quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

23 de janeiro - Beata Benedita Bianchi Porro


Benedetta (Benedita) Bianchi Porro veio à luz em Dovadola, na província de Forlí, em 8 de agosto de 1936. Assim que nasce, após um parto difícil e sofrido, agravado por uma hemorragia, a mãe pediu logo o batismo, que lhe é concedido com água da fonte milagrosa de Lourdes.
Aos três meses, foi acometida pela doença da poliomielite. Recuperou-se, mas ficou com uma perna mais curta. Crescendo, terá que levar um sapato ortopédico pesado. As crianças a chamam de "zoppetta" (referente ao seu modo de andar), mas, ela não se ofende: “eles dizem a verdade”, prenunciando desde pequena um espírito desapegado e simples.   

Em maio de 1944, na pequena Igreja da Anunciação, em Dovadola, fez sua Primeira Comunhão. A partir daquele dia, trará sempre consigo, muitas vezes na mão, o rosário que ganhou de presente.

Por algum tempo, Benedita teve que usar uma cinta em volta do corpo para evitar a deformação da coluna vertebral (devido à discrepância de tamanho dos membros inferiores). Além disso, apareceu nela uma diminuição da audição. Nada disso lhe abate o ânimo ou lhe retira a alegria interior. “Que coisa maravilhosa é a vida” – diz – e faz muitos planos para o futuro. “Eu gostaria de poder me tornar algo grande”...

Apesar das suas condições de saúde, frequentou a Faculdade de Física na Universidade de Milão, mas, após um mês, decidiu fazer Medicina. Está convencida de que sua vocação é dedicar-se ao próximo, especialmente os mais necessitados, como médica. É muito boa nos estudos, porém, a doença progride inexoravelmente. “Nunca se ouviu falar de um médico surdo”, grita um dia, lançando o livro de anatomia no chão. Apesar desse momento, Benedita não desistiu, mantendo-se a duras penas no curso. “Parece-me – escreve ela um dia – estar em um pântano interminável e monótono, afundando-me nele lentamente”.  

Esperanças, sacrifícios, lutas interiores, um longo caminho da cruz de cirurgias, até que o diagnóstico definitivo foi dado: “neurofibromatose difusa” ou “doença de Recklinghausen”, uma doença rara e incurável que rouba progressivamente a visão, a audição, o paladar, o olfato e imobiliza o doente em uma cama. Benedita estava sozinha. Parecia que Deus a havia abandonado. São dias difíceis, iluminados apenas por sua fé e pela amizade fraterna de uma jovem: Nicoletta, que se torna sua “Cirineu” nessa “via crucis”. 
Trancada em seu quarto, paralisada na cama, sua jovem vida se esvai em dias de luta interior e noite escura. A dor é seu pão de cada dia. 

Durante duas peregrinações a Lourdes, Benedita descobriu sua verdadeira vocação: “A partir da Cidade de Nossa Senhora – escreve ela a um amigo – sou capaz de voltar a lutar, com mais bondade, paciência e serenidade. Percebi, mais do que nunca, a riqueza do meu estado. Desejo nada mais do que viver ardentemente esse momento. Esse foi para mim o milagre de Lourdes deste ano”.

Dia após dia, Benedita se abre à ação da graça, em uma dolorosa jornada de fé e abandono que a purifica, fazendo morrer para si mesma e se tornando um dom para os outros. Muitos escreverão para ela ou a visitarão. Naquele quarto onde ela se consome como oferta a Deus, torna-se como que vítima no altar. Benedita escreve muitas cartas, responde ela mesma, sozinha, até quando ainda dá para fazê-lo, com grande dificuldade, com sua escrita cada vez mais incerta e instável. 
Quando não consegue mais escrever, conta com a ajuda de sua mãe, através de quadro com um alfabeto convencional, sinalizando as letras que queria com os dedos de sua mão direita (única parte do corpo que ainda se movia) e com gestos de seu rosto. 
O quarto dela se torna um lugar de vida e sua cama um altar, em torno do qual se forma um Cenáculo extraordinário de amor: moços e moças que saem de lá cheios da fé e de piedade aprendendo com Benedita a terem grande amor por Deus e pela vida. 

A suprema lição de fé e de coragem dela, humilhada e insultada em sua carne, através da enfermidade, é o “mistério” de Benedita. “Primeiro na cadeira, agora na cama que é, praticamente, minha casa – escreve ela –, eu encontrei uma sabedoria muito maior que aquela dos homens. Descobri que Deus existe, que Ele é Amor, lealdade, alegria e certeza, até o fim dos tempos”.

O mundo de Benedita, seu mundo interior, fascina aqueles que a conhecem e que são cada vez mais numerosos. Seus pensamentos, “ditados” à sua mãe, são como pérolas de luz, refletindo Deus em sua alma, uma outra dimensão, intraduzível, que tem sabor de eternidade. 
Fragmentos de interioridade que, entregue a seus textos já traduzidos em várias línguas, em todo o mundo, incendeiam os corações de muitos: padres, artistas, médicos, escritores, doentes, prisioneiros, etc., todos conquistados por sua mensagem simples e comovente: entregar-se totalmente a Deus e apreciar a alegria que vem deste abandono. 

Finalmente, o momento do encontro com o Senhor chegou. Na manhã de 23 de janeiro de 1964, rosas brancas, fora de época, surgem no jardim de sua casa. “Quem sabe – diz Benedita – não seja um doce sinal do Céu”? Dois meses antes, tinha sonhado entrar em um cemitério da Romagna e lá encontrou um túmulo aberto com uma linda rosa branca dentro que emitia uma luz ofuscante. 
Benedita estava morrendo e uma rosa floresceu naquele dia, fora do tempo, em seu jardim. Ela havia dito: “logo, logo, eu serei nada mais do que um nome; mas, meu espírito continuará a viver aqui, entre aqueles que sofrem”.

 “A dor é uma oportunidade de estarmos com Maria ao pé da Cruz”, dizia ela. “Aprendo muito com Nossa Senhora. Ela sabe o que é sofrer em silêncio. No momento da prova, recomendo-me à Mãe, que viveu seus sofrimentos com grande fortaleza. A primeira vez que fui à Lourdes pedi para curar. A segunda vez, para rezar pelos outros, porque, com dizia, “a caridade é viver no outro”“Nossa Senhora me deu mais do que eu lhe pedi”. 

Foi beatificada no sábado, 14 de setembro de 2019, na catedral de Santa Croce, em Forlì, missa presidida pelo cardeal Becciu como enviado do Santo Padre. Sua memória litúrgica cai em 23 de janeiro, o dia de seu nascimento no céu.

O cardeal Angelo Becciu falou sobre a vida desta corajosa Beata:
“É justo chamá-la corajosa, porque a sua vida nos causa transtorno e nos deixa perplexos. Ela nasceu em 1936 e faleceu em 1964, com apenas 28 anos de idade, por poliomielite. Logo, era uma jovem corajosa porque viveu seu sofrimento com força e serenidade. É um mistério que não podemos explicar. É o mistério da cruz, que o mundo rejeita, mas Deus valoriza. Não podemos falar de tristeza, pois ela sempre viveu seu sofrimento com alegria! Quem não entende esta mentalidade, não aceita. Seu testemunho de vida nos recorda que a vida não é nossa, mas um dom de Deus, que deve ser preservado até seu fim natural. Eis a sua mensagem, a sua herança!”.




Um comentário:

  1. Louvado seja Deus por sua vida e testemunho ,
    com Jesus só temos a ganhar, somos mais que vencedores, amém ...

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