Quero lembrar agora
que a visão consumista do ser humano, incentivada pelos mecanismos da economia
globalizada atual, tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa
variedade cultural, que é um tesouro da humanidade. Isto afeta muito os jovens,
quando se tende a dissolver as diferenças próprias do seu lugar de origem,
transformá-los em sujeitos manipuláveis feitos em série. Para evitar esta
dinâmica de empobrecimento humano, é preciso amar as raízes e cuidar delas,
porque são um ponto de enraizamento que nos permite crescer e responder aos
novos desafios. Convido os jovens da Amazônia, especialmente os indígenas, a assumir
as raízes, pois das raízes provém a força que [os] fará crescer, florescer e
frutificar. Para quantos deles são batizados, incluem-se nestas raízes a
história do povo de Israel e da Igreja até ao dia de hoje. Conhecê-las é uma
fonte de alegria e sobretudo de esperança que inspira ações válidas e
corajosas.
Durante séculos, os
povos amazônicos transmitiram a sua sabedoria cultural, oralmente, através de
mitos, lendas, narrações, como sucedia com aqueles primitivos jograis que
percorriam as florestas contando histórias de aldeia em aldeia, mantendo assim
viva uma comunidade que, sem o cordão umbilical destas histórias, a distância e
a falta de comunicação teriam fragmentado e dissolvido. Por isso, é importante deixar
que os idosos contem longas histórias e que os jovens se detenham a beber
desta fonte.
Enquanto o risco de
perder esta riqueza cultural é cada vez maior, nos últimos anos – graças a Deus
– alguns povos começaram a escrever para contar as suas histórias e descrever o
significado dos seus costumes. Assim, eles próprios podem reconhecer
explicitamente que há algo mais do que uma identidade étnica e que são
depositários de preciosas memórias pessoais, familiares e coletivas. Alegra-me
ver aqueles que perderam o contato com as suas raízes tentarem recuperar a
memória danificada. Por outro lado, nos próprios setores profissionais, começou
a desenvolver-se uma maior percepção da identidade amazônica, tornando-se a
Amazônia – mesmo para eles, muitas vezes descendentes de imigrantes – fonte de
inspiração artística, literária, musical, cultural. As várias expressões
artísticas, particularmente a poesia, deixaram-se inspirar pela água, a
floresta, a vida que se agita, bem como pela diversidade cultural e os desafios
ecológicos e sociais.
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