Nºs 248 a
252
A palavra “vocação”
pode-se entender em sentido amplo como chamado de Deus. Inclui o chamado à
vida, o chamado à amizade com Ele, o chamado à santidade... Isto tem um grande
valor, porque coloca toda a nossa vida diante de Deus que nos ama,
permitindo-nos compreender que nada é fruto dum caos sem sentido, mas, pelo
contrário, tudo pode ser inserido num caminho de resposta ao Senhor, que tem um
projeto estupendo para nós.
Na Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, quis deter-me sobre a
vocação que todos temos de crescer para a glória de Deus, propondo-me fazer
ressoar mais uma vez o chamado à santidade, procurando encarná-lo no contexto
atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades. O Concílio Vaticano II ajudou-nos
a renovar a consciência desta chamada dirigida a cada um: Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja
qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai,
cada um por seu caminho.
O ponto
fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem é,
antes de tudo, a sua amizade. Este é o discernimento fundamental. No diálogo
do Senhor ressuscitado com o seu amigo Simão Pedro, a pergunta importante era: “Simão, filho de João, tu amas-Me?”.
Por outras palavras: Amas-Me como amigo?
A missão que Pedro recebe de cuidar das ovelhas e cordeiros de Jesus estará
sempre ligada com este amor gratuito, este amor de amigo.
E, se fosse necessário um exemplo de sentido
contrário, recordemos o encontro-desencontro do Senhor com o jovem rico, que
nos mostra claramente como aquilo que aquele jovem não percebeu foi o olhar
amoroso do Senhor. Depois de ter seguido uma boa inspiração, foi-se embora
triste, porque não conseguiu separar-se das muitas coisas que possuía. Perdeu a
ocasião daquela que poderia certamente ter sido uma grande amizade. E ficamos sem saber o que poderia ter sido
para nós, o que poderia ter feito pela humanidade, aquele jovem único a quem
Jesus olhou com amor e estendeu a mão.
Com efeito, a vida que Jesus nos dá é uma
história de amor, uma história de vida que quer misturar-se com a
nossa e criar raízes na terra de cada um. Essa vida não é uma salvação suspensa
“na nuvem” – no disco virtual – à espera de ser descarregada, nem uma nova
“aplicação” para descobrir ou um exercício mental fruto de técnicas de
crescimento pessoal. Nem a vida que Deus nos oferece é um “tutorial” com o qual
apreender as últimas novidades. A
salvação, que Deus nos dá, é um convite para fazer parte de uma história
de amor, que está entrelaçada com as nossas histórias; que vive e quer nascer
entre nós, para podermos dar fruto onde, como e com quem estivermos.
Precisamente aí vem o Senhor plantar e plantar-Se a Si mesmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário