Ao mesmo tempo que
nos deixamos tomar por uma sã indignação, lembremo-nos de que sempre é possível
superar as diferentes mentalidades de colonização para construir redes de
solidariedade e desenvolvimento: o desafio é assegurar uma globalização na
solidariedade, uma globalização sem marginalização. Podem-se encontrar
alternativas de pecuária e agricultura sustentáveis, de energias que não
poluem, de fontes dignas de trabalho que não impliquem a destruição do meio
ambiente e das culturas. Simultaneamente é preciso garantir, para os indígenas
e os mais pobres, uma educação adequada que desenvolva as suas capacidades e
empoderamento. É precisamente nestes objetivos que se mede a verdadeira astúcia
e a genuína capacidade dos políticos. Não servirá para devolver aos mortos a
vida que lhes foi negada, nem para compensar os sobreviventes daqueles
massacres, mas ao menos para hoje sermos todos realmente humanos.
Anima-nos recordar
que, no meio dos graves excessos da colonização da Amazônia, cheia de contradições
e lacerações, muitos missionários chegaram lá com o Evangelho, deixando os seus
países e aceitando uma vida austera e desafiadora junto dos mais desprotegidos.
Sabemos que nem todos foram exemplares, mas o trabalho de quantos se mantiveram
fiéis ao Evangelho também inspirou uma legislação, como as Leis das Índias, que
protegiam a dignidade dos indígenas contra as violações de seus povos e
territórios. E dado que frequentemente eram os sacerdotes que protegiam os
indígenas de ladrões e abusadores, aqueles pediam-nos insistentemente – contam
os missionários – que não os abandonássemos e faziam-nos prometer que
voltaríamos novamente.
E, nos dias de hoje,
a Igreja não pode estar menos comprometida, chamada como está a ouvir os
clamores dos povos amazônicos, para poder exercer com transparência o seu papel
profético. Entretanto como não podemos negar que o joio se misturou com o
trigo, pois os missionários nem sempre estiveram do lado dos oprimidos,
deploro-o e mais uma vez peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da
própria Igreja, mas também pelos crimes contra os povos nativos durante a
chamada conquista da América e pelos crimes atrozes que se seguiram ao
longo de toda a história da Amazônia. Aos membros dos povos nativos, agradeço e
digo novamente que, com a vossa vida, sois um grito lançado à consciência
(…). Vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da
Casa Comum.
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