A página evangélica de hoje apresenta Jesus que
regressa a Nazaré e, no dia de sábado, começa a ensinar na sinagoga. Desde que
se tinha ido embora para começar a pregar nos povoados e aldeias
circunvizinhas, nunca voltara à sua pátria. Voltou. Portanto, toda a cidade
terá ido ouvir este filho do povo, cuja fama de mestre sábio e de poderoso
curador já se alastrava pela Galileia e além.
Mas aquilo que se poderia apresentar como um
sucesso, transformou-se numa clamorosa recusa, a ponto que Jesus não pôde
realizar ali prodígio algum, mas apenas poucas curas. A dinâmica daquele dia
foi reconstruída detalhadamente pelo evangelista Marcos; o povo de Nazaré
inicialmente ouve, e fica admirado; depois questiona-se perplexo: de onde lhe
vêm estas coisas, esta sabedoria?; e no final escandaliza-se, ao reconhecer
n’Ele o carpinteiro, o filho de Maria, que eles viram nascer. Por isso Jesus
conclui com a expressão que se tornou proverbial: um profeta só é desprezado na
sua pátria.
Perguntemo-nos: por que passam os concidadãos
de Jesus da admiração à incredulidade? Eles fazem um confronto entre a origem
humilde de Jesus e as suas capacidades atuais: é um carpinteiro, não estudou,
contudo, prega melhor que os escribas e faz milagres. Mas em vez de se abrirem
à realidade, escandalizam-se.
Segundo os habitantes de Nazaré, Deus é
demasiado grande para se abaixar e falar através de um homem tão simples! É o
escândalo da encarnação: o evento desconcertante de um Deus que se fez carne,
que pensa com mente de homem, trabalha e age com mãos de homem, ama com coração
de homem, um Deus que trabalha, come e dorme como um de nós. O Filho de Deus
inverte qualquer esquema humano: não foram os discípulos que lavaram os pés ao
Senhor, mas foi o Senhor que lavou os pés aos discípulos.
É este o motivo de escândalo e de incredulidade
não só naquela época, em todas as épocas, mas também hoje.
Com efeito, também nos nossos dias pode
acontecer que se alimentem preconceitos que impedem que se compreenda a
realidade. Mas o Senhor convida-nos a assumir uma atitude de escuta humilde e
de expetativa dócil, porque a graça de Deus se apresenta, com frequência, de maneiras
surpreendentes, que não correspondem às nossas expetativas. Pensemos juntos na
Madre Teresa de Calcutá, por exemplo. Uma religiosa pequenina — ninguém dava
dez tostões por ela — que ia pelas ruas recuperar os moribundos para que
tivessem uma morte digna. Esta pequenina religiosa fez maravilhas com as
orações e com as suas obras! A pequenez de uma mulher revolucionou as obras de
caridade na Igreja. É um exemplo dos nossos dias. Deus não se conforma com os
preconceitos. Devemos esforçar-nos por abrir o coração e a mente, para acolher
a realidade divina que vem ao nosso encontro.
Papa Francisco – 08 de julho
de 2018
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