Já o simples nome de Judas suscita entre os
cristãos uma reação instintiva de reprovação e de condenação. O Verbo
"trair" deriva de uma palavra grega que significa
"entregar". Por vezes o seu sujeito é inclusivamente Deus em pessoa:
foi ele que por amor "entregou" Jesus por todos nós. No seu
misterioso projeto salvífico, Deus assume o gesto imperdoável de Judas como
ocasião da doação total do Filho para a redenção do mundo.
A traição como tal aconteceu em dois momentos:
antes de tudo no planeamento, quando Judas se põe de acordo com os inimigos de
Jesus por trinta moedas de prata, e depois na execução com o beijo dado ao
Mestre no Getsémani. Contudo, os evangelistas insistem sobre a qualidade de
apóstolo, que competia a Judas para todos os efeitos: ele é repetidamente
chamado "um dos Doze".
Trata-se, portanto, de uma figura pertencente
ao grupo dos que Jesus tinha escolhido como companheiros e colaboradores
íntimos. A traição de Judas permanece um
mistério. Jesus tratou-o como um amigo, mas, nos seus convites a segui-lo pelo
caminho das bem-aventuranças, não forçava as vontades nem as preservava das
tentações de satanás, respeitando a liberdade humana.
Recordemo-nos de que também Pedro se queria
opor a ele e ao que o esperava em Jerusalém, mas recebeu uma forte reprovação:
"Tu não aprecias as coisas de Deus, mas só as dos homens"!
Pedro, depois da sua queda, arrependeu-se e
encontrou perdão e graça. Também Judas se arrependeu, mas o seu arrependimento
degenerou em desespero e assim tornou-se autodestruição. Para nós isto é um
convite a ter sempre presente quanto diz São Bento: "Nunca desesperar da
misericórdia divina".
Na realidade Deus "é maior que o nosso
coração", como diz São João. Por conseguinte, tenhamos presente duas
coisas. A primeira: Jesus respeita a nossa liberdade. A segunda: Jesus espera a
nossa disponibilidade para o arrependimento e para a conversão; é rico de
misericórdia e de perdão. Afinal, quando pensamos no papel negativo
desempenhado por Judas devemos inseri-lo na condução superior dos
acontecimentos por parte de Deus. A sua traição levou à morte de Jesus, o qual
transformou este tremendo suplício em espaço de amor salvífico e em entrega de
si ao Pai.
Papa Bento XVI – 18 de
outubro de 2006
Hoje celebramos:
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