Nºs 192 a 197
Na profecia de Joel,
encontramos um anúncio que nos permite entender isto duma maneira admirável.
Diz assim: Depois disto, derramarei o
meu espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões.
Se os jovens e os idosos se abrirem ao Espírito Santo, juntos produzem uma
combinação maravilhosa: os idosos sonham e os jovens têm visões. Como se
completam reciprocamente as duas coisas?
Os idosos têm sonhos permeados de recordações, de imagens
de tantas coisas vividas, com a marca da experiência e dos anos. Se os jovens
se enraizarem nos sonhos dos idosos, conseguem ver o futuro, podem ter visões
que lhes abrem o horizonte e mostram novos caminhos. Mas, se os idosos deixarem
de sonhar, os jovens já não podem ver claramente o horizonte.
Sabe bem encontrar,
no meio daquilo que guardaram os nossos pais, alguma lembrança que nos permite
imaginar o que sonharam para nós os nossos avôs e as nossas avós. Todo o ser humano, ainda antes de nascer,
recebeu como prenda dos seus avós a bênção dum sonho cheio de amor e esperança:
o sonho duma vida melhor. E, se não o recebeu de nenhum dos seus avós,
houve seguramente algum bisavô que o sonhou e ficou feliz por ele, ao
contemplar no berço os seus filhos e, depois, os netos. O sonho primordial, o
sonho criador de Deus nosso Pai, precede e acompanha a vida de todos os seus
filhos. Guardar na memória esta bênção, que se estende de geração em geração, é
uma herança preciosa que devemos saber conservar viva para também nós a
podermos transmitir.
Por isso, é bom
deixar que os idosos contem longas histórias, que às vezes parecem mitológicas,
fantasiosas – são sonhos de anciãos –, mas frequentemente estão cheias duma
rica experiência, de símbolos eloquentes, de mensagens escondidas. Tais
narrações requerem tempo e que nos disponhamos gratuitamente a ouvir e
interpretar com paciência, porque não cabem numa mensagem das redes sociais.
Devemos aceitar que toda a sabedoria de que necessitamos na vida não pode estar
confinada nos limites impostos pelos atuais recursos de comunicação.
No livro A
Sabedoria do Tempo, deixei expressos alguns desejos sob a forma de pedidos. Que peço aos idosos, entre os quais me
incluo a mim próprio? Peço que sejamos guardiões da memória. Nós, os avôs e as
avós, precisamos de formar um coro. Imagino os idosos como o coro permanente
dum importante santuário espiritual, no qual as orações de súplica e os
cânticos de louvor sustentam a comunidade inteira que trabalha e luta no campo
da vida.
É belo que os jovens e as donzelas, os velhos e as
crianças louvem todos o nome do Senhor.
Nós, os idosos, que podemos dar aos jovens?
Aos jovens de hoje, que sentem dentro si próprios uma mistura de ambições
heroicas e inseguranças, podemos lembrar-lhes que uma vida sem amor é uma vida
estéril.
Que podemos dizer-lhes? Aos jovens
temerosos, podemos dizer que a ânsia face ao futuro pode ser superada.
Que podemos ensinar-lhes? Aos jovens
excessivamente preocupados consigo mesmos, podemos ensinar que se experimenta
maior alegria em dar do que em receber, e que o amor não se demonstra apenas
com palavras, mas também com obras.
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