Jesus, como sinal da
sua presença, escolheu pão e vinho. Com cada um dos dois sinais doa-se
totalmente, e não só uma parte de si. O Ressuscitado não está dividido. Ele é
uma pessoa que, mediante os sinais, se aproxima de nós e se une a nós.
Durante a procissão e
a adoração nós olhamos para a Hóstia consagrada o tipo mais simples de pão e de
alimento, feito apenas com farinha e água. Assim vemo-lo como o alimento dos
pobres, aos quais em primeiro lugar o Senhor destinou a sua proximidade.
Nele está contida a
fadiga humana, o trabalho quotidiano de quem cultiva a terra, semeia e recolhe
e finalmente prepara o pão. Contudo o pão não é simples e somente o nosso
produto, uma coisa feita por nós; é fruto da terra e, portanto, também dom.
Jesus nos diz: "Em verdade, em verdade vos digo: se o
grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá
muito fruto" (Jo 12, 24). No pão feito de grãos moídos está
encerrado o mistério da Paixão.
A farinha, o grão
moído, pressupõe morrer e ressuscitar do grão. Ao ser moído e cozido ele tem em
si mais uma vez o mesmo mistério da Paixão. Só através do morrer consegue
ressuscitar, dá o fruto e a vida nova. As culturas do Mediterrâneo, nos séculos
antes de Cristo, intuíram profundamente este mistério. Com base na experiência
deste morrer e ressurgir conceberam mitos de divindades que, morrendo e
ressuscitando, davam vida nova.
Quando nós olhamos
para a Hóstia consagrada em adoração, o sinal da criação fala-nos. Então
encontramos a grandeza do seu dom; mas encontramos também a Paixão, a Cruz de
Jesus e a sua ressurreição. Mediante este olhar em adoração, Ele atrai-nos para
si, para dentro do seu mistério, por meio do qual nos quer transformar como
transformou a Hóstia.
A Igreja primitiva
encontrou ainda no pão outro simbolismo: "Assim
como este pão partido estava disperso pelas colinas e ao ser recolhido se
tornou uma só coisa, também a tua Igreja dos confins da terra seja reunida no
teu Reino". O pão feito por muitos grãos encerra também um
acontecimento de união: o tornar-se pão dos grãos moídos é um processo de
unificação. Nós próprios, sendo muitos, devemos tornar-nos um só pão, um só
corpo.
De maneira análoga
nos fala também o sinal do vinho. Mas, enquanto o pão nos remete para ao
cotidiano, para a simplicidade e para a peregrinação, o vinho expressa o
requinte da criação: a festa da alegria que Deus nos quer oferecer no fim dos
tempos e que já antecipa agora sempre de novo levemente mediante este sinal.
Mas o vinho também fala da Paixão: a videira deve ser podada repetidamente para
assim ser purificada; as uvas devem amadurecer sob o sol e sob a chuva e deve
ser esmagada: só através desta paixão amadurece um vinho precioso.
Na festa de Corpus
Christi olhamos sobretudo para o sinal do pão. Ele recorda-nos
também a peregrinação de Israel durante os quarenta anos no deserto. A Hóstia é
o nosso maná com o qual o Senhor nos alimenta é verdadeiramente o pão do céu,
mediante o qual Ele se doa a si mesmo. Na procissão nós seguimos este sinal e
assim seguimos a Ele próprio.
Papa
Bento XVI – 15 de junho de 2006
Hoje celebramos:
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