sexta-feira, 14 de junho de 2019

Christus vivit: A Pastoral dos jovens – Ambientes adequados – nºs 216 a 220


Nºs 216 a 220

Em todas as nossas instituições, devemos desenvolver e reforçar muito mais a nossa capacidade de recepção cordial, porque muitos dos jovens que chegam encontram-se numa situação profunda de orfandade.
E não me refiro a certos conflitos familiares, mas a uma experiência que atinge igualmente crianças, jovens e adultos, mães, pais e filhos. Para muitos órfãos e órfãs, nossos contemporâneos – talvez para nós mesmos –, comunidades como a paróquia e a escola deveriam oferecer percursos de amor gratuito e promoção, de afirmação e crescimento.

Hoje, muitos jovens sentem-se filhos do fracasso, porque os sonhos de seus pais e avós acabaram queimados na fogueira da injustiça, da violência social, do salve-se quem puder. Quanto desenraizamento! Se os jovens cresceram num mundo de cinzas, não é fácil para eles sustentar o fogo de grandes ilusões e projetos. Se cresceram num deserto vazio de sentido, como poderão ter vontade de se sacrificar para semear? A experiência de descontinuidade, desenraizamento e queda das certezas basilares, favorecida pela cultura mediática atual, provoca esta sensação de profunda orfandade à qual devemos responder, criando espaços fraternos e atraentes onde haja um sentido para viver.

Criar lar é, em última análise, criar família; é aprender a sentir-se unido aos outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, unidos de modo a sentir a vida um pouco mais humana. Criar lares, “casas de comunhão”, é permitir que a profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes, menos indiferentes e anónimos. É criar laços que se constroem com gestos simples, diários e que todos podemos realizar. Como todos sabemos muito bem, um lar precisa da colaboração de todos. Ninguém pode ficar indiferente ou alheio, porque cada qual é uma pedra necessária na sua construção. Isto implica pedir ao Senhor que nos conceda a graça de aprender a ter paciência, aprender a perdoar-nos; aprender cada dia a recomeçar.
E quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes sete, todas as vezes que for necessário. Criar laços fortes requer a confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão. Deste modo se concretiza o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo; aqui todos nascemos de novo, porque sentimos a eficácia da carícia de Deus que nos permite sonhar o mundo mais humano e, consequentemente, mais divino.

Neste contexto, é preciso oferecer lugares apropriados aos jovens, nas nossas instituições: lugares que eles possam gerir a seu gosto, com a possibilidade de entrar e sair livremente, lugares que os acolham e onde lhes seja possível encontrar-se, espontânea e confiadamente, com outros jovens tanto nos momentos de sofrimento ou de chatice como quando desejam festejar as suas alegrias. Algo do gênero foi realizado por alguns oratórios e outros centros juvenis, que em muitos casos são o ambiente onde os jovens vivem experiências de amizade e enamoramento, onde se encontram e podem compartilhar música, atividades recreativas, desporto e também a reflexão e a oração com pequenos subsídios e várias propostas. Assim abre caminho aquele indispensável anúncio de pessoa a pessoa, que não pode ser substituído por nenhum recurso ou estratégia pastoral.

A amizade e o intercâmbio, frequentemente mesmo em grupos mais ou menos estruturados, possibilitam reforçar competências sociais e relacionais num contexto onde não se sentem avaliados nem julgados. A experiência de grupo constitui também um grande recurso para a partilha da fé e a ajuda mútua no testemunho. Os jovens são capazes de guiar outros jovens, vivendo um verdadeiro apostolado no meio dos seus próprios amigos.

Isso não significa que se isolem e percam todo o contato com as comunidades paroquiais, os movimentos e outras instituições eclesiais. Mas os jovens inserir-se-ão melhor em comunidades abertas, vivas na fé, desejosas de irradiar Jesus Cristo, alegres, livres, fraternas e comprometidas. Tais comunidades podem ser os canais que os levam a sentir que é possível cultivar relações preciosas.

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