sexta-feira, 17 de abril de 2020

17 de abril - Beata Clara Gambacorti


A Beata Clara era filha de Pedro Gambacorti (o Gambacorta), que chegou a ser praticamente o governador da República de Pisa. Ela nasceu em 1362; seu irmão, o Beato Pedro de Pisa, era sete anos mais velho que ela. Pensando no futuro de sua filhinha, carinhosamente chamada de Dora, seu pai a comprometeu a casar-se com Simón de Massa, que era um rico herdeiro, ainda que a menina só tivesse sete anos. Não obstante sua curta idade, Dora costumava tirar, durante a missa, o anel de esponsais e murmurava: "Senhor, Tu sabes que o único amor que eu quero é o teu".

Quando seus pais a enviaram, aos doze anos de idade, para casa de seu esposo, já havia começado sua vida de mortificação. Sua sogra se mostrou amável com ela; mas, quando viu que era demasiado generosa com os pobres, lhe proibiu a entrada na despensa da casa. Desejosa de praticar de algum modo a caridade, Dora se uniu a um grupo de senhoras que assistiam aos enfermos e tomou a seu cargo a uma pobre mulher cancerosa.

A vida de matrimônio de Dora durou muito pouco tempo; tanto ela como seu esposo foram contaminados em uma epidemia, em que seu marido perdeu a vida. Como a beata era ainda muito jovem, seus parentes tentaram casá-la de novo, mas ela se opôs com toda a energia de seus quinze anos. Uma carta de Santa Catarina de Sena, a quem havia conhecido em Pisa, a animou em sua resolução. Dora cortou os cabelos e distribuiu entre os pobres seus ricos vestidos, coisa que provocou a indignação de sua sogra e de suas cunhadas.

Depois, com a ajuda de uma de suas criadas, conseguiu, em segredo, tratar de sua entrada na Ordem das Clarissas Pobres. Quando tudo estava a ponto, fugiu de sua casa para o convento, onde recebeu imediatamente o hábito e tomou o nome de Clara. No dia seguinte, seus irmãos se apresentaram no convento a buscá-la; as religiosas, muito assustadas, desceram-na pelo muro até aos braços de seus irmãos, os quais a conduziram a sua casa.

Aí esteve Clara prisioneira durante seis meses, mas nem a fome, nem as ameaças conseguiram fazê-la mudar a resolução. Finalmente, Pedro Gambacorti se deu por vencido e não só permitiu a sua filha ingressar no convento dominicano da Santa Cruz, mas prometeu construir um novo convento, onde conheceu Maria Mancini, que era também viúva e ia a alcançar um dia a honra dos altares.

Os escritos de Santa Catarina de Sena exerceram profunda influência nas duas religiosas, as quais, no novo convento, fundado por Gambacorti em 1382, conseguiram estabelecer a regra em todo o fervor da primitiva observância. A Beata Clara foi primeiro sub prioresa e logo prioresa do convento, de que partiram sucessivamente muitas das santas religiosas destinadas a difundir o movimento de reforma em outras cidades de Itália. Até ao dia de hoje, se chama na Itália as religiosas de clausura de Santo Domingo "As irmãs de Pisa".

No convento da beata reinavam a oração, o trabalho manual e o estudo. O diretor espiritual de Clara costumava repetir às religiosas: "Não olvideis nunca que em nossa ordem há muito poucos santos que não tenham sido também sábios" Clara teve que fazer frente, durante toda sua vida, às dificuldades econômicas, pois o convento exigia constantemente alterações e novos edifícios. Apesar disso, numa ocasião em que chegou a suas mãos uma valiosa soma de dinheiro que podia ter empregado no convento, preferiu ajudar aos pobres e necessitados.
Sua fama de santidade aumentava pelo seu sentido do dever e espírito de perdão, que praticou em grau heroico.

Giacomo Appiano, a quem seu pai Gambacorti havia ajudado sempre e em quem havia posto toda sua confiança, assassinou-o à traição, quando este se esforçava por manter a paz na cidade. Dois de seus filhos morreram também a mãos dos partidários do traidor. Outro dos irmãos de Clara, que conseguiu escapar, chegou a pedir refúgio no convento da beata, seguido de perto pelo inimigo; mas Clara, consciente de que seu primeiro dever consistia em proteger a suas filhas contra a turba, se negou a introduzi-lo na clausura. Seu irmão morreu assassinado frente à porta do convento, e a impressão fez com que Clara adoecesse gravemente.

Sem hesitar, a beata perdoou tão de coração a Appiano, que pediu que lhe enviasse um prato a sua mesa para selar o perdão, compartilhando sua comida. Anos mais tarde, quando a viúva e as filhas de Appiano se achavam na miséria, Clara as recebeu no convento.

A beata sofreu muito até ao fim de sua vida. Recostada em seu leito de morte, com os braços estendidos, murmurava: "Jesus meu, eis-me aqui na cruz". Pouco antes de morrer, um radiante sorriso iluminou seu rosto, e a beata abençoou suas filhas presentes e ausentes. Tinha, ao morrer, cinquenta e sete anos. Era em 17 de abril de 1420. Seu culto foi confirmado em 1830 pelo Papa Pio VIII.


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