O Castelo de Metola, onde Margarida
nasceu em 1287, era uma fortaleza situada no cume de uma montanha, localizado
na parte sul de Massa Trabaria. Seus pais tinham esperado com alegria o
nascimento de um herdeiro. Cheios de sonhos para o futuro dessa criança,
ordenaram uma grande festa para o evento feliz, mas a decepção do casal não
poderia ser mais amarga quando perceberam que a criança nascera cega, corcunda
e com uma perna mais curta que a outra.
Eles decidiram esconder todas as suas desgraças
e confiar a criança a uma criada fiel, obrigada a mantê-la escondida. No maior
segredo, a boa criada levou a criança a catedral de Mercatello para ser
batizada.
Crescendo, Margarida demonstrou uma
inteligência extraordinária. O capelão do castelo educou-a o melhor que pode.
Margarida facilmente memorizou os Salmos e outros versículos das Escrituras que
ele lhe ensinou. Ele mesmo talhou na madeira uma bengala para tornar fácil sua locomoção,
e ela logo aprendeu a orientar-se pelo castelo, nunca se aproximando do quarto
dos pais, que não queriam encontrá-la.
Quando Margarida tinha seis anos de idade,
passaram por Metola alguns visitantes, e quando a menina foi até a capela para
rezar, foi vista por uma das convidadas que, obviamente, ficou intrigada com a
presença da criança cega e aleijada. Para evitar futuros riscos de sua filha
ser descoberta, o pai construiu uma cela perto da Igreja de Santa Maria della
Fortezza, que ficava cerca de quatrocentos metros do castelo, no meio da mata,
e ali trancou a filha, que passava o tempo rezando, nutrida pela comida que lhe
era entregue pela janela.
Nos nove anos que ela ali permaneceu, recebia
visitas frequentes do capelão. Este não concordava com a atitude dos pais da
criança, mas nada podia fazer. Para compensar sua solidão, ele continuava a
dar-lhe instrução religiosa e os Sacramentos. Ela também recebia algumas raras
visitas de sua mãe.
Margarida só foi retirada daquele lugar quando
Massa Trabaria foi invadida por inimigos, mas foi lançada em um lugar pior, no
porão do palácio de seu pai em Mercatello.
Quando o perigo da guerra passou, seus pais
decidiram levá-la ao túmulo de Frei Tiago, na Igreja de São Francisco, em Città
di Castello, um franciscano que havia morrido em odor de santidade, na
esperança de que um milagre pudesse curar sua filha.
A viagem de um dia através das montanhas dos
Apeninos foi longa e desconfortável, no entanto Margarida estava feliz, pois
mais tarde contou que foi a única vez que seus pais lhe demonstraram amor.
Para decepção dos seus pais o milagre não
aconteceu... Sem dizer uma palavra, secretamente eles fizeram o caminho de
volta, abandonando-a, livrando-se dela para sempre. Quando a jovem, que tinha
cerca de quinze anos, se deu conta, seus pais a haviam abandonado naquela
cidade completamente desconhecida.
"Meu pai e minha mãe me abandonarem, mas o
Senhor me recebeu", diz o salmista. E foi o que aconteceu com ela.
Inicialmente alguns mendigos se apiedaram dela
e ela tornou-se mendiga com eles. Após um curto período como mendiga, Margarida
encontrou uma recepção calorosa nas famílias da cidade, que a hospedavam
alternadamente, admirando sua bondade, sua serenidade, sua paciência
inalterável. Com a oração contínua, ela recompensava seus benfeitores com a
obtenção de apoio material e moral às suas famílias.
Com cerca de 20 anos foi recebida em um
mosteiro, onde com alegria começou uma nova jornada espiritual empenhando-se na
observância da Regra de uma Ordem que o seu antigo biógrafo não revela o nome.
Infelizmente nesse convento as religiosas viviam em um ambiente relaxado e,
depois de um tempo, o comportamento da noviça cega que aderiu ao silêncio, a
pobreza e a meditação, tornou-se um fator de desconforto no convento. Como
Margarida recusasse qualquer abrandamento, foi dispensada do mosteiro e
encontrou-se novamente sozinha e abandonada na rua.
Foi então que ela conheceu, na Igreja da
Caridade, dirigida por frades dominicanos, as Mantellate, membros leigos
da Ordem da Penitência de São Domingos. Margarida foi recebida e assim, fazendo
parte de uma família religiosa, encontrou irmãos e irmãs e um grande ideal para
os quais se dedicar: contemplar a Deus e transmiti-lo com a oração e a
penitência. A pobre cega também foi Mantellata.
Apesar de seus infortúnios físicos, praticava
um intenso apostolado de misericórdia junto aos doentes e moribundos, e
aliviava os corações aflitos com uma boa conversa que a todos reconduzia ao
amor de Deus. Claros sinais sobrenaturais revelavam que Margarida estava muito
próxima do coração de Deus, e que O amava com um amor sempre mais puro e
profundo. Duas vezes ela previu o futuro e suas profecias se cumpriram, obteve
a cura milagrosa de uma jovem e apagou um incêndio jogando seu manto contra as
chamas. Também com o toque da sua mão curou o olho doente de uma Irmã. Depois
destes fatos, a “mantellata” se tornou cada vez mais célebre em toda a região
por sua santidade. Durante suas orações intensas tinha êxtases profundos,
especialmente se estava na presença de grandes misérias e sofrimentos.
No início de 1320, Margarida percebeu que seu
exílio longe de Deus estava prestes a terminar: o sofrimento físico aumentou, a
sua alma ansiava apenas por se libertar do corpo mortal.
Ela faleceu no dia 13 de abril, no segundo
domingo de Páscoa, com a idade de 33 anos. Os habitantes de Città di Castello
correram em massa para a despedida final. Muitos milagres ocorreram em seu
túmulo, que sempre foi cercado de grande reverência.
Em 6 de abril de 1675 o Papa Clemente X a declarou
beata. Em 1988, o bispo de Urbino proclamou a Beata Margarida de
Città di Castello padroeira diocesana dos cegos.
O corpo de Margarida, deformado em vida,
permanece perfeitamente intacto após sua morte, e agora se encontra sob o
altar-mor da Igreja de São Domingos, em Città di Castello, Itália.
Como outras místicas
medievais, à oração assídua a Beata unia penitências extremamente duras:
jejuns, vigílias, cilício, flagelação. Tudo para imitar Cristo que
voluntariamente se entregou à paixão pela salvação da humanidade.
Santa Margarida é um exemplo
de mulher que amadureceu uma profunda e fervorosa experiência de vida em íntima
união com o Senhor. A enfermidade não a impediu de viver uma maternidade
espiritual excepcional e fecunda, que ainda hoje recorda a importância de
cuidar dos outros. Além disso, pode ser um forte chamado de esperança para
qualquer situação de marginalização e sofrimento.
No dia 24 de abril de 2021, o Papa Francisco estendeu
à Igreja universal o culto da Beata Margarida de Città de Castello, da Ordem
Terceira dos Frades Pregadores, inserindo-a no Catálogo dos Santos (Canonização
Equipolente).
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