quarta-feira, 12 de junho de 2019

12 de junho - São Gaspar Luiz Bertoni


São Gaspar Bertoni foi uma graça especial, uma "bênção do Senhor", ele pertence aquele grupo de santos, de abençoados, de servos de Deus, que se desenvolveram prodigiosamente na região de Veneto no início do século passado, em meio a gravíssimas vicissitudes de guerra, devastação e pobreza. Consciente, como outras almas escolhidas daquela época, que uma nova página da história estava sendo escrita e uma nova cultura estava em formação, ele fez o seu melhor para uma renovada evangelização entre o povo.

Ele estava convencido de que a pregação era chamada para enfrentar contextos históricos e demandas sempre diferentes, em situações de conflito, apresentando sempre novas reflexões. 
São Gaspar, dotado com dons especiais de sabedoria e discernimento, empenhou sua força, apesar de sua frágil saúde, em pregação intensa. Em nome do seu Bispo, trabalhou pela formação e orientação espiritual dos seminaristas, religiosos e religiosas.

Além disso, ciente de que o futuro da Igreja residia na formação dos jovens, que estavam mais expostos às influências do espírito da época e mais afetados pela pobreza e pelo empobrecimento social, São Gaspar entendia que eles tinham que estar preparados, por um lado, para enfrentar as novas batalhas pela fé e, por outro lado, com capacidade técnica para  entrar nas novas profissões que surgiam. Para isso, ele os orientava para a educação, primeiro dando vida aos oratórios de jovens, colocados sob a proteção da Virgem, envolvendo então outros amigos sacerdotes no mesmo trabalho, que assim se encontravam formando a nova congregação de Estigmatinos.

É significativo notar que São Gaspar Bertoni delineou um projeto de vida cristã, no qual todos foram chamados, qualquer que seja o estado de vida, à santidade de vida: não somente para os padres, mas para os cônjuges, seguindo o exemplo dos santos esposos de Nazaré, para os jovens, para os trabalhadores e para todas as outras categorias de pessoas. 
Os seus amigos, os "Missionários Apostólicos", em comunhão de vida pastoral com os Bispos, tiveram de pregar isto: a vocação universal à santidade, com a consciência de que do sacrifício de Cristo, do seu Coração misericordioso, das suas feridas, flui toda a esperança.

Assim, São Gaspar soube levar tantas almas a fazer parte dessa "imensa multidão", que hoje contemplamos com um coração exultante e agradecido.

Papa João Paulo II – Homilia de Canonização – 01 de novembro de 1989


Após a morte de sua irmãzinha, Gaspar, como filho único, recebeu ótima educação no lar e nas escolas municipais que frequentou; naquele tempo, estas eram dirigidas por jesuítas. Pe. Luís Fortis, que seria mais tarde superior geral da Companhia de Jesus, teve grande influência em sua vida.
A primeira comunhão, aos onze anos, foi para Bertoni uma experiência inesquecível. Ele decidiu ingressar no seminário com dezoito anos, frequentando o curso de teologia como aluno externo; o professor de Moral, Pe. Nicolau Galvani, foi seu diretor espiritual.
Quando cursava o primeiro ano de teologia, o exército francês invadiu a cidade de Verona, ocasionando muitas desgraças e sofrimentos na vida do povo durante vinte anos.

Ainda seminarista, movido por um grande espírito de caridade, cuidou de pessoas feridas e doentes, ajudando em uma obra fundada por Pedro Leonardi.
Foi ordenado sacerdote no dia 20 de setembro de 1800. Após a ordenação teve que enfrentar uma sociedade em convulsão e exigindo iniciativas que trouxessem soluções para os graves problemas do momento.

Encarregado de cuidar da juventude da paróquia, para a qual fora destinado, entregou-se inteiramente a este apostolado, desenvolvendo nele toda sua capacidade de organização. Fundou um primeiro Oratório nos moldes de "Coorte Mariana ", visando a formação humana e cristã dos jovens. Em 1807 o governo proibiu as atividades das associações religiosas. Então, Pe. Gaspar adiou a realização de seus projetos para tempos melhores.

