A paz é um bem precioso, objeto da nossa
esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um
comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento
presente, às vezes até custoso, “pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta
e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que
justifique a canseira do caminho”. Assim, a esperança é a virtude que nos
coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem
intransponíveis (...)
As terríveis provações dos conflitos civis e
dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas,
marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a
guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade,
inscrito na vocação da família humana.
Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo
fato de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e
a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do
orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo
e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições
hegemônicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como
obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso(...)
Por isso, não podemos pretender manter a
estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito
instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da
indiferença, onde se tomam decisões socioeconômicas que abrem a estrada para os
dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos
outros. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como
romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de
desconfiança atualmente prevalecente?
Devemos procurar uma fraternidade real, baseada
na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de
paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos
com nada de menos(...)
O mundo não precisa de palavras vazias, mas de
testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem
manipulações. De fato, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um
convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das
ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que “deve estar
constantemente a ser edificada”, um caminho que percorremos juntos procurando
sempre o bem comum e comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o
direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do
outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.
Por conseguinte, o processo de paz é um empenho
que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da
justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma
esperança comum, mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia
pode ser um paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na
justiça e no compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se
vulnerável ou marginalizado, na busca contínua da verdade. Trata-se duma
construção social em contínua elaboração, para a qual cada um presta
responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade local,
nacional e mundial(...)
Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa
ajuda.
Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de
todos os povos da terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da
reconciliação.
E que toda a pessoa que vem a este mundo possa
conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e
vida que traz em si.
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