É preciso indignar-se,
como se indignou Moisés, como Se indignava Jesus, como Se indigna Deus perante
a injustiça. Não é salutar nos habituar ao mal; faz-nos mal permitir que nos
anestesiem a consciência social, enquanto um rasto de delapidação, inclusive de
morte, por toda a nossa região, (…) coloca em perigo a vida de milhões de
pessoas, em especial do habitat dos camponeses e indígenas. Os casos de
injustiça e crueldade verificados na Amazônia, ainda durante o século passado,
deveriam gerar uma profunda repulsa e ao mesmo tempo nos tornar mais sensíveis
para também reconhecer formas atuais de exploração humana, violência e morte.
Por exemplo, a propósito do passado vergonhoso, recolhamos uma narração dos
sofrimentos dos indígenas da época da borracha na Amazônia venezuelana:
“Os nativos não recebiam dinheiro, mas
apenas mercadorias, e caras, que nunca acabavam de pagar. Pagava, mas diziam ao indígena: “Ainda estás a
dever tanto” e o indígena tinha que voltar a trabalhar. Mais de vinte aldeias
ye’kuana foram completamente arrasadas. As mulheres ye’kuana foram violadas e
seus seios cortados; as grávidas desventradas. Aos homens, cortavam os dedos
das mãos ou os pulsos, para não poderem navegar (...), juntamente com outras
cenas do sadismo mais absurdo”.
Esta história de
sofrimento e desprezo não se cura facilmente. E a colonização não para; embora
em muitos lugares se transforme, disfarce e dissimule, todavia, não perde a sua
prepotência contra a vida dos pobres e a fragilidade do meio ambiente. Os
bispos da Amazônia brasileira recordaram que a história da Amazônia revela
que foi sempre uma minoria que lucrava à custa da pobreza da maioria e da
depredação sem escrúpulos das riquezas naturais da região, dádiva divina para
os povos que aqui vivem há milénios e os migrantes que chegaram ao longo dos
séculos passados.
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