Neste período, entretanto, assumiu a direção espiritual da obra de Santa Madalena de Canossa (maio de 1808), na casa de São José. Neste mesmo local começou a orientar também a Serva de Deus Leopoldina Naudet em seu crescimento espiritual e na caminhada em vista de um instituto religioso, que recebeu depois o nome de Irmãs da Sagrada Família. Auxiliou, igualmente, outra Serva de Deus, Teodora Campostrini, orientando-a em sua vocação e apoiando-a na fundação de outro instituto feminino.

Em setembro de 1810, Pe. Gaspar ficou encarregado da direção espiritual dos clérigos que moravam no seminário. Algum tempo antes, ele já havia reunido em sua casa alguns jovens sacerdotes, proporcionando-lhes uma formação espiritual e científica verdadeiramente sólida.

Nesta atividade, agora junto aos seminaristas, ele elaborou um programa de formação que tinha como base a fidelidade plena ao Papa; naquela época o Papa Pio VII fora feito prisioneiro por Napoleão. Na concepção de Pe. Gaspar a reforma da Igreja devia começar dentro dos seminários, fazendo com que os futuros ministros do Senhor se conscientizassem dos valores evangélicos. De fato, o seminário, que anteriormente passara por séria crise econômica e grave decadência moral, voltou a desempenhar seu verdadeiro papel na formação sacerdotal, chegando a ser comparado a um mosteiro.

Aproveitando-se da mudança de governo, Pe. Gaspar tentou reavivar a fé cristã no povo através da pregação de missões populares, atividade que encontrou oposição da parte do governo austríaco. Contudo, ele continuou o apostolado da palavra, dedicando-se à catequese. A 20 de dezembro de 1817 o Papa Pio VII conferiu-lhe o título e as faculdades de "Missionário Apostólico".

Embora fazendo-se todo para todos, a fim de ganhar todos para Cristo, Pe. Gaspar destinou muito tempo à vida de oração e de contemplação, como se pode deduzir do que está escrito em seu "Memorial Privado". Neste diário espiritual também se pode ler como Deus, por meio de uma inspiração especial, o levou a fundar uma família religiosa.

A 4 de novembro de 1816 foi morar em uma casa, anexa à igreja dos Estigmas de São Francisco; daí que, o povo acostumou a chamar os religiosos que aí residiam de "Estigmatinos". Foi nesta igreja que ele propagou a devoção à Paixão e às Chagas do Senhor. Transformou a casa em uma escola aberta aos filhos de gente simples, trabalhando gratuitamente para a Igreja e para a sociedade. Juntamente com os companheiros de comunidade levou uma vida de penitência e sacrifício, vivenciando um projeto de vida espiritual fundamentado na contemplação e na ação apostólica. Esta abarcava a educação da juventude, a formação do clero e a pregação missionária numa ampla disponibilidade a serviço dos bispos.

Em maio de 1812 esteve à beira da morte devido a uma doença grave. Sarou quase por milagre, mas a debilidade física provocada por esta enfermidade não o deixou mais até o fim da vida. Embora vivesse continuamente enfermo, deu exemplo de paciência heroica, entregando-se completamente nas mãos de Deus.

Acamado e sofrendo terrivelmente, ainda assim foi conselheiro espiritual de muitas pessoas que o procuravam, entre as quais se destacam o Beato Carlos Steeb, os Servos de Deus Pe. Nicolau Mazza e Pe. Antonio Prôvolo; estes três dirigiam instituições e obras de caridade. Muitas outras pessoas vinham de longe para pedir seus conselhos.

Sua perna direita passou por quase trezentas operações. Em meio às dores atrozes que o atormentavam, esforçava-se por imitar Cristo sofredor, jamais se queixando. Pelo contrário, oferecia seu lento holocausto pelo bem da Igreja. Nos últimos momentos de sua existência o enfermeiro perguntou-lhe: "Padre, o senhor precisa de alguma coisa?" "Preciso sofrer", respondeu.

Apesar dos sofrimentos e da doença, manteve sempre uma grande esperança cristã, por causa de sua fé em Cristo, Aquele que conserva no corpo ressuscitado os sinais da Paixão. Nutriu também grande devoção aos Santos Esposos, Maria e José, que são os padroeiros da Congregação Estigmatina. Faleceu santamente no dia 12 de junho de 1853.

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