A parábola da ovelha
perdida, que o pastor procura no deserto, era para os Padres da Igreja uma
imagem do mistério de Cristo e da Igreja. A humanidade todos nós é a ovelha
perdida que, no deserto, já não encontra o caminho. O Filho de Deus não tolera
isto; Ele não pode abandonar a humanidade numa condição tão miserável.
Levanta-se de ímpeto,
abandona a glória do céu, para reencontrar a ovelha e segui-la, até à cruz.
Carrega-a sobre os ombros, leva a nossa humanidade, leva-nos a nós mesmos Ele é
o bom pastor, que oferece a sua vida pelas ovelhas.
A santa preocupação
de Cristo deve animar o pastor: para ele não é indiferente que tantas pessoas
vivam no deserto. E existem tantas formas de deserto. Há o deserto da pobreza,
o deserto da fome e da sede, o deserto do abandono, da solidão, do amor
destruído. Há o deserto da escuridão de Deus, do esvaziamento das almas que
perderam a consciência da dignidade e do caminho do homem. Os desertos
exteriores multiplicam-se no mundo, porque os desertos interiores tornaram-se
tão amplos. Por isso, os tesouros da terra já não estão ao serviço da
edificação do jardim de Deus, no qual todos podem viver, mas tornaram-se
escravos dos poderes da exploração e da destruição.
A Igreja no seu
conjunto, e os Pastores nela, como Cristo, devem pôr-se a caminho, para conduzir
os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de
Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude. O símbolo do cordeiro tem
ainda outro aspecto. No Antigo Oriente era costume que os reis se designassem
como pastores do seu povo. Esta era uma imagem do seu poder, uma imagem cínica:
os povos eram para eles como ovelhas, das quais o pastor podia dispor como lhe
aprazia. Enquanto o pastor de todos os homens, o Deus vivo, se tornou ele mesmo
cordeiro, pôs-se do lado dos cordeiros, daqueles que são esmagados e mortos.
Precisamente assim
Ele se revela como o verdadeiro pastor: "Eu sou o bom pastor... Ofereço a
minha vida pelas minhas ovelhas", diz Jesus de si mesmo. Não é o poder que
redime, mas o amor! Este é o sinal de Deus: Ele mesmo é amor. Quantas vezes nós
desejaríamos que Deus se mostrasse mais forte. Que atingisse duramente,
vencesse o mal e criasse um mundo melhor. Todas as ideologias do poder se
justificam assim, justificando a destruição daquilo que se opõe ao progresso e
à libertação da humanidade. Nós sofremos pela paciência de Deus. E de igual
modo todos temos necessidade da sua plenitude. O Deus, que se tornou cordeiro,
diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucificado e não por quem crucifica. O mundo
é redimido pela plenitude de Deus e destruído pela impaciência dos homens.
Papa Bento XVI - 24 de abril de 2005
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