domingo, 16 de junho de 2019

Christus vivit: A Pastoral dos jovens – A pastoral das instituições educacionais – nºs 221a 223


Nºs 221 a 223

A escola é, sem dúvida, uma plataforma para nos aproximarmos das crianças e dos jovens. Trata-se de um lugar privilegiado de promoção da pessoa e, por isso, a comunidade cristã sempre lhe dedicou grande atenção, quer formando professores e diretores, quer instituindo escolas próprias, de todo o género e grau.
Neste campo, o Espírito tem suscitado inúmeros carismas e testemunhos de santidade. Contudo a escola precisa duma urgente autocrítica; basta olhar os resultados da pastoral de muitas instituições educacionais: uma pastoral concentrada na instrução religiosa que, frequentemente, se mostra incapaz de suscitar experiências de fé duradouras.
Além disso, existem algumas escolas católicas que parecem organizadas apenas para conservar a situação presente. A fobia da mudança torna-as incapazes de suportar a incerteza, impelindo-as a retrair-se perante os perigos, reais ou imaginários, que toda a mudança acarreta consigo. A escola transformada num bunker, que protege dos erros de fora: tal é a caricatura desta tendência. Esta imagem reflete de maneira chocante aquilo que experimentam inúmeros jovens na hora da sua saída de alguns estabelecimentos de ensino: um desfasamento insanável entre o que lhes ensinaram e o mundo onde lhes cabe viver. As próprias propostas religiosas e morais recebidas não os prepararam para confrontá-las com um mundo que as ridiculariza, e não aprenderam formas de rezar e viver a fé que se possam facilmente sustentar no meio do ritmo desta sociedade.
Na realidade, uma das maiores alegrias dum educador é ver um aluno constituir-se como uma pessoa forte, integrada, protagonista e capaz de se doar.

A escola católica continua a ser essencial como espaço de evangelização dos jovens. É importante ter presente alguns critérios inspiradores, indicados na Constituição Apostólica Veritatis gaudium em ordem a uma renovação e relançamento das escolas e universidades em saída missionária, tais como a experiência do querigma, o diálogo a todos os níveis, a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade, a promoção da cultura do encontro, a necessidade urgente de «riar rede e a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e abandona; e também a capacidade de integrar os saberes da cabeça, do coração e das mãos.

Além disso, não podemos separar a formação espiritual da formação cultural. A Igreja sempre quis desenvolver, em prol dos jovens, espaços para a melhor cultura; e não deve desistir de o fazer, porque os jovens têm direito a ela. E, sobretudo hoje, direito à cultura significa tutelar a sabedoria, ou seja, um saber humano e humanizador. Demasiadas vezes vivemos condicionados por modelos de vida banais e efêmeros, que estimulam a perseguir o sucesso a baixo preço, desacreditando o sacrifício, inculcando a ideia de que o estudo não serve, se não leva imediatamente a algo de concreto.
Mas não! O estudo serve para se questionar, para não se deixar anestesiar pela banalidade, para procurar um sentido na vida. Deve ser reclamado o direito a não fazer prevalecer as muitas sereias que hoje afastam desta busca. Ulisses, para não ceder ao canto das sereias, que encantavam os marinheiros e os faziam espatifar-se contra os rochedos, amarrou-se ao mastro da nau e fechou os ouvidos dos companheiros de viagem. Ao contrário, Orfeu, para contrastar o canto das sereias, fez algo diferente: entoou uma melodia mais bonita, que encantou as sereias. Eis a vossa tarefa: responder aos estribilhos paralisantes do consumismo cultural com escolhas dinâmicas e fortes, com a investigação, o conhecimento e a partilha.

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