Os testemunhos que chegaram
até nós falam de pessoas honestas e exemplares, cujo martírio selou uma vida
repleta de trabalho, oração e compromisso religioso nas suas famílias,
paróquias e congregações religiosas. Muitos deles gozavam já em vida de fama de
santidade entre os seus coetâneos. Pode dizer-se que os seus comportamentos
exemplares foram como que uma preparação para essa confissão suprema da fé que
é o martírio.
Quantos exemplos de
serenidade e esperança cristã! Todos estes novos Beatos e muitos outros
mártires anónimos pagaram com o seu sangue o ódio à fé e à Igreja, desencadeado
com a perseguição religiosa e o rebentar da guerra civil, essa grande tragédia
vivida na Espanha durante o século XX. Ao longo daqueles terríveis anos muitos
sacerdotes, religiosos e leigos foram assassinados simplesmente por serem
membros ativos da Igreja. Os novos beatos que hoje sobem aos altares não
estiveram implicados em lutas políticas ou ideológicas, nem quiseram entrar
nelas. Sabei-lo bem muitos de vós, que sois familiares seus e hoje participais
com grande alegria nesta beatificação. Eles morreram unicamente por motivos
religiosos.
Agora, com esta
solene proclamação de martírio, a Igreja deseja reconhecer naqueles homens e
mulheres um exemplo de valentia e constância na fé, auxiliados pela graça de
Deus. Eles são para nós, ao mesmo tempo, modelo de coerência com a verdade
professada e honram o nobre povo espanhol e a Igreja.
Papa
João Paulo II – Homilia de Beatificação – 11 de março de 2001
Mariano Climent
Sanchís, nasceu em Puzol, diocese e Província de Valência, no dia 08 de janeiro
de 1856. Era filho de Mariano Climent e Mariana Sanchis. Bem cedo ficou órfão
de pai e mãe. Sua tia materna, Josefa Sanchis, o adotou e educou cristãmente.
Prestou serviço
militar, chegando a participar da guerra Carlista. Terminada esta, entrou na
Ordem dos Capuchinhos como frade não clérigo, vestindo o hábito aos 13 de junho
de 1880, em Massamagrell. Emitiu a profissão temporária aos 14 de
junho de 1881 e a perpétua aos 17 de junho de 1884, com o nome de Frei Fidelis.
A figura
franciscana de Frei Fidelis de Puzol recorda a dos santos frades não clérigos
capuchinhos. Entrando no convento com idade madura, sua vocação não foi,
portanto, fruto das loucuras próprias de uma idade jovem. Empenharam-se durante
anos como porteiros, esmoleres, hortelãos, sacristãos, cozinheiros... trabalhos
que requerem uma constituição física robusta. Além disso, eram homens de vida
de fé, oração profunda, devotos da Virgem, obedientes e submissos em tudo,
silenciosos, penitentes, austeros... Frei Fidelis, ao longo de sua vida
religiosa passou pelos conventos de Barcelona, Totana, Orihuela, Massamagrell e
Valência, trabalhando como porteiro, cozinheiro, assistente do Seminário
Seráfico, companheiro do Ministro Provincial.
Eis um pequeno
retrato de como o recordam os religiosos: “era de temperamento quieto e
aprazível. Não se perturbava por nada e seu aspecto era sempre sorridente.
Consideravam-no com grande apreço e boa fama, tanto os religiosos como todos os
fiéis. Cumpria muito bem suas obrigações e a Regra da Ordem. Era um homem todo
de Deus. Rezava continuamente. Tinha sempre o rosário às mãos e era muito
devoto da Virgem. Tinha fama de santo”.
Quando foi fechado
o convento de Valencia, Frei Fidelis buscou refúgio em Puzol, na casa de uns
familiares, onde, devido à sua idade avançada (82 anos) não saía de casa, pois
enxergava pouco. Ali permaneceu sereno, ocupando-se da oração, quando foi
detido ao entardecer do dia 27 de setembro, por membros do Comitê Local,
com o pretexto de levá-lo ao asilo das "Irmãs dos pobres" de Sagunto,
levando-o pela estrada principal de Barcelona até o distrito municipal de
Sagunto, onde na entrada da casa "Laval de Jesus" foi assassinado.
Foi a caseira desta
casa que advertiu sobre a presença de um cadáver na entrada, que há dois dias
estava ali, aguardando sepultura. Era o corpo de Frei Fidelis. Foi sepultado no
cemitério de Sagunto, junto a outros corpos, no entanto seus restos mortais não
puderam ser identificados.
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