa
vida na terra atinge a sua plenitude, quando se transforma em oferta. Lembro
que a missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento
que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da
minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir.
Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. Por
conseguinte, devemos pensar que toda a pastoral é vocacional, toda a formação é
vocacional e toda a espiritualidade é vocacional.
A tua vocação não consiste apenas nas
atividades que tenhas de fazer, embora se manifeste nelas. É algo mais! É um
percurso que levará muitos esforços e muitas ações a orientar-se numa direção
de serviço. Por isso, no discernimento de uma vocação, é importante ver se a
pessoa reconhece em si mesma as capacidades necessárias para aquele serviço
específico à sociedade.
Isto confere um valor muito grande a tais
tarefas, pois deixam de ser uma soma de ações que a pessoa realiza para ganhar
dinheiro, para estar ocupada ou para agradar aos outros. Tudo isto faz parte de
uma vocação, mas, porque fomos chamados, há algo mais do que uma mera escolha
pragmática da nossa parte. Em última
análise, é reconhecer o fim para que fui feito, o objetivo da minha passagem
por esta terra, o plano do Senhor para a minha vida. Não me indicará todos
os lugares, tempos e detalhes, que eu posso escolher prudentemente, mas
certamente há uma orientação da minha vida que Ele me deve indicar, porque é o
meu Criador, o meu oleiro, e eu preciso de escutar a sua voz para me deixar
moldar e conduzir por Ele. Então serei o
que devo ser, e serei também fiel à minha realidade pessoal.
Para realizar a própria vocação, é necessário
desenvolver-se, fazer germinar e crescer tudo aquilo que uma pessoa é. Não se
trata de inventar-se, criar-se a si mesmo do nada, mas descobrir-se a si mesmo
à luz de Deus e fazer florescer o próprio ser: Nos desígnios de Deus, cada homem é chamado a desenvolver-se, porque
toda a vida é vocação. A tua vocação
orienta-te para tirares fora o melhor de ti mesmo para a glória de Deus e para
o bem dos outros. Não se trata apenas de fazer coisas, mas fazê-las com um
significado, uma orientação. A propósito, Santo Alberto Hurtado dizia aos
jovens que se deve tomar muito a sério o rumo: Num barco, o piloto negligente é despedido sem remissão, porque joga
com algo demasiado sagrado. E nós, na vida, cuidamos do nosso rumo? Qual é o
teu rumo? Haveria necessidade de nos determos ainda mais sobre esta
questão; peço a cada um de vós que lhe dê a máxima importância, porque acertar
nisto equivale simplesmente a ter êxito; e não o conseguir é simplesmente
falhar.
Normalmente, este ser para os outros na vida de cada jovem está relacionado com duas
questões fundamentais: a formação de uma
nova família e o trabalho. As várias sondagens que foram feitas aos jovens
confirmam repetidamente que estes são os dois temas principais que os preocupam
e entusiasmam. Ambos devem ser objeto dum discernimento especial.
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