terça-feira, 31 de dezembro de 2019

31 de dezembro - São João Francisco de Régis


Um peregrino chega ao santuário de La Louvesc. Prostra-se em profunda oração diante da urna de carvalho na qual estão os restos mortais do apóstolo da região. Estávamos no início do século XIX.
O que foi pedir esse rapaz?
É um João, ainda não canonizado, que pede a outro, já elevado à honra dos altares, que lhe obtenha a graça de conseguir reter em sua memória, rebelde, os rudimentos de latim necessários para chegar ao sacerdócio.

E o João canonizado - Francisco de Régis - obtém para o João que virá a sê-lo - Maria Vianney, futuro Cura d'Ars -, embora muito parcimoniosamente, o que ele pede. É um santo ajudando a outro, para a maior glória de Deus.

João Francisco nasceu em 31 de janeiro de 1597 de uma abastada família que se distinguiu pela pureza da fé numa época e região em que dominavam os protestantes calvinistas. Um de seus irmãos foi martirizado pelos protestantes alguns anos mais tarde.
Aluno do colégio dos jesuítas de Béziers, mostrou-se um apóstolo nato. Sua devoção a Nossa Senhora levou-o a ingressar na Congregação Mariana do colégio, tornando-se apóstolo de seus colegas, cinco dos quais, para levar uma vida mais perfeita, mudaram-se para a mesma casa que Régis. Então, com pouco mais de 14 anos, compôs uma regra para eles, na qual fixava as horas para o estudo, proibia toda conversação inútil, dispunha a leitura espiritual durante as refeições, exame de consciência à noite, e comunhão aos domingos.

Aos 19 anos, querendo dedicar-se de modo mais especial a Deus, entrou no Noviciado dos Jesuítas, onde foi exemplo de obediência, humildade e devotamento. Certo dia em que ele se levantou furtivamente durante a noite para ir rezar na capela da casa, foi visto por um colega que o denunciou ao superior. “Não turbeis as comunicações que esse anjo mantém com Deus, respondeu-lhe o sacerdote, pois, ou muito me engano, ou um dia celebrar-se-á na Igreja a festa de vosso companheiro”.

Após sua ordenação sacerdotal em 1630, foi para Toulouse.  Sua linguagem era simples e popular, mas o fogo da caridade, do qual ele estava inflamado, dava a seus discursos um poder tal que toda a cidade vinha escutá-lo e ninguém podia ouvi-lo sem derramar lágrimas .... Um pregador eloquente e renomado, tendo-o ouvido, disse: ‘É em vão que trabalhamos para ornar nossos discursos. Enquanto os catecismos deste santo missionário convertem, nossa bela linguagem não faz senão entreter sem produzir nenhum fruto”. 
Com o bordão de peregrino e envolvido num pobre casaco, percorria montes e campos, no inverno sobre a neve, e no verão sob os raios abrasadores do sol. Onde havia uma casa para visitar, uma miséria para socorrer, ou um coração para consolar e abrir para Deus, aí chegava sempre o missionário por caminhos inverossímeis. 

Em 1633 o Bispo de Viviers pediu ao Superior dos Jesuítas um missionário para acompanhá-lo em sua Visita Pastoral à diocese, onde não só havia decadência religiosa, mas também os erros protestantes de Calvino haviam feito muito estrago entre o povo. São Francisco de Régis foi o escolhido. Seus sermões inflamados e suas exortações atingiam diretamente o coração de seus ouvintes, produzindo muitas conversões. Causou sensação, a de uma notável senhora protestante, que abjurando sua heresia, foi recebida solenemente no seio da Igreja. Esse fato ocasionou novas conversões.

Em Sommières, cidade conhecida pela corrupção de costumes, os resultados foram tão notáveis que surpreendeu o próprio missionário. Escreveu a seu superior dizendo que os frutos haviam sobrepujado de tal modo sua expectativa, que ele não tinha palavras para explicá-los. Dir-se-ia que os habitantes da cidade haviam nascido de novo.
Para consolidar esses frutos, o missionário instituiu a Confraria do Santíssimo Sacramento, restabeleceu o costume das orações da manhã e da noite nos lares, e um modo de socorrer os pobres da paróquia.

Sua energia contra as blasfêmias só igualava no seu amor paternal no confessionário. Certa vez, tendo um homem ousado blasfemar em sua presença, deu-lhe sonora bofetada. A uma mulher que fizera o mesmo, cobriu-lhe a boca com barro. O mais surpreendente é que, em ambos os casos, vendo que o sacerdote fora movido por seu amor inflamado pela glória de Deus, o primeiro ajoelhou-se imediatamente a seus pés pedindo perdão, e a segunda afastou-se compungida.

Para o zelo do missionário, não havia limites. Dava aulas de catecismo às crianças, evangelizava os adultos, visitava os prisioneiros e os doentes e conduzia à emenda mulheres de má vida. Assistia os moribundos e tinha um dom especial para dispô-los a morrer santamente. Fundava, com as senhoras da cidade, associações de caridade para amparar as famílias pobres, e, quando necessário, ia ele mesmo mendigar para socorrê-las.

Chegou a La Louvesc doente e perigosamente febril. Mas, como havia uma enorme multidão de fiéis que desejavam ouvir seus sermões, pregou por três dias seguidos. Os intervalos de descanso foram utilizados para o atendimento no confessionário. Pediu então para ser levado a um estábulo, a fim de ter a consolação de expirar num estado semelhante ao do nascimento de Cristo, era o dia 31 de dezembro de 1640.

Tantos foram os milagres ocorridos em seguida junto à sua sepultura, que os Arcebispos e Bispos do Languedoc francês escreveram uma carta ao Papa dizendo: “Somos testemunhas de que diante do túmulo do Pe. João Francisco de Régis os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem, os mudos falam, e o ruído dessas assombrosas maravilhas  espalhou-se por todas as nações”. O Sumo Pontífice Clemente XI beatificou então o grande jesuíta em 1716 e seu sucessor canonizou-o em 1737.


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