A luta social implica
capacidade de fraternidade, um espírito de comunhão humana. Então, sem diminuir
a importância da liberdade pessoal, ressalta-se que os povos nativos da Amazônia
possuem um forte sentido comunitário. Vivem assim o trabalho, o descanso, os
relacionamentos humanos, os ritos e as celebrações. Tudo é compartilhado, os
espaços particulares – típicos da modernidade – são mínimos. A vida é um
caminho comunitário onde as tarefas e as responsabilidades se dividem e
compartilham em função do bem comum. Não há espaço para a ideia de indivíduo
separado da comunidade ou de seu território. Estas relações humanas estão
impregnadas pela natureza circundante, porque a sentem e percebem como uma
realidade que integra a sua sociedade e cultura, como um prolongamento do seu
corpo pessoal, familiar e de grupo:
Aquele
luzeiro se aproxima
revolteiam os beija-flores
mais do que a cascata troa meu coração
com esses teus lábios regarei a terra
possa o vento jogar em nós.
revolteiam os beija-flores
mais do que a cascata troa meu coração
com esses teus lábios regarei a terra
possa o vento jogar em nós.
Isto multiplica o
efeito desintegrador do desenraizamento que vivem os indígenas forçados a
emigrar para a cidade, procurando sobreviver, por vezes de forma não digna, no
meio dos costumes urbanos mais individualistas e dum ambiente hostil. Como
sanar um dano tão grave? Como reconstruir estas vidas desenraizadas? À vista
desta realidade, é preciso valorizar e acompanhar todos os esforços que fazem
muitos destes grupos para preservar os seus valores e estilo de vida e
integrar-se nos contextos novos sem os perder, antes pelo contrário
oferecendo-os como uma própria contribuição para o bem comum.
Cristo redimiu o ser
humano inteiro e deseja recompor em cada um a sua capacidade de se relacionar
com os outros. O Evangelho propõe a caridade divina que brota do Coração de
Cristo e gera uma busca da justiça que é inseparavelmente um canto de
fraternidade e solidariedade, um estímulo à cultura do encontro. A sabedoria do
estilo de vida dos povos nativos – mesmo com todos os limites que possa ter –
estimula-nos a aprofundar tal anseio. Por esta razão, os bispos do Equador
solicitaram um novo sistema social e cultural que privilegie as relações
fraternas, num quadro de reconhecimento e valorização das diferentes culturas e
dos ecossistemas, capaz de se opor a todas as formas de discriminação e domínio
entre os seres humanos.
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