terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Querida Amazônia: Indignar-se e pedir perdão - nºs 15 e 16


É preciso indignar-se, como se indignou Moisés, como Se indignava Jesus, como Se indigna Deus perante a injustiça. Não é salutar nos habituar ao mal; faz-nos mal permitir que nos anestesiem a consciência social, enquanto um rasto de delapidação, inclusive de morte, por toda a nossa região, (…) coloca em perigo a vida de milhões de pessoas, em especial do habitat dos camponeses e indígenas. Os casos de injustiça e crueldade verificados na Amazônia, ainda durante o século passado, deveriam gerar uma profunda repulsa e ao mesmo tempo nos tornar mais sensíveis para também reconhecer formas atuais de exploração humana, violência e morte. Por exemplo, a propósito do passado vergonhoso, recolhamos uma narração dos sofrimentos dos indígenas da época da borracha na Amazônia venezuelana:
“Os nativos não recebiam dinheiro, mas apenas mercadorias, e caras, que nunca acabavam de pagar.  Pagava, mas diziam ao indígena: “Ainda estás a dever tanto” e o indígena tinha que voltar a trabalhar. Mais de vinte aldeias ye’kuana foram completamente arrasadas. As mulheres ye’kuana foram violadas e seus seios cortados; as grávidas desventradas. Aos homens, cortavam os dedos das mãos ou os pulsos, para não poderem navegar (...), juntamente com outras cenas do sadismo mais absurdo”.

Esta história de sofrimento e desprezo não se cura facilmente. E a colonização não para; embora em muitos lugares se transforme, disfarce e dissimule, todavia, não perde a sua prepotência contra a vida dos pobres e a fragilidade do meio ambiente. Os bispos da Amazônia brasileira recordaram que a história da Amazônia revela que foi sempre uma minoria que lucrava à custa da pobreza da maioria e da depredação sem escrúpulos das riquezas naturais da região, dádiva divina para os povos que aqui vivem há milénios e os migrantes que chegaram ao longo dos séculos passados.

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