sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

31 de janeiro - Santa Marcela de Roma


Marcela nasceu por volta do ano 325 em Roma, tendo como ancestrais cônsules e governadores de províncias. Cresceu em meio ao luxo, numa família ilustre, frequentando os mais altos ambientes de Roma.
A presença pagã ainda era forte no Império quando Marcela nasceu. Havia decorrido pouco mais de uma década do Edito de Milão (ano 313), pelo qual Constantino tirou a Igreja das catacumbas, dando-lhe liberdade e permitindo sua expansão.
Santa Marcela viveu parte de sua vida durante o reinado desse imperador. Roma já não era mais a orgulhosa cidade que causava inveja a todos os povos. Com a divisão do Império e a importância que adquiriu Bizâncio ao se tornar Constantinopla, perdera muito de sua grandeza.
Durante a vida de Santa Marcela, a Cidade Eterna tornou-se cobiçada como possível presa por vários povos bárbaros. Foi várias vezes sitiada e por fim saqueada a ferro e fogo.

Com a educação que recebeu, Marcela tornou-se uma donzela muito culta, capaz de manter conversação em qualquer campo do saber. Perdeu o pai após a adolescência, e o marido sete meses depois de casada. Jovem, bela, de alta estirpe, logo apareceram vários pretendentes à sua mão, mas ela tinha decidido consagrar-se inteiramente a Jesus Cristo.

Até essa época, nenhuma grande dama de Roma tinha feito profissão de vida monástica, e era mesmo degradante aos olhos das classes mais elevadas pensar em tal possibilidade. Teve, portanto, que desafiar o ambiente mundano que a cercava, ao tornar-se a primeira grande dama romana a professar abertamente a vida de devoção. Entretanto, “bela, rica, de alta linhagem, muito culta, perfeitamente ao nível de tudo o que Roma encerrava de mais refinado e erudito, ninguém se atrevia a desconsiderá-la”. As elites, quando dão o bom exemplo, arrastam para Deus.

Marcela entrou em contacto com alguns sacerdotes de Alexandria que se haviam refugiado em Roma, devido à perseguição ariana. Deles ouviu o relato da vida de Santo Antão, ainda vivo, e de como funcionavam os mosteiros da Tebaida fundados por São Pacômio para virgens e viúvas. Resolveu pautar sua vida pela dessas virgens da solidão.

Vestiu-se com uma pobre túnica, passou a jejuar moderadamente por causa de sua frágil saúde, e a dedicar longo tempo à oração e ao estudo das Sagradas Escrituras. Aos poucos algumas virgens e viúvas, seguindo seu exemplo, uniram-se a ela e passaram a dedicar-se também à vida de piedade e ao estudo. Entre estas destacamos Santa Paula, de tão alta estirpe quanto a sua, que também tinha consagrado a Deus sua viuvez.

São Jerônimo afirma que “foi na cela de Marcela que Eustóquia [filha de Paula, ainda criança], esse paradigma de virgens, foi gradualmente formada”. Mais tarde Santa Eustóquia mudou-se com sua mãe para a Terra Santa, a fim de trabalharem com São Jerônimo.

No ano 382 o imperador Teodósio (com razão chamado “o Magno”) e o Papa São Dâmaso resolveram convocar um sínodo em Roma para combater as heresias, que pululavam principalmente no Oriente. Entre os que compareceram figuravam Santo Epifânio, bispo de Salamina (Chipre), e São Paulino, bispo de Antioquia. Com eles veio a Roma o monge Jerônimo, já então com fama de grande exegeta. Adoecendo Santo Ambrósio, que deveria ser o secretário do sínodo, São Dâmaso nomeou São Jerônimo para substituí-lo.

Esse futuro Doutor da Igreja assinalou-se tanto por sua erudição e segurança de doutrina que, terminado o sínodo, São Dâmaso escolheu-o para seu secretário particular.
Santa Marcela, estudiosa erudita das Escrituras, tudo fez para que o santo a dirigisse, com suas discípulas, nos estudos e na vida de piedade. Conta São Jerônimo: “Em minha modéstia, evitava os olhos das damas de alta categoria. Contudo ela pleiteou tão pressurosamente — ‘oportuna e importunamente’ (2 Tm 4, 2), como diz o Apóstolo — que por fim sua perseverança superou minha relutância. E, como nesses dias meu nome tinha alguma fama como estudante das Escrituras, ela nunca veio me ver sem que me perguntasse alguma questão relativa a elas; nem aquiescia logo às minhas explicações, pelo contrário, as debatia. Não era, entretanto, para discutir, mas para aprender as respostas às objeções que poderiam ser feitas aos meus pronunciamentos”. 
Com admiração, acrescenta: “Quanta virtude e habilidade, quanta santidade e pureza encontrei nela, espanto-me em dizer. [...] E o que em mim era o fruto de longo estudo e, como tal, feito pela constante meditação que se tornou parte de minha natureza, isso ela saboreou e fez como próprio dela” (Carta 127, 7).

Quando São Jerônimo retirou-se para Belém, Santa Marcela ficou como árbitra em matéria de Sagrada Escritura para os discípulos que o santo deixara em Roma, inclusive alguns sacerdotes.

Santa Marcela tinha uma irmã mais nova, Santa Asélia, que fora consagrada a Deus desde o seio materno, e embora vivessem sob o mesmo teto, as duas irmãs pouco se viam e pouco se falavam, cada uma entregue às suas próprias orações e mortificações.

Falando ainda à virgem de nome Princípia, discípula de Marcela, diz São Jerônimo: “Vós duas moráveis na mesma casa e ocupáveis o mesmo quarto, de maneira que todo mundo na cidade soube com certeza que encontrastes nela uma mãe, e ela em vós uma filha. Vós duas encontrastes nos subúrbios uma reclusão monástica, e escolhestes o campo em vez da cidade para vossa solidão. Por longo tempo morastes juntas, e como outras senhoras pautaram sua conduta pelos vossos exemplos, tive a alegria de ver Roma transformada em outra Jerusalém. Os estabelecimentos monásticos para virgens tornaram-se numerosos, e os eremitas lá eram em número incontável”.

São Jerônimo diz que Sanat Marcela estava atenta à pureza da fé. E quando surgiram em Roma, ou nela se tornaram conhecidas algumas heresias como a dos pelagianos, ela pôs-se em guarda: “Consciente de que a fé de Roma — louvada por um apóstolo (Rm 1, 8) — estava agora em perigo, e de que essa nova heresia estava levando consigo não somente padres e monges, mas também muitos leigos, [...] ela resistiu a seus mestres, escolhendo agradar antes a Deus que aos homens”.

Em 410, quando Alarico e os seus bárbaros invadiram Roma, encontraram no prestigioso bairro do Aventino a casa de Santa Marcela. Apesar dos seus 85 anos de idade, ela os recebeu sem nenhum temor. Quando perguntaram por ouro, mostrou-lhes seu pobre hábito como prova de que vivia na pobreza. Mas eles não acreditaram, e flagelaram-na impiedosamente. Esquecida de si mesma, ela só pedia que poupassem sua discípula Princípia, então ainda nova, pois sabia que a ela, octogenária, eles não ultrajariam, o mesmo não se dando com a jovem virgem. Afinal os bárbaros levaram as duas para a basílica de São Paulo Apóstolo, e lá as abandonaram. Poucos dias depois, Santa Marcela entregava sua alma a Deus.
A festa de Santa Marcela comemora-se a 31 de janeiro.



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