terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

04 de fevereiro - Beato Justo Takayama Ukon

Entre os muitos santos da história da Igreja Japão (quarenta e dois santos e trezentos e noventa e três beatos, incluindo missionários europeus), todos os mártires mortos in odium fidei durante diversas vagas de perseguições, a história de Takayama é especial.

Trata-se, com efeito, de um leigo, um político, um militar (era senhor feudal e samurai), que chegou à glória dos altares sem ter sido morto, mas por ter escolhido viver seguindo Cristo, pobre, obediente e crucificado. Ukon renunciou a uma posição social de alto nível, à nobreza e às riquezas, para permanecer fiel a Cristo e ao Evangelho.

Ao nascer, entre 1552 e 1553, no castelo de Takayama, nas proximidades de Nara, recebeu o nome de Hikogoro Shigetomo; era filho de Takayama Zusho, que viria a tornar-se senhor do castelo de Sawa. Takayama é o nome de família, derivado do território da sua propriedade feudal. A sua casa pertencia à classe da nobreza, ou seja, dos daimyō, senhores de um castelo com as suas respetivas propriedades.
Vinham imediatamente a seguir aos shogun (senhores de mais territórios, dos quais os vários daimyō eram fiéis aliados, colocando à sua disposição um exército e combatentes profissionais, os samurai) que muitas vezes entravam em guerra entre si para alargar as suas áreas de influência.

Em 1563, o pai fora incumbido pelo seu shogun de julgar um missionário jesuíta, o padre Gaspar Videla, que anunciava o Evangelho precisamente em Quioto, futura cidade imperial. O Evangelho tinha sido introduzido no Japão pelo jesuíta Francisco Xavier, em 1549, e tinha-se espalhado rapidamente. Escutando-o, o pai de Justo ficara tão impressionado que quis se fazer cristão, pedindo o Batismo e tomando o nome de Dario. Tendo regressado ao seu castelo acompanhado por um catequista, mandou catequizar e batizar muitos dos seus soldados, a sua mulher e os seus filhos, entre os quais também Justo, o primogênito, que nessa época contava cerca de doze anos. A partir desse momento, o seu pai tornou-se protetor dos cristãos.

Para ele, filho e herdeiro de um importante daimyō, era uma vocação natural tornar-se samurai, guerreiro sempre pronto a defender a família, a lei e o shogun, seu senhor. Devido à frequência dos conflitos entre os daimyō, participou nas guerras e nos combates, distinguindo-se pela sua coragem. A sua convalescença forçada, devido a um ferimento recebido em duelo, foi para ele um tempo providencial e, em 1571, contando então vinte anos, convenceu-se de que, mesmo continuando a ser samurai, deveria colocar a sua perícia no manejo das armas ao serviço dos mais débeis, dos órfãos e das viúvas.

Em 1573, a sua família recebeu um novo feudo, e Justo tornou-se no seu daimyō, devido à idade demasiado avançada do seu pai. Dois anos mais tarde tomou por mulher Justa, uma cristã, e teve três filhos (dois dos quais morreram ainda pequenos) e uma filha. Mandou construir uma igreja na própria cidade imperial de Quioto e um seminário em Azuchi, sobre o lago Biwa, para formação de missionários e de catequistas japoneses. A maioria dos seminaristas provinha das famílias do seu feudo.

Justo utilizou a típica cerimônia japonesa do chá, em que se reforçam as relações entre os participantes e se aprofundam os laços de amizade, para evangelizar, transformando-a numa ocasião de anúncio do Evangelho e de diálogo com outros nobres sobre a fé cristã. No primeiro período do shogun Toyotomi Hideyoshi, que subiu ao poder em 1583, a sua influência foi aumentando entre os nobres, vários dos quais aceitaram tornar-se cristãos. Toyotomi, porém, tendo-se tornado tão poderoso que conseguiu unificar todo o Japão sob a sua autoridade, começou a temer os cristãos e, em 1587, promulgou um édito que proibia a sua religião no país e continha a ordem de expulsão dos missionários estrangeiros e o exílio para os catequistas nativos.

Todos os grandes senhores feudais aceitaram a disposição, mas não Justo, que preferiu renunciar ao seu feudo e sofrer o exílio de preferência a abjurar. Após a morte inesperada de Toyotomi, o seu sucessor revelou-se pior do que ele. A perseguição contra os cristãos foi alargada e intensa, com o objetivo de erradicar aquilo a que chamavam a erva daninha ou a religião perversa.

Em 14 de fevereiro de 1614, Justo Takayama e os seus familiares foram presos e transferidos para Nagasaki, enquanto esperavam o próprio julgamento juntamente com os missionários que também tinham sido levados para lá. Após vários meses de prisão, em 8 de novembro de 1614, Justo e trezentos dos seus companheiros foram condenados ao exílio e metidos num barco de juncos com destino a Manila, nas Filipinas.

Durante o período passado na prisão, ele tinha alimentado a esperança de partilhar a sorte dos mártires de Nagasaki. Estava certo que seria morto e tinha esperado o seu fim com grande serenidade. A expulsão e o lento avanço naquele navio extremamente carregado fizeram Justo progredir ainda mais na sua fé. Embora tenha sido acolhido com todas as honras pelos espanhóis, esgotado pela prisão e pela longa viagem, morreu em Manila a 3 de fevereiro de 1615, quarenta dias depois da sua chegada às Filipinas.

O exemplo de Justo é muito importante e precioso. Levou uma vida cristã autêntica, honesta, sincera e profunda. Foi reconhecido como mártir, apesar de não o terem matado, por ter sido perseguido e ter tido de abandonar todas as suas riquezas e o seu estatuto social. Sentia-se muito feliz por ter recebido de Deus o dom da fé cristã e foi uma testemunha contagiante junto de todos aqueles que encontrava: nobres da sua classe, superiores, súbditos e amigos.

Foi beatificado em Osaka em 7 de fevereiro de 2017, sob o pontificado do Papa Francisco. A cerimônia de beatificação foi celebrada no estádio de Osaka-jo Hall e foi transmitido pela televisão japonesa. Durou três horas e mais de 10.000 pessoas estiveram presentes.
Foi presidida pelo Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, representando o Papa Francisco.
Durante a homilia, o Cardeal Amato disse:

A Igreja do Japão foi abençoada com o grandioso testemunho de muitos mártires, e Justo Takayama Ukon é um esplêndido testemunho de Cristo para toda a Igreja.
Estava fascinado por Jesus Cristo, pelo seu trabalho de caridade e seu sacrifício pela redenção. Esta convicção o converteu em um promotor da evangelização no Japão. Foi um autêntico testemunho e guerreiro de Cristo, não com armas, mas com o seu exemplo e a sua palavra. Perdeu todos os seus privilégios e preferiu uma vida pobre.

Takayama era um samurai nobre do Japão, que havia participado de várias batalhas e, além disso, era reconhecido pelo Chanceler do país, Toyotomi Hideyoshi, antes dele começar a perseguição contra os cristãos.
Fundou diferentes comunidades cristãs e seminários em Azuchi e Takatsuki para a formação de missionários e catequistas. Seu trabalho era muito arriscado.
Depois da sua chegada às Filipinas, Takayama sabia que o Senhor o tinha preparado para o martírio, não de sangue, mas uma morte lenta e prolongada com muitos sofrimentos.
Justo Takayama não considerou o Evangelho como algo separado da cultura do Japão. Sempre esteve centrado no Evangelho. Estava próximo dos sacramentos, da oração em silêncio e com os missionários.
A beatificação de Justo é uma semente evangélica que a Providência lançou no Japão e no mundo e que o exemplo do nosso beato nos impulsione a ter uma vida de fé e de fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo.


